Após passar pela Argentina, onde admitiu que o 207 brasileiro foi um erro, o CEO da Peugeot Jean-Philippe Imparato veio ao Brasil e se reuniu na noite desta quarta-feira (30) com alguns jornalistas (Motor1.com incluso) para falar um pouco sobre o posicionamento da marca por aqui e os lançamentos que virão nos próximos anos, como a inédita picape média e a nova geração do 208. Confira a seguir os trechos mais importantes da entrevista:
Picape anti-Hilux
A Peugeot já havia anunciado na Fenatran que venderia uma picape no Brasil nos próximos anos. Já sabemos que será a versão Peugeot da Changan Kaisheng F70 (foto abaixo), cujo projeto foi desenvolvido em conjunto pelas duas marcas. Mas Imparato deu mais alguns spoilers. Internamente chamada de "picape de 1 tonelada", ela teve como inspiração a Toyota Hilux. "É a referência do segmento em termos de robustez e capacidade", disse o executivo, indicando que o posicionamento da picape Peugeot será para uso rural, e não somente para passear na cidade. Ela terá construção de carroceria sobre chassi de longarinas (como as médias atuais) e motorização a diesel (esta confirmada apenas como "um motor da Peugeot"). Perguntado sobre uma possível versão híbrida, que a Hilux vai ganhar na próxima geração, Imparato disse que não está nos planos, justamente por ser um modelo mais dedicado ao uso pesado, onde o diesel ainda domina as ações.
Pela primeira vez, o CEO falou sobre a revelação do modelo final: "Será em março de 2020, na África", uma das regiões onde a picape será vendida. Mas a América do Sul será a primeira a tê-la nas lojas, em 2021. "No Brasil, chega daqui a dois anos", antecipou. Ou seja, possivelmente deve ser lançada antes na Argentina ou Uruguai (países mais cotados para sua produção) para depois chegar aqui até o fim de 2021. Sobre entrar num mercado já dominado por nomes como Hilux, S10 e Ranger, Imparato disse que ainda há espaço. "São apenas cinco players nesse segmento, muito menos que o de SUVs, por exemplo".
Novo 208
Jean-Philippe também revelou que a picape será o segundo dos quatro lançamentos que a marca vai fazer no Brasil até 2023, um por ano. O primeiro deles será a nova geração do 208, que vai inaugurar a plataforma modular CMP na região. Começara a ser produzido na Argentina no segundo semestre do ano que vem e chegará às lojas brasileiras ainda em 2020.
Novo 208 chega ainda em 2020 vindo da Argentina - e a versão elétrica (foto) pode vir mais adiante
A própria Peugeot já adiantou que o atual 208 será mantido em produção em Porto Real (RJ), dando a entender que a nova geração vai atuar numa faixa de mercado mais acima, fato reforçado pela expectativa de estrear o novo motor 1.2 THP (versão com turbo e injeção direta do atual 3-cilindros) com 130 cv e câmbio automático, na versão de topo GT Line.
Uma das atrações do novo 208 na Europa é a versão elétrica e-208, que também pode vir para cá. "Basta ter demanda que nós iremos trazer, já temos a tecnologia, a plataforma, o produto...". Segundo Imparato, a eletrificação é um caminho sem volta, mas ainda pode demorar em algumas regiões. "Se você me perguntasse se eu acredito nos carros elétricos na Europa dois anos atrás, eu diria 'não sei'. Mas hoje eu tenho certeza". Agora resta saber como será a evolução dos elétricos por aqui.
Além do 208, a Peugeot também deverá fazer na Argentina a nova geração do SUV 2008, que seria então o terceiro lançamento dos quatro previstos, este em 2022. O quarto, para 2023, ainda é uma incógnita.
Participação de mercado
"Eu não ligo para market-share", desdenhou Imparato, dizendo que o importante é ter as contas da empresa no azul. "Não trabalhamos com esse 'peso' do volume em nossas costas, eu prefiro ter uma boa imagem, oferecendo carros completos e com qualidade, do que números de venda. Prova disso é que a maior parte das vendas da Peugeot na Europa são das versões de topo GT Line. Não me importa se somos líderes de mercado, mas sim se estamos dando lucro".
Novo 2008 deve ser o terceiro dos quatro lançamentos previstos, chegando ao Brasil em 2022
No Brasil, a Peugeot já foi bem maior em termos de market-share, principalmente quando vendia o 206 na categoria dos populares. Pelo posicionamento atual da empresa, isso não deve voltar a acontecer. Em 2019, a marca tem apenas 0,84% de participação no acumulado até setembro. Embora não seja a prioridade, é óbvio que os próximos lançamentos visam aumentar esses números. E a margem de lucro, claro.
Fotos: divulgação