No início da pandemia de Covid-19, muitos apaixonados por automóveis se lembraram do Corona, comportado modelo fabricado pela Toyota entre 1957 e 2001. Ao longo de 44 anos de produção, o carro teve nada menos que 11 gerações.
Agora, é a variante (opa...) Ômicron que contamina o planeta. E não é que também existiu um Omicron sobre rodas?
Fundada em 1906 pelos pilotos Vincenzo Lancia e Claudio Fogolin, a Lancia & C. Fabbrica Automobili, de Turim, conquistou sua fama com carros esportivos e de luxo, muitos deles batizados com letras do alfabeto grego.
Em seus dias de glória, a companhia apostou alto em inovação tecnológica: foi pioneira ao adotar faróis e arranque elétricos na Europa (no modelo Theta, em 1913), bem como estrutura monobloco e suspensão dianteira independente (no icônico Lambda, de 1922), além de transmissão de cinco marchas (no Ardea de 1948) e motores V6 (no Aurelia, em 1950).
Seus automóveis eram exportados para todo o mundo: em 1912 - apenas seis anos após sua criação - a Lancia já tinha um representante no recém-loteado bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro!
A produção não se resumia aos carros de passeio ou corridas. Por décadas, a Lancia também fabricou veículos comerciais. Em 1915, veio o primeiro chassi Jota, para caminhões e ônibus.
Na segunda metade da década de 20, os chassis da série Jota (Djota, Triota, Tetrajota, Pentaiota, Esajota, Eptajota) já não tinham mais para onde evoluir. Era hora de fazer um projeto inteiramente novo e, seguindo a tradição da marca, o modelo seria batizado com uma letra grega, a 15ª daquele alfabeto: Omicron. Aqui, enfim, chegamos ao nosso assunto principal...
O modelo Omicron estreou em 1927 em duas versões: a curta C (entre-eixos de 5,12 m) e a longa L (5,92 m). Esses chassis podiam ser vestidos com carrocerias para uso urbano ou rodoviário, geralmente fornecidas pela Fratelli Macchi, de Varese.
Inicialmente, os Omicron eram equipados com um motor Type 77, a gasolina, de seis cilindros em linha, 7069 cm³ e 92 cv. O arrojo técnico e esportivo da Lancia se manifestava nas válvulas no cabeçote, acionadas por duplo comando - isso num tempo em que a maioria dos motores tinha "cabeça chata" e comando simples. Os freios eram a varão (mecânicos) nas quatro rodas, mas logo ganharam servoassistência a vácuo, sistema que havia sido recém-inventado pelo belga Albert Dewandre. Outra novidade para a época era o sistema pneumático para abrir e fechar portas.
Em busca de expandir seus serviços de transporte, a ATAG (Azienda Tranvie e Autobus del Governatorato, companhia estatal de bondes e ônibus de Roma) foi a primeira empresa a encomendar um grande lote do Omicron. Mas, com a crise econômica de 1929, os sedentos motores a gasolina da Lancia se tornaram um problema.
Vincenzo Lancia, então, foi à alemã Junkers e comprou os direitos de produção de motores a dois tempos a diesel, de 64 cv e 95 cv. A maioria dos Omicron, contudo, manteve os motores seis-em-linha a gasolina - alguns, mais tarde, foram convertidos para usar gasogênio.
Apesar do consumo elevado, os Omicron foram um sucesso de vendas, com 601 exemplares produzidos entre 1927 e 1936. Seu destaque era a resistência e há relatos de exemplares que passaram dos 2 milhões de quilômetros rodados - daí que alguns chassis foram vestidos como ônibus-leitos para atravessar parte do deserto do Saara, entre a Argélia e o antigo Sudão Francês.
Nas ruas da Itália, o Omicron continuou a rodar durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Alguns ônibus danificados no conflito foram transformados em caminhões. Os últimos exemplares saíram do serviço normal somente em 1957, 30 anos depois do lançamento do modelo. A essa altura, a Lancia já produzia um ônibus urbano bem mais moderno, o Esatau. A companhia continuou a fabricar modelos pesados até o início dos anos 70.
Como se vê, não faltava ousadia à marca de Turim, que hoje sobrevive por aparelhos como parte do grupo Stellantis. Entre 2011 e 2015, o nome Lancia foi usado com pouca dignidade em modelos da Chrysler vendidos na Europa. Atualmente, o único Lancia em linha é o compacto Ypsilon de terceira geração, que é feito na Polônia, já está em produção há mais de dez anos e nada mais é que um primo rico do Fiat 500.
No mês passado, Luca Napolitano, atual responsável pela Lancia no grupo Stellantis, apresentou um plano para tentar salvar a marca. O projeto inclui um Ypsilon de quarta geração, híbrido ou 100% elétrico, além de um crossover e um hatch, ambos elétricos. O foco será nos mercados de Itália, França e Alemanha.
E, curiosamente, o nome Omicron resiste em uma oficina de Norfolk, Inglaterra, especializada em peças e manutenção para clássicos esportivos da Lancia.
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