A China começa a ver o fim do túnel após o coronavírus parar o país. A boa notícia é o país registra poucos novos casos e começa a recuperar sua economia, após uma quarentena de seis semanas, algo significativo para uma das maiores economias do mundo.
É cedo para falar que tudo está normal por lá, mas os sinais já aparecem e mostram como afetaram a mobilidade e o mundo automotivo. Observar o que está acontecendo na China nos dá uma perspectiva de como será o amanhã não só no Brasil, como no resto do mundo – principalmente a Itália, o país mais afetado pelo vírus no momento.
A paralisação forçada de cada país terá uma repercussão inevitável. A indústria automotiva nacional já está vendo isso, com o fechamento de todas as fábricas pelo período de, no mínimo, 15 dias. Isso irá afetar também os concessionários, sendo que muitos já estão parando suas operações pelo mesmo período que as fábricas. Neste cenário de recessão, o mercado automotivo chinês mostra o que podemos esperar, desde a queda brusca nas vendas e, agora, os primeiros sinais de recuperação na parte industrial.
Por outro lado, não podemos esquecer que a pandemia também reduz o ritmo de recuperação da China. O fechamento das fábricas no resto do mundo atrapalha a cadeia, fazendo com que a China, a maior produtora de componentes para automóveis, não tenha para quem entregar o seu estoque. Atualmente, as fábricas chinesas trabalham com 50% a 60% de sua capacidade total.
No entanto, devemos notar que tanto a forma do contágio no país quanto as peculiaridades do mercado automotivo chinês são tão únicos que não é fácil esperar uma evolução semelhante em todos os outros países. Para começar, estamos falando do país que tem a maior indústria automotiva do mundo, com mais de 21,3 milhões de veículos fabricados em 2019 (9,3% do PIB chinês), e quase todos foram vendidos para o mercado local. Em segundo lugar, a República Popular da China tem uma ordem política, jurídica, econômica e social diferente dos países ocidentais, e isso também afeta a evolução na crise.
Neste contexto, as vendas na China em fevereiro de 2020 impressionam: apenas 224 mil veículos foram vendidos, contra as 1.219.500 unidades comercializadas no mesmo mês de 2019. Isso é uma queda de 81,63%, o pior resultado na história do país. No acumulado do ano até fevereiro, a queda foi de 43,54% comparado com o primeiro bimestre de 2019.
A Associação Chinesa de Fabricantes Automotivas (CAAM), não divulgou os números atualizados de sua projeção para este ano. Mas a Associação de Carros de Passeio da China (CPCA) adianta que o mercado do país terá uma retração de 10% em 2020. Esta projeção, reportada pelo site Automotive News China, pode parecer otimista, mas ela teria sido baseada nos dados estatísticos fornecidos pela associação das concessionárias. Segundo a Reuters, a CPCA também afirma que as vendas na 1ª quinzena de março mostram que o mercado teve uma queda de 47% em comparação a 2019, o que ainda é uma melhora se comparado a fevereiro.
Estamos vendo uma queda semelhante aqui no Brasil. No começo de março, o mercado registrou 12 mil unidades diárias, caindo para 7 mil veículos no dia 20. A tendência é que caia ainda mais, com cada vez mais estados declarando quarentena e pedindo que os comércios fechem.
2020 | 2019 | Diferença em % | |
Janeiro |
1,607,000 |
2023700 | -20.59% |
1ª quinzena de fevereiro | 4,909 | 59930 | -91.81% |
Fevereiro | 224,000 | 1219500 | -81.63% |
1ª quinzena de março | ND | ND | -47% |
Então vamos ser mais específicos e ver o que acontece nas concessionárias chinesas. A CPCA afirma que 91% das concessionárias já reabriram as portas. Porém, um dos maiores lojistas do país diz que a presença dos clientes caiu 53% comparado com os níveis pré-coronavírus. A pesquisa, publicada pelo Automotive News, é ainda mais detalhada e mostra o resultado por marcas.
As concessionárias de carros chineses reclamam que a movimentação caiu para 35% comparado com o período “normal”, enquanto as lojas de marcas estrangeiras estão em 54% e as fabricantes de luxo registram 57% da quantidade normal de clientes. Em entrevista ao Al Jazeera, um gerente de vendas da GAC Motors (não confunda com a JAC) disse:
“No começo, quando reabrimos, recebíamos dois ou três grupos de pessoas todos os dias. Agora tem mais, talvez cinco grupos. A cada dia que passa, sempre há um pequeno aumento de atividade, já que várias concessionárias voltaram a operar e cada vez mais clientes querem retornar aos showrooms.”
Outra pesquisa interessante foi a que a Ipsos fez pela internet com potenciais clientes de carro na China, para entender como o coronavírus mudou as opiniões e os hábitos de compra. Foram entrevistadas 1.620 pessoas no final de fevereiro, destacando alguns aspectos que são significantes na mudança de percepção do público.
Para começar, 66% de todos os entrevistas dizem que darão mais preferência a usarem seus próprios carros do que ônibus, metrô e táxi. O mesmo medo do contágio levou a 72% das pessoas a dizerem que o Covid-19 fortaleceu suas intenções de comprar um carro porque “o risco de ser infectado ao dirigir é menor” e porque eles não confiam mais no transporte público.
Uma maneira de comprar carros é pela internet, modalidade que já estava crescendo e deve acelerar por conta do medo de pegar o vírus. A pesquisa da Ipsos mostra que a tendência é que haja cada vez menos concessionárias físicas, substituídas por lojas online, pois a maioria dos entrevistados disseram que preferem showrooms online e configuradores com realidade virtual ou aumentada.
A mesma preferência apareceu ao perguntar sobre serviços de assistência pós-venda, seja ela por atualizações online (no caso da multimídia), feita diretamente na casa do cliente ou por um serviço de busca e entrega do veículo. Obviamente, os serviços de higienização e desinfecção também foi muito citado, mostrando uma mudança no hábito de limpeza do carro.
Quanto mais tempo a indústria automotiva ficar parada, pior serão as consequências para a economia global e para o setor. Esta variável, que envolve a duração da crise da saúde, economia e social, é fundamente para entender qual será o futuro do carro. Um dos principais medos é que a parada forçada da indústria e a recessão econômica que virá em seguida causem um efeito dominó, gerando a perda de milhões de empregos no setor automotivo em todo o mundo.
Em tempos de crise e depressão econômica, o carro vai para segundo plano, por não ser um item de necessidade básica. Então só podemos cruzar os dedos e esperar que a pandemia seja resolvida o mais rápido possível para minimizar os impactos. E, para que isso aconteça, é necessário que todos fiquem em casa neste momento.
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