Por muitas décadas, ter um carro automático na garagem era sinal de luxo. Aposentar o pedal da embreagem era exclusividade de modelos mais caros, de luxo, muitas vezes importados e de segmentos superiores. Em 2007, a Chevrolet apresentou a Meriva Easytronic, uma solução que prometia aposentar o pedal da embreagem sem o valor dos automáticos.
Depois vieram a Fiat com o Dualogic (mais tarde rebatizado de GSR), a Volkswagen com o I-Motion e a Renault com o EasyR. O sistema automatizado de monoembreagem é, em simples palavras, um sistema de câmbio manual com atuadores hidráulicos que fazem o acionamento da embreagem e a troca da marca - quase um robô no lugar do motorista para essa função. O erro estava em tentar vendê-lo como um automático.
Galeria: Teste Fiat Argo Drive GSR Motor1 BR
Trancos e barrancos
Esse "robô" que fazia as trocas de marchas não era muito habilidoso. Para quem nunca teve contato com um carro automático, o automatizado monoembreagem era interessante, pois o fato de não precisar acionar embreagem e fazer a troca era vantajoso. Lidava com trancos, trocas lentas e algumas indecisões - existia a opção de trocas manuais, pela alavanca ou aletas no volante, mas ainda assim eram lentas. Veja quais modelos usaram o câmbio automatizado monoembreagem no Brasil:
- Fiat: Linea, Stilo, Palio, Idea, Punto, Palio Weekend, Siena, Bravo, 500, Argo, Cronos, Uno, Mobi, Grand Siena
- VW: Fox, Gol, Polo, Polo Sedan, SpaceFox, Up, Voyage
- Chevrolet: Meriva, Agile
- Renault: Sandero, Logan
Tirar o pé do acelerador na hora das trocas até ajudava um pouco, mas a experiência do carro automático que o marketing vendia não era exatamente isso. A Chevrolet não demorou para aposentar o sistema e, com o Onix, colocou o câmbio automático com conversor de torque no catálogo mais acessível - Peugeot/Citroën, Honda e Hyundai também foram pelo mesmo caminho.
A Renault foi a última a apresentar um automatizado monoembreagem e que não durou muito tempo. Em 2014, os automáticos já tinham um espaço grande no mercado e a marca francesa, que já tinha Sandero automático na geração anterior, deu um passo atrás com o EasyR. Isso não pegou bem, durou até 2018 e pouco tempo depois colocou o CVT no lugar - que também não durou muito, mas isso mais por culpa dos modelos que da transmissão.
Fiat e VW ainda insistiram e melhoraram o sistema
Percebeu pela lista que Volkswagen e Fiat ainda insistiram no automatizado monoembreagem por um tempo? Pois é, a engenharia das duas marcas investiram um pouco mais de tempo para mantê-lo vivo. Na alemã, precisavam de algo abaixo do DSG, um automatizado de dupla embreagem bem mais moderno, mas caro, que estava em Golf e Passat, que apesar de também ser automatizado, pouco tem a ver com o monoembreagem.
Fiat GSR
VW I-Motion
As trocas foram suavizadas, menos trancos e maior agilidade aproximaram do automático, mas ainda ficava devendo. A Fiat rebatizou o sistema de GSR (Gear Smart Ride) e colocou até mesmo uma programação que patinava a embreagem para dar a sensação de automático ao soltar o freio, por exemplo. Ficou marcado pelos botões seletores no lugar de uma alavanca tradicional e durou até recentemente, com o Cronos no fim de 2020. A VW colocou no Gol e Voyage o automático de 6 marchas fornecido pela Aisin, enquanto a Fiat está na era do CVT, também Aisin.
Vale a pena ter um automatizado?
Por essa fama do automatizado, são modelos desvalorizados no mercado de usados. Isso atrai a atenção de quem procura uma forma de ter um dia a dia mais confortável sem gastar muito. Importante avaliar o funcionamento do sistema, que exige um profissional experiente para a manutenção, além de saber que você não está levando um carro automático para casa. Se entender essa diferença e o carro estiver em bom estado, além de não poder gastar em um automático de conversor, pode ser uma opção.