Maio chegou com números do desastre anunciado de abril. Produção, vendas e exportação de veículos despencaram aos menores níveis históricos e alimentaram a crise econômica sem precedentes trazida pela pandemia de coronavírus, que gera muitas incertezas quanto ao futuro, mas fundamenta pelo menos duas certezas, uma global, outra local. Globalmente, é certo que os danos são enormes, a recessão será grande e trará prejuízos horizontais à sociedade. Localmente, o que é muito ruim em todo o mundo no Brasil será pior.

Todos os indicadores apontam que o país sofrerá mais do que outros com a depressão e vai demorar mais a sair dela. Isso porque a economia brasileira, é bom lembrar, não vinha bem, o crescimento esperado era pífio, o real já era a moeda que mais desvalorizou no planeta antes de a pandemia se instalar e o desemprego estava nas alturas. A crise amplificou todos esses problemas, mais que dobra o número de desempregados e agudiza as misérias nacionais, com a ajuda de um governo central inepto para lidar com a emergência. 

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Recente estudo da Economist Intelligence Unit – braço de pesquisa econômica da publicação inglesa The Economist – aponta que entre 19 países o Brasil será a economia mais prejudicada pela Covid-19, com a reversão de quase oito pontos porcentuais na projeção de desempenho do PIB, que era de crescimento de 2,4% no início do ano para queda de 5,5% em 2020. O fato é que as expectativas não param de piorar: economistas, consultorias e entidades trabalham com índices de recessão que vão de 4% a mais de 7%. Essas estimativas se refletem no câmbio, com o dólar superando os R$ 5,80, jogando às alturas os custos da indústria – especialmente a automotiva que depende de insumos e componentes importados.

“O Brasil não tem apenas um problema de saúde afetando negativamente a economia. Temos também um presidente que resolveu acrescentar uma crise política ao cenário já turbulento” resumem cirurgicamente os professores economistas Ricardo Barboza e Guilherme Tinoco em artigo na Folha de S.Paulo na última terça-feira (12).

Sem citar nominalmente o mandatário, na semana anterior o problema da geração de “mais de uma crise por dia” pelo governo já havia sido citado como complicador do cenário pelo presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, durante divulgação mensal dos resultados dos fabricantes de veículos.

“A situação se deteriorou muito rapidamente no Brasil. O dólar já passou de R$ 5,80 apesar de o Banco Central já ter queimado US$ 50 bilhões para conter a desvalorização, isso é uma das discrepâncias causadas pela instabilidade política do país, todo dia acontece uma crise. Então o problema não é econômico, mas político, institucional, que gera descoordenação para enfrentar a pandemia. Infelizmente temos políticos que ainda não perceberam a gravidade dessa crise”, afirmou o mandatário da associação que reúne as principais montadoras.

Medidas anunciadas não acontecem

O momento pede medidas econômicas expansionistas, anticíclicas, emergenciais, abrangentes e rápidas. Embora algumas tenham sido anunciadas pela área econômica do governo, o discurso difere da realidade.

Por exemplo, o programa de empréstimos para o pagamento de salários de pequenas empresas, orçado em R$ 40 bilhões, é um fracasso do ponto de vista prático: até agora foram desembolsados R$ 400 milhões, ou 1% do total previsto.

O montante de R$ 1,2 trilhão que o Banco Central diz ter liberado em empréstimos e depósitos compulsórios aos bancos, para aumentar a capacidade de financiamento, não chegou às empresas, porque nenhuma instituição quer correr o risco de socorrer organizações sem caixa. Para acessar esses recursos, que ajudariam a passar pela crise de liquidez e evitar demissões, a Anfavea propôs ao governo usar garantias de R$ 25 bilhões em créditos tributários que são devidos aos fabricantes de veículos pela União e pelos estados. É isso mesmo: usar uma dívida nunca paga para garantir outra.

Enquanto isso, mais de 50 milhões de desempregados e subempregados correm para obter ajuda emergencial de R$ 600 – cerca de US$ 100 – e há mais 30 milhões na fila, que não receberam ou não foram aprovados para tanto, o que dá uma ideia da dimensão do rombo social existente no Brasil.

Se o que foi feito até gora é pouco para mitigar os estragos da crise, a negação da gravidade da Covid-19 e a incitação pelo fim das medidas de distanciamento social, com reabertura do comércio, são ingredientes que pioraram ainda mais o quadro. Não faltam estudos para mostrar que quanto maior for o isolamento das pessoas, mais curto é o tempo de quarentena e a retomada da economia.

No caso brasileiro, algumas projeções já apontam que, a continuar como está, relaxado diante da doença, o país só sairia da pandemia no fim de dezembro – não mais em agosto como muitos desejavam. Ou seja, se nada for feito, se a maioria das pessoas não ficar em casa, a crise será prolongada e o desastre econômico tende a ser muito maior do que já é.

Para o setor automotivo brasileiro, embora as entidades oficiais ainda evitem fazer projeções, todos já dão como certa a queda de algo como 30% na produção e vendas domésticas, para perto de 1,8 milhão de veículos este ano. O tombo do mercado brasileiro é algo como dez pontos porcentuais acima da média mundial, arrastando para o buraco da ociosidade acima de 60% toda a cadeia automotiva, incluindo fabricantes, fornecedores e rede de concessionárias, somando algo cerca de 1 milhão de empregos em risco.

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