Tudo ao mesmo tempo agora! É meio como se sente um fã de BMW ao se deparar com o 225i Active Tourer. Ele tem cara de BMW, mas, espera aí, por que esta carroceria monovolume? Ele tem interior de BMW, mas olha esse espaço no banco de trás! Ele acelera como BMW, mas cadê a tração traseira? Você pode até não dar muita importância para este carro em específico, pois estamos falando de um rival para o Mercedes Classe B, uma categoria que não vende grandes coisas no Brasil. Mas é melhor prestar atenção: é daqui que sairão todos os carros de entrada da BMW num futuro próximo - já veio o novo X1 e depois virão o Série 2 Sedan e o novo Série 1 hatch.
Novo Série 1 hatch já? Sim, o atualmente único hatchback de tração traseira do mundo tem seus dias contados (embora tenha sido reestilizado recentemente). Acontece que a BMW levou a sério a pesquisa que dizia que mais da metade dos donos de Série 1 achavam que o carro tinha tração dianteira - e agora ele vai ter mesmo, por questão de custos e racionalidade. A plataforma de motor transversal e tração nas rodas da frente é a chamada ULK, já usada nos novos MINI Cooper. Ela prevê até o uso de motores 3-cilindros turbinados (1.2 e 1.5 litro), mas por aqui a BMW preferiu pegar leve na mudança de conceitos e só vai oferecer o Active Tourer na versão 225i num primeiro momento. Ele chega por R$ 178.950 com propulsor 2.0 turbo de 231 cv e 35,7 kgfm de torque - basicamente o mesmo do 328i Active Flex nacional, mas em posição transversal e movido apenas a gasolina. O câmbio é automático de oito marchas com borboletas no volante, mas de fabricação Aisin, e não ZF como nos demais BMW.
Visualmente o Active Tourer entrega o que se espera de um carro da marca, com a dianteira bem imponente marcada pela grade "duplo rim" e os faróis com os "angel eyes" - ainda que fique devendo as luzes de xenônio. O formato monovolume até que não deixou o teto muito alto, de modo que o 225i quase passa por uma perua bem assentada ao solo. O legal é que o acesso à cabine ficou excelente, com grande ângulo de abertura das portas e altura perfeita do banco, enquanto o espaço interno é surpreendente para um BMW deste tamanho. O banco traseiro tri-partido acomoda três adultos com conforto e a ausência do eixo cardã atravessando a cabine amplia a área dos pés do quinto ocupante. Fora isso, os assentos traseiros correm sobre trilhos, podendo aumentar o porta-malas de já bons 468 litros. Ah, e a tampa traseira tem abertura/fechamento elétrico.
Para quem dirige, a novidade em relação ao Série 1 que conhecemos é a posição mais elevada do banco (mesmo no ajuste mais baixo) e o volante de formato inédito. A cabine é bonita e bem desenhada, um passo à frente do 118i e até do 320i em modernidade e escolha de materiais. Nosso carro tinha revestimento interno de couro bege e forração toda bege clara, o que fica muito bonito quando novo, mas dá pena só de pensar que este é um carro para levar a criançada... A visibilidade é ampla por conta da grande área envidraçada, algo também estranho num BMW, que costuma ser baixo e ter a linha de cintura elevada.
Colocamos o câmbio em Drive e... estamos sendo puxados em vez de empurrados! É estranho sentir isso vendo o logotipo "BMW" ali no volante à sua frente, mas é questão de costume. Mesmo com perfil familiar, o 225i tem suspensão firme e direção bem direta, não negando seu parentesco com o MINI Cooper. Os freios também são fortes e representados por um pedal firme, fácil de dosar. Acelere e você nunca dirá que está dirigindo uma minivan.
As respostas do motor são fortes e o câmbio trabalha com precisão na escolha de marchas, mesmo usando o modo de condução Eco Pro, que em teoria joga marchas altas a qualquer momento. No modo Sport, o 225i chega a ser brusco nas acelerações e retomadas, mostrando que, afinal, ele tem mais potência e o mesmo torque de um Golf GTI. Por conta do pouco tempo que tivemos com o carro não foi possível realizar nossas medições, mas não há muito do que duvidar dos números de fábrica: no campo das sensações, esse BMW parece ficar bem perto dos 6,6 s de 0 a 100 km/h e da máxima de 240 km/h informados pela fabricante. Já o consumo variou de 8 km/l na cidade a 14 km/l na estrada, dirigindo com o pé leve - lembrando que esta versão é movida somente a gasolina.
Performance OK, mas e o comportamento do primeiro BMW de tração dianteira e sem a divisão perfeita de peso 50/50? Sem motivo para chororô, o 225i anda em alta velocidade e faz curvas grudado na pista como um bom hatch alemão, mesmo sendo um monolume. A diferença, claro, fica por conta das escorregadas no limite da aderência, que passam a ser de frente e não mais de traseira, como no Série 1 hatch. Ficou menos divertido? Sem dúvida, mas não é muito diferente de Golf GTI e Mercedes Classe A, nem de Audi A3. O preço a se pagar por tal firmeza é a suspensão com molas de "concreto", feita para pisos europeus. Em asfalto liso ela vai bem, mas em nossas ruas remendadas e com tampas de bueiro rebaixadas ela bate tão seca que parece que o carro vai desmontar. Chega a doer na alma.
Não há, então, motivos para se duvidar da capacidade da BMW de fazer carros que dão prazer ao dirigir mesmo abrindo mão da tração traseira. O Active Tourer pode ser jogado de um lado para o outro numa serra, tal qual um bom hatch esportivo. Nós sentiremos falta do Série 1 hatch de tração traseira (tomara que os usados baixem de preço!), mas o futuro dos compactos da marca bávara ainda parece em boas mãos.
Por Daniel MessederFotos: BMW
Ficha Técnica – BMW 225i Active Tourer
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.997 cm³, turbo, injeção direta, flex; Potência: 231 cv de 4.750 rpm a 6.000 rpm; Torque: 35,7 kgfm a 1.250 rpm; Transmissão: câmbio automático de oito marchas, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e independente multibraço na traseira; Freios: discos nas quatro rodas com ABS e EBD; Rodas: aro 18″ com pneus 225/45 R18; Peso: 1.505 kg; Capacidades: porta-malas 468 litros, tanque 61 litros;Dimensões: comprimento 4.342 mm, largura 1.800 mm, altura 1.555 mm, entre-eixos 2.670 mm
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Galeria: Avaliação: 225i Active Tourer - minivan de tração dianteira não deixa de ser BMW