Meu avô sempre dizia que não valia a pena comprar as primeiras unidades de um novo carro. "Sempre vêm com alguns problemas, é melhor esperar um pouco", alertava ele. Sábias palavras: por mais que a tecnologia e o processo produtivo tenham evoluído bastante nas últimas décadas, a produção em massa e a pressão por novidades a todo instante têm como resultado o número histórico de recalls, como aconteceu em 2014. OK, mas o que o Uno Dualogic tem a ver com essa história?
Bem, o fato é que o Uno está na melhor safra desde que a nova geração foi lançada, em 2010. Não apenas pelo interior mais refinado, mas também pela parte mecânica: a Fiat finalmente acertou a mão com o câmbio Dualogic! Podemos afirmar que o Uno Sporting é, hoje, o melhor automatizado de embreagem simples do mercado nacional. Mas para chegar a esse estágio a marca apanhou bastante, chegando inclusive a convocar recall de alguns modelos equipados com o sistema.
Conduzido sem pressa, o Uno mostrou passagens suaves, feitas quase sempre na hora que você deseja. Aqueles solavancos característicos dos automatizados monoembreagem foram bem atenuados. No anda-e-para do trânsito urbano, ele quase passa por um automático comum. Os trancos só aparecem quando aceleramos fundo, condição em que as reduções são mais bruscas. Fora isso, o Dualogic mantém a diversão de poder fazer as mudanças pelas borboletas no volante, com reduções acompanhadas de animadas subidas de giro.
Daí a chamar este Uno de esportivo, porém, vai uma longa distância. E a aceleração de 0 a 100 km/h em 14,5 s obtida em nossas medições deixa isso claro - lembrando que esta transmissão não deixa sair com o giro alto, daí a perda de tempo na largada. Se quiser uma condução mais animada, use direto o modo Sport do câmbio (que estica as marchas), pois do contrário ele faz trocas cedo, favorecendo a economia de combustível. Mas, para combinar com o visual invocado do Sporting, só mesmo se o motor 1.6 16V E-TorQ (117 cv e 16,8 kgfm) oferecido no Palio estivesse no lugar do esforçado 1.4 8V Evo (88 cv e 12,5 kgfm) que temos aqui.
Não que a gente não tenha gostado deste Uno. Além do estilo invocado, com direito a saída de escape central e rodas de liga "quadradas" (em alusão ao desenho do miolo das rodas), o Sporting agrada pelo interior com acabamento preto (nas colunas e revestimento do teto), que dá um ar mais sofisticado em conjunto com a cobertura de material macio que atravessa o painel.
Além disso, o visor LCD no quadro de instrumentos dá ideia de um carro de categoria superior, reunindo diversas informações desde o computador de bordo até um velocímetro digital. Também é legal a câmera de ré que mostra sua imagem no retrovisor interno. O que não curtimos muito foram os botões para comandar o câmbio. Numa Ferrari, de uso restrito, o recurso pode até ser charmoso, mas num carro de uso diário como o Uno não é muito prático - seria melhor a velha e boa alavanca, principalmente durante as manobras de estacionamento.
Outra característica que agrada no Sporting é o acerto de suspensão mais firme, que atenua de forma considerável a inclinação do hatch nas curvas, ajudado pelas rodas aro 15" com pneus 185/60. A direção também é rápida e as borboletas no volante deixam as coisas mais lúdicas numa estrada de montanha. Mas a verdade é que falta motor para esse Uno empolgar, e as frenagens não foram boas para um modelo com sobrenome esportivo. Ou seja, o ideal seria que a Fiat oferecesse o câmbio Dualogic também no Uno 1.4 comum (existe apenas no Sporting e no Way), dando a opção para o consumidor de aposentar o pé esquerdo gastando menos. O Sporting automatizado parte de salgados R$ 44.779.
Feita essa observação, o Uno Dualogic deixa boa impressão nesta despedida do Garagem. Aliás, foi a maior avaliação que já fizemos até hoje, revezando por mais de dois meses quase todas as versões do Uno 2015 - Attractive 1.0, Way 1.4, Evolution 1.4 (com start-stop) e este Sporting Dualogic. O resumo do que aconteceu durante o período de testes a gente publica em breve!
Texto e fotos: Daniel Messeder
Ficha técnica
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8 válvulas, comando variável na admissão, 1.368 cm³, flex; Potência: 85/88 cv a 5.750 rpm; Torque: 12,4/12,5 kgfm a 3.500 rpm; Transmissão: câmbio automatizado de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos sólidos na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: liga-leve aro 15″ com pneus 185/60 R15;Peso: 1023 kg; Capacidades: porta-malas 280/290 litros, tanque 48 litros; Dimensões: comprimento 3.811 mm, largura 1.636 mm, altura 1.480 mm, entre-eixos 2.376 mm
Aceleração
0 a 60 km/h: 6,1 s
0 a 80 km/h: 9,9 s
0 a 100 km/h: 14,5 s
Retomada
40 a 100 km/h em Drive: 11,1 s
80 a 120 km/h em Drive: 11,6 s
Frenagem
100 km/h a 0: 45,9 m
80 km/h a 0: 28,9 m
60 km/h a 0: 15,8 m
Consumo
Ciclo cidade: 7,8 km/l
Ciclo estrada: 10,7 km/l
Galeria de fotos:
Galeria: Garagem CARPLACE#7: Melhor Dualogic, Uno Sporting se despede na pista