Um amigo em visita a Vancouver, no Canadá, manda fotos de uma das novidades mais aguardadas pelo mercado brasileiro: a picape Rampage!

Calma, não é bem isso... A picape das fotos não é a nova Ram Rampage (que já começa a ser produzida na fábrica da Stellantis em Pernambuco) mas sua avó feita nos Estados Unidos. Um belo gancho para contar a história de um nome que é total novidade no Brasil mas já foi usado - pelo breve período de 1982 a 1984 - em um modelo "made in USA".

Dodge Rampage fotografada em Vancouver

Dodge Rampage fotografada em Vancouver

O MAIOR BODE

Nossa história começa no fim dos anos 1970. A essa época, Ford e General Motors dominavam o mercado norte-americano das picapes derivadas de carros de passeio. Primeiro (em 1957) veio a Ford Ranchero e, logo depois (em 1959), veio a rival Chevrolet El Camino. Em comum, ambas tinham caçamba integrada à carroceria. Eram baixas, de rodar confortável e estilo muito mais charmoso que a dos veículos comerciais comuns.

A Chrysler, contudo, demorou um bocado a se meter nessa briga. Nos Estados Unidos, quem quisesse uma picape do grupo (com as marcas Dodge, Fargo ou DeSoto), tinha que se contentar com modelos convencionais caminhonescos, com chassi separado da carroceria.

E era nessa categoria de picapes full-size que se enquadrava a Dodge Ram de primeira geração, lançada no finalzinho de 1980. O modelo fora batizado por Lee Iacocca, então presidente da Chrysler Corporation: "Ram" significa carneiro em inglês. No caso, um carneiro-selvagem de chifres grandes e retorcidos, habitante das montanhas do leste dos Estados Unidos.

Esse animal adornava a dianteira dos automóveis e picapes Dodge desde 1932 e fora ideia do escultor Avard Fairbanks, contratado pelo grupo Chrysler para bolar uma mascote de radiador. A escolha se deu pois o tal carneiro montês era “mestre da trilha e não tinha medo nem mesmo das feras mais selvagens”.

À ESPERA DE UM ALVOROÇO

Pois bem: quando a primeira picape Dodge Ram full-size chegou às lojas, a Chrysler Corporation já preparava uma irmãzinha menor e pretensamente esportiva. Era a Rampage ("alvoroço", em português), produzida a partir de 1982 na fábrica de Belvedere, Illinois.

Dodge Rampage '1982–84

Dodge Rampage '1982–84

A Dodge Rampage era diferente de todas as picapes que a Chrysler fizera até então - e aí veremos algumas semelhanças de projeto com a futura Rampage brasileira... Para começar, tinha estrutura monobloco e era feita sobre a plataforma de um carro de passeio com motor transversal de quatro cilindros. E, para completar o desespero dos rednecks, tinha tração dianteira!

Dodge Rampage 1982–84

Dodge Rampage 1982–84

DE SIMCA NA FRANÇA A PICAPE NOS EUA  

O carro de passeio que dera origem à Rampage era o cupê esportivo Dodge Omni 024 que, por sua vez, era um derivado do Simca Horizon - um hatch compacto francês lançado pela Chrysler em 1978, poucos meses antes de o grupo americano vender suas operações europeias para a Peugeot. Sentiram o drama?

Em meio à segunda crise do petróleo, a Chrysler Corporation pegou a plataforma L do Horizon/Omni, manteve a frente e todo o trem dianteiro do esportivinho Omni 024, esticou entre-eixos em 19 centímetros e, da coluna B para trás, abriu uma caçamba. Nascia aí a primeira Dodge Rampage, com seus 4,67 metros de comprimento - medida diminuta para o padrão americano. Um "mini truck", na definição dos gringos.

Na dianteira foi mantida a suspensão McPherson, enquanto a traseira ganhou feixes de molas. O motor era o mesmo do Omni 024: um quatro-em-linha carburado de 2,2 litros desenvolvido pela Chrysler para seus compactos K-cars. Na Rampage, essa mecânica rendia inicialmente 85 cv. O conjunto era completado por um câmbio automático de três marchas, donde se pode depreender seu pífio desempenho.

Dodge Shelby Street Fighter Rampage Concept

Dodge Shelby Street Fighter Rampage Concept

Tempos depois, com a chegada da injeção eletrônica e um trato da Shelby, o motor passou a render 99cv. Além disso, veio a opção de caixa manual de cinco marchas - o que deu à picapinha um vigor mais compatível com sua aparência esportiva.Quem guiou diz que o acerto de chão era ótimo.

A Rampage, diga-se, tinha capacidade para transportar 520 quilos. Levava, portanto, um pouco mais de carga que sua maior rival, a VW Rabbit Pickup (derivada do Golf Mk1). Em 1983, num exercício de "badge engineering", a Dodge Rampage ganhou uma irmã gêmea, a Plymouth Scamp. No anos seguinte, veio um retoque estético em suas linhas angulosas. Houve até o protótipo de uma versão realmente braba: a Street-Fighter, com motor turbo.  

Nada disso, porém, foi suficiente para fazer as vendas da picapinha decolarem. Após três anos em linha e com 41 mil exemplares produzidos, a Rampage foi retirada de linha em 1984.

NOVO CONCEITO

A Chrysler não desistiu do nome e chegou a mostrar o protótipo Dodge Rampage Concept no Salão de Chicago de 2006. Seria, segundo os criadores, "uma picape para quem ainda não tem picape". Tinha porte bem maior que o da Rampage dos anos 1980, motor V8 Hemi de 5,7 litros e bancos que podiam ser basculados e "sumiam" sob o assoalho.

Dodge Rampage Concept 2006
Dodge Rampage Concept 2006
Dodge Rampage Concept 2006

Agora, a Rampage terá um nova chance, desta vez na América do Sul.

*Embora não tenha sido confirmado oficialmente, o nome Rampage para batizar a nova picape brasileira foi antecipado com exclusividade por Marlos Vidal, do site Autos Segredos

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