Apesar do cenário adverso de produção e vendas muito abaixo do necessário para justificar a capacidade de fabricar até 5 milhões de veículos por ano, a maior parte das montadoras instaladas no Brasil parece não ter perdido a confiança de que, um dia, este mercado será bem melhor do que é. A tese é confirmada pelo ciclo de investimentos bilionários já divulgados e que ainda serão anunciados nos próximos meses.
Somando programas ativos anunciados desde 2018, doze fabricantes de veículos têm investimentos combinados no Brasil de R$ 49 bilhões até 2026. Fazendo uma estimativa do que já foi gasto, ainda restam cerca de R$ 37 bilhões a serem aplicados nos próximos cinco anos, incluindo este 2022 na conta.
Desta vez, ao contrário do que aconteceu no início da década passada, praticamente não há mais investimentos em aumento de capacidade produtiva – já mais que suficiente no momento.
Os recursos estão sendo direcionados majoritariamente para desenvolvimento e lançamento de produtos que incorporam novas tecnologias, mais digitalizados e conectados, mas principalmente em linha com a evolução das legislações brasileiras de emissões, eficiência energética e segurança veicular, que obrigam fabricantes a adotar sistemas avançados – o que é bom, mas torna os veículos inevitavelmente mais caros.
Também estão sendo aplicados recursos para modernização de linhas de produção, em muitos casos com adoção de processos de manufatura digital robotizada da Indústria 4.0.
Em boa medida, todos os novos investimentos foram justificados não pelo inexistente crescimento do mercado brasileiro ou das exportações, mas pelos bons resultados e retorno aos lucros na América do Sul.
Pode parecer estranho que usando menos da metade da capacidade de produção instalada e com vendas 33% menores em relação a 2019 as montadoras tenham ganhado mais dinheiro em 2021, mas foi o que aconteceu com a bem-sucedida estratégia de vender menos por preços maiores.
A volta de números positivos ao balanço da América do Sul foi a justificativa da Volkswagen para o novo pacote de R$ 7 bilhões no Brasil e na Argentina, anunciado no fim de 2021, que inclui o projeto Polo Track de lançamento de um novo modelo de entrada, com certeza acima do Gol, montado sobre versão simplificada da plataforma global MQB do Grupo VW.
O mesmo aconteceu com o Grupo Stellantis, que com as marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e Ram conseguiu registrar vistoso lucro operacional de € 882 milhões no ano passado, o que não só sustenta o plano atual de R$ 16 bilhões e uma dúzia de lançamentos até 2025, como também deve garantir novos investimentos antes mesmo do fim do pacote atual.
Sete fabricantes de veículos leves (automóveis e utilitários) já anunciaram programas, novos e em andamento, que somam R$ 30 bilhões a serem aplicados no período 2022-2026. Esse valor deve subir alguns bilhões com anúncios esperados para os próximos meses.
Entre os novos investimentos, a Renault já aprovou um novo plano para o Brasil, ainda sem divulgar valores, que a partir do segundo semestre sucede o programa de curto prazo R$ 1,1 bilhão aplicado nos últimos 12 meses. A montadora informou que vai introduzir em sua linha de produção do Paraná uma nova plataforma, a CMF-B, e construir sobre ela um novo SUV.
É possível que a chegada da nova plataforma também traga investimentos ao país da sócia Nissan, que poderá produzir carros sobre a mesma base em Resende (RJ).
A Toyota finalizou em 2021 ciclo de investimentos no país que somou R$ 6 bilhões em uma década, sendo R$ 1 bilhão aplicado só no último ano para a produção do SUV Corolla Cross em Sorocaba (SP). Rafael Chang, presidente da empresa no Brasil, já declarou que um novo pacote está em estudo e pode ser anunciado ainda em 2022.
Quem já tem um programa de investimento em andamento ainda não anunciado publicamente é a Hyundai, que constrói sua primeira fábrica de motores em Piracicaba (SP), dentro da mesma área onde produz carros desde 2012.
Segundo a fabricante, não foram divulgados valores nem outras informações porque ainda estão pendentes algumas definições junto à matriz, na Coreia, mas dados mais concretos devem ser informados no meio deste ano.
A Honda é outra fabricante que está fazendo investimentos no país, mas prefere ficar em silêncio quanto a valores e direcionamento dos recursos, aplicados sobretudo no desenvolvimento dos já lançados City hatch e sedã e do novo HR-V a ser lançado em breve.
Depois de investir R$ 1 bilhão na sua segunda fábrica brasileira, em Itirapina (SP), que ficou pronta em 2015 mas só começou a operar em 2019 devido à queda do mercado, a Honda enxugou seu portfólio no país, baixou expectativas e não divulgou novos investimentos em sua operação de automóveis.
O Grupo Stellantis também deverá agregar mais recursos ao pacote atual de R$ 16 bilhões no período 2019-2025. É certo que mais dinheiro será necessário diante da intenção anunciada de nos próximos três anos lançar 16 novos modelos produzidos no Brasil e na Argentina, além de 28 reestilizações e sete veículos híbridos e elétricos, incluindo importados e a possibilidade em estudo de produzir híbridos flex no país.
Já existe ao menos um investimento programado para além de 2026: quando tomou posse da fábrica comprada da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), a chinesa Great Wall Motors anunciou que planeja investir R$ 10 bilhões em sua operação no país nos próximos dez anos. Serão os R$ 4 bilhões até 2025 e outros R$ 6 bilhões até 2032. Como até lá muita coisa pode mudar, essa segunda parte nem foi considerada neste levantamento.
Entre as quatro marcas premium que começaram a montar seus carros no país a partir de 2013, o alto valor agregado de seus produtos voltou a justificar a produção local, mesmo que com baixos volumes.
Enquanto no fim de 2020 a Mercedes-Benz fechou a operação de Iracemápolis (SP) e vendeu a fábrica para a chinesa Great Wall um ano depois, a rival BMW anunciou no fim de 2021 novo investimento de R$ 500 milhões para montar mais um modelo em Araquari (SC) e renovar os quatro já montados (X1, X3, X4 e Série 3).
Sem divulgar valores, também no fim de 2021 a Audi anunciou que, depois de mais de dois anos de paralisação, vai retomar a montagem do Q3 em São José dos Pinhais (PR), dentro da fábrica da sócia Volkswagen. O investimento não deve ser alto, tendo em vista que o volume de produção é baixo e os veículos são montados com partes importadas em linha que já está pronta.
Até a JLR, que desde 2016 monta em ritmo de conta-gotas SUVs Land Rover em Itatiaia (RJ) e tinha reduzido a operação local a apenas um modelo, o Discovery Sport, no começo de 2021 anunciou a retomada da montagem do Evoque na unidade, também sem divulgar investimento.
INVESTIMENTOS DE FABRICANTES DE CAMINHÕES E ÔNIBUS |
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DAF |
R$ 395 milhões |
2022-2026 |
- Ampliação da fábrica de Ponta Grossa (PR) |
Iveco |
R$ 1 bilhão |
2022-2025 |
- Desenvolvimento de produtos e atualização da linha de caminhões com uso de motores diesel Euro 6 |
Mercedes-Benz |
R$ 2,4 bilhões |
2019-2022 |
- Novo Actros desenvolvido no Brasil |
Scania |
R$ 1,4 bilhões |
2021-2024 |
- Modernização de fábrica de São Bernardo do Campo (SP) |
VWCO |
R$ 2 bilhões |
2021-2025 |
- Lançamento do caminhão elétrico e-Delivery e desenvolvimento de outros modelos eletrificados |
Volvo |
R$ 1,5 bilhão |
2022-2025 |
- Desenvolvimento e produção em Curitiba (PR) de motores e veículos Euro 6 |
Seis fabricantes de caminhões e ônibus têm programas ativos de investimentos no Brasil, que no período 2019-2026 somam R$ 8,7 bilhões. O valor cai para R$ 6,7 bilhões quando são considerados os valores que ainda serão investidos a partir de 2022. Quase todos os aportes são novos, anunciados entre o fim de 2020 e 2021, e só começaram a ser aplicados agora.
A exceção é o ciclo de R$ 2,4 bilhões da Mercedes-Benz, iniciado em 2019, que já teve R$ 2 bilhões alocados e deve ser finalizado até o fim deste ano. Já se espera por anúncio da fabricante, que estuda um novo plano enquanto executa a conclusão do atual e contabiliza seus resultados.
Graças ao aquecimento do agronegócio brasileiro, a indústria de caminhões está contabilizando os seus melhores resultados dos últimos oito anos, o que justifica todos os investimentos já anunciados pelos fabricantes instalados no país.
A extravagante Ram 3500, segundo informa a fabricante, apenas cinco horas após o lançamento no Brasil no último dia 24 já encontrou 1.109 excêntricos proprietários dispostos a pagar de R$ 485 mil a 510 mil pela espalhafatosa picape, que por aqui tem classificação de caminhão leve, só pode ser dirigida por quem tem habilitação “C” para cima.
O volume de encomendas é mais que o dobro do lote inicial de 400 a 500 picapes Ram 3500 colocadas à venda nas 55 concessionárias que vendem a marca no país, ao lado de modelos Jeep. Ou seja, já há fila de espera para mais de 600 unidades, que poderá se estender por nove a dez meses, assim como já acontece com as Ram 2500 e 1500.
A Ram 3500 é mais uma prova de que há gosto, espaço e dinheiro para qualquer veículo no país, neste caso com endereço certo entre os milionários do agronegócio brasileiro, que podem pagar a picape com seu maior ativo: sacas de soja.
Ainda que muito luxuosa, a picape é um trambolho de 6 m de comprimento, 2,12 m de largura, 2 m de altura e 3,8 m entre eixos, capaz de rebocar um trailer de até 9 toneladas acoplado ao engate quinta-roda no centro da enorme caçamba, que acomoda até 1,7 t de carga. Haja espaço para tudo isso.
O conjunto de peso bruto total de 6,35 t e o possível trailer é puxado pelo também exagerado motor diesel Cummins 6.7 de 377 cv, enquanto cinco pessoas podem aproveitar o espaço de sobra da enorme cabine dupla.
As versões Street da Mercedes-Benz Sprinter, classificadas como modelos comerciais leves, abaixo de 3,5 t de peso bruto total que respondem por cerca de 15% das vendas do utilitário, agora são equipadas com o novo motor OM 654 Euro 6, que atende aos limites da legislação brasileira de emissões Proconve L7, em vigor desde o início deste ano.
O novo motor, importado da Alemanha e montado na fábrica da Mercedes na vizinha Argentina, combina o sistema de recirculação de gases EGR com o catalisador de pós-tratamento SCR, com injeção de solução de ureia Arla 32.
Tem 150 cv, 5% mais que os 143 cv do Euro 5 utilizado até o fim do ano passado, e o torque aumentou 3%, de 33,7 para 34,7 kgfm, além de ser até 6% mais econômico em uso urbano e 11% no rodoviário, segundo o fabricante.
Com opções de furgão de carga, van de passageiros e chassi-cabine (para instalação de baú ou caçamba), as versões leves da Sprinter com a nova motorização ficaram 7,5% mais caras e agora recebem a denominação 315 CDI (antes era 314 CDI), em referência à nova potência.
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