A apresentação do novo Mustang Mach-E em Los Angeles esta semana propõe uma renovação polêmica para a marca Ford. Mas antes que os críticos apontem o dedo em riste é bom lembrar que o Mustang “carro” segue em linha com várias opções de motor V8 e tração traseira enquanto a gigante oval busca formas de alcançar os novos consumidores e de atendê-los com novas soluções de mobilidade.
Galeria: Ford Mustang Mach-E 2020
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A Ford resolveu embarcar no sucesso do ícone que foi lançado há 55 anos para lançar um produto totalmente novo. O Mach-E terá apenas motor elétrico que rende o equivalente a 285 cv ou 333 cv com baterias com até 480 km de autonomia.
Mas qual a relação da novidade com o clássico Mustang lançado em 1964? É curioso mas eles tem sim muito em comum:
1. Necessidade de renovação. No início dos anos 1960 a Ford tinha o acessível Falcon nos Estados Unidos, as peruas e sedãs de maior porte como o Fairlane e o Galaxie 500 que já fazia muito sucesso. Mas o mercado crescia muito e era preciso diversificar a linha com produtos diferentes para um mercado de milhões de unidades por ano.
2. Baby boom. Os bebês que nasceram logo após o término da Segunda Guerra Mundial já estavam perto da época de tirar a habilitação. Era o tempo de muitas mudanças como a popularização do rock, da vida nos subúrbios e da contra-cultura. Então esses jovens não queriam soluções tradicionais tal qual a geração Y de hoje. Era preciso surpreendê-los com um produto novo. Mobilidade é sempre uma necessidade mas o jovem motorista não queria um carro imenso para ir à faculdade, nem mesmo teria uma station wagon e não tinha renda para adquirir um esportivo. Havia uma demanda a ser atendida.
3. Gradativamente. Assim como o Mustang Mach-E, o novo produto dos anos 1960 foi lançado “a conta gotas”. A Ford divulgava fotos de carros superesportivos e conceituais em teste chamando a atenção da imprensa para gerar buzz e e especulações sobre a novidade. A mesma estratégia é feita hoje com a divulgação de teasers, imagens em projeção, aparição em um grande evento, pré-venda, para só depois lançar o veículo em sua forma final.
4. Pré-venda. Também nos anos 1960 o Mustang foi oferecido pelos inicias US$ 2.368 em regime de pré venda por um “preço especial”. No mesmo dia do lançamento 22.000 pedidos foram feitos o que indicava que a Ford já teria que elevar sua capacidade para produzir o Mustang ou não conseguiria entrega-lo.
5. Nova direção. Assim como hoje, com a onda dos SUVs que parecem não ter fim, o Mustang também era uma resposta a uma mesmice. Não era um modelo familiar como uma perua Country Squire mas também não queria ser apenas um carro de entrada como o Falcon. O Mustang chegou inaugurando um segmento mas de forma inteligente já que o mesmo modelo poderia ser um básico cupê com motor seis cilindros ou, logo depois, um esportivo Fastback com motor V8. Era bonito, acessível, e quem podia pagar mais poderia comprar um modelo com motor mais forte.
6. DNA da marca. Apesar de novos por completo, os Mustangs separados por 55 anos carregam elementos de outros modelos da marca, até para identifica-los como um Ford. Em 1964 o Mustang remetia ao estilo de carroceria do Falcon e do Thunderbird por exemplo. Faróis redondos, a carroceria mais baixa e larga, tudo remetia aos Ford da época, com um toque de inovação. O Mach-E incorpora lanternas e o perfil Fastback do Mustang atual, embora seja também um projeto totalmente novo.
7. Carro esportivo era um produto mais caro. Na época havia exemplos de modelos conversíveis, sempre caros, e outros exclusivos como o Corvette e o Thunderbird da própria Ford. O Mustang foi o primeiro carro esportivo e acessível. Nesse quesito, ainda falta muito para os carros elétricos conquistarem esse status.