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Teste: Ford Territory Titanium 2024 muda tudo e se torna competitivo

Ainda é um SUV chinês, mas o DNA da marca é bem mais presente por um bom custo/benefício

Ford Territory Titanium 2024

A Ford sabe que o primeiro Territory não foi um sucesso de vendas. Primeiro, chegou em um momento turbulento da marca por aqui, quando ela mudava seu papel de montadora para importadora. Segundo, o próprio Territory não tinha o DNA que se esperava da marca e, justamente neste momento, não era o carro ideal para colocar nas ruas. O resultado é que ele durou pouco mais de três anos nas lojas e pouco visto pelas ruas.

Chega a ser estranho chamar este novo SUV de Territory, de tanto que mudou. Não só visualmente, mas esse novo Territory tem bem mais o DNA da marca, inclusive a participação da engenharia brasileira neste projeto, mesmo que ainda produzido na China e em parceria com uma empresa de lá. Mas o maior acerto está em seu posicionamento de preço por um pacote de equipamentos bem completo. Vale os R$ 209.990 nesta versão única?

Ford Territory Titanium 2024

Para o sucesso, muda tudo

Lembro do saudoso Daniel Messeder falando do antigo Territory. Pouco remetia a qualquer modelo da marca em design e em elementos do acabamento ou do sistema multimídia, mas não era um SUV para se ignorar, já que tinha um bom espaço interno e um acabamento até melhor que os outros Ford tradicionais naquele ponto. Por outro lado, devia em desempenho com seu 1.5 turbo de 150 cv e 22,9 kgfm de torque ligado ao câmbio CVT, focado em consumo.

Este novo mudou tanto que, na China, chama Equator Sport. É outro carro, literalmente, este sim feito em um conjunto global de engenharia da Ford, inclusive do Brasil, em conjunto com a Jiangling Motors, a mesma empresa chinesa responsável pelo Territory anterior e que ainda existe por lá. Por isso que este novo Territory tem mais elementos que nos levam a outros SUVs da Ford globalmente, como o Kuga, apesar de ainda ver algumas linhas genéricas principalmente nas laterais. 

Ford Territory Titanium 2024
Ford Territory Titanium 2024
Ford Territory Titanium 2024

Além do visual, que não sobrou nada do anterior, as dimensões do novo Ford Territory também estão diferentes. O SUV cresceu, indo de 4.580 mm para 4.630 mm de comprimento (+50 mm), sendo 10 mm a mais no entreeixos (2.726 mm), além dos 1.935 mm de largura e 1.706 mm de altura. Como referência, o Jeep Compass tem 4.404 mm de comprimento e 2.636 mm de entre-eixos. 

Outra mudança foi o conjunto de motor e câmbio. O novo Ford Territory ainda tem um motor 1.5 turbo que não é o mesmo 1.5 turbo que a Ford usa nos Estados Unidos no Bronco Sport, por exemplo, mas sim uma boa evolução do seu motor anterior. Apesar de usar o mesmo bloco, ele troca o conjunto de comandos variáveis e vai do ciclo Miller, mais focado em eficiência, para o Otto, mais desempenho. O resultado é que ele vai aos 169 cv (19 cv a mais) e 25,5 kgfm de torque, 2,6 kgfm a mais, e trocou o câmbio CVT por um automatizado de dupla embreagem (banhado a óleo) com 7 marchas.

Ford Territory Titanium 2024

Inspiração premium (até demais)

Fato que as marcas chinesas ganharam muito ao ter essa parceria com as montadoras mais experientes. Em montagem e qualidade de materiais e acabamentos, o Territory passa despercebido do grande público, que só vai descobrir a origem do produto se alguém contar. Chega a ser bem melhor do que a Ford fazia aqui no Brasil com EcoSport quando ainda nascia em Camaçari (BA), tanto em montagem quanto em materiais. 

O acabamento do interior é muito bom. Material suave ao toque está nas portas e no painel, que nesse tom azul, pode não combinar com algumas cores da carroceria - e não há outra opção, ao menos por enquanto. Há uma imitação de madeira, algum cromado e preto brilhante, tudo em boa quantidade para não passar a sensação de exageros. Porém...

Ford Territory Titanium 2024

Entendo que as marcas gostaram de algo que a Mercedes-Benz criou, com a peça única que abriga as duas telas do painel e multimídia (cada uma com 12,3"), mas vamos com calma, meu amigos designers. No caso do Territory, até o conjunto de chave de seta e seletor do limpadores lembram os da Mercedes-Benz, não as peças que encontramos nos Ford, como o Bronco Sport.

No sistema multimídia, um bom software. É rápido, com espelhamentos sem fios para Apple CarPlay e Android Auto, mas é um software diferente do que encontramos na Ranger e Bronco Sport, mostrando mais uma vez alguns pontos que são bons, mas não totalmente Ford, e talvez um pouco genérico. Para mudar o modo de condução, arraste a tela da esquerda para a direita, mas não se o espelhamento estiver ativo. Como já reclamei em GWM Haval H6 e BYD Song Plus, a insistência de deixar os comandos na tela atrapalha o uso. A temperatura do ar-condicionado, por exemplo, você precisa sair do espelhamento e trocar a temperatura na tela inicial. 

Ford Territory Titanium 2024

Há os botões físicos abaixo para a velocidade da ventilação e o acionamento do modo automático, mas poderia ter o de temperatura para facilitar mudar algo tão comum de ajustar no dia a dia. O seletor do câmbio é semelhante aos demais Ford, rotativo, e mais abaixo há um conjunto de botões para o freio de estacionamento, autohold, sistema de estacionamento automático e start-stop. Mais abaixo, alguns controles para o sistema multimídia, como volume e home. Teria espaço para o seletor do modo de condução físico ali.

O Ford mais barato do Brasil

Um dia, esse título foi o Ka. Essa mudança de posicionamento da marca precisava trazer, desde o começo, um produto como esse Territory para justificar isso. Sim, é bem melhor que o seu antecessor com o mesmo nome, mas não um Bronco Sport. Como ele cresceu, o espaço interno é um ponto em que este Territory pode ganhar compradores com famílias. Os bancos são confortáveis na medida certa, mas o grande destaque fica para o espaço no banco traseiro, que também recebe saídas de ar-condicionado e uma porta de recarga USB. E cabem 448 litros no porta-malas, que tem abertura elétrica, que só não é maior pela presença do estepe logo abaixo. 

Ford Territory Titanium 2024
Ford Territory Titanium 2024
Ford Territory Titanium 2024

Mas não adiantaria nada fazer um carro bom bom acabamento e amplo espaço interno se fosse ruim ao dirigir, principalmente um modelo de marca tradicional. Este novo motor 1.5 turbo, mais potente, é competente para levar os 1.705 kg do Territory mesmo carregado. Percebemos o comportamento característico de um câmbio de dupla embreagem nas arrancadas e manobras, que é diferente de uma caixa automática com conversor de torque, mas as trocas são suaves, colaborando para o conforto do SUV.

Fez bem a engenharia brasileira colocar as mãos neste projeto. É perceptível um cuidado com a suspensão, ajustada para suportar nosso asfalto com as rodas de 19", bastante focada no conforto. A direção elétrica poderia ter mais peso, ou ser menos artificial, algo que ainda vem da origem chinesa, mas é algo melhor do que encontramos em um Caoa Chery, por exemplo. A parte de buchas e componentes não reclamam do trabalho e estão bem dimensionados para o Territory e sua proposta urbana. 

Ford Territory Titanium 2024

O consumo está dentro do esperado para um carro deste peso. Foram 8,8 km/litro na cidade e 12 km/litro na estrada, preço que se paga por 169 cv em mais de 2 toneladas de um SUV com rodas de 19". O seletor de modos de condução varia entre o Normal, Eco, Esportivo e um Serra/Colina, que trabalha o câmbio e respostas do motor para esse tipo de estrada, em subida e com curvas. O desempenho, aliás, é bom: 10,6 segundos no 0 a 100 km/h e na faixa dos 7 segundos nas retomadas. 

Mas o grande destaque deste Territory, além de como ele evoluiu do anterior, é seu posicionamento de preço: por R$ 209.990, tem os assistentes de condução (que não são os mais recentes do mercado, mas fazem seu serviço), teto-solar panorâmico, chave presencial, faróis em LEDs, dupla tela no painel, porta-malas elétrico e um bom espaço interno e acabamento cobrando menos que um Jeep Compass Limited, menos equipado que isso, e que pode colocar uma dúvida na cabeça do comprador do GWM Haval H6 HEV. 

Se o Territory ainda é um SUV chinês, há bem mais do DNA Ford nessa geração. Tem competitividade no segmento, amplo espaço interno, bom acabamento e um bom conjunto de motor e câmbio para ajudar a Ford a ganhar terreno nesta faixa. Ao mesmo tempo, não ameaça o Bronco Sport, um projeto ainda mais moderno, mas mais caro e não tão espaçoso. 

Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)

Ford Territory 1.5T

Motor dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.490 cm3, duplo comando com variador de fase na admissão e escape, injeção direta, turbo, gasolina
Potência e torque 169 cv a 5.500 rpm; 25,5 kgfm de 1.500 a 3.500 rpm
Transmissão automatizada de dupla embreagem com 7 marchas; tração dianteira
Suspensão McPherson na dianteira, multilink na traseira; rodas de 19" com pneus 235/50 R19
Comprimento e entre-eixos 4.630 mm; 2.726 mm
Largura 1.935 mm
Altura 1.706 mm
Peso 1.705 kg em ordem de marcha
Capacidades tanque: 60 litros; porta-malas: 448 litros
Preço como testado R$ 209.990
Aceleração 0 a 60 km/h: 4,9 s; 0 a 80 km/h: 7,6 s; 0 a 100 km/h: 10,6 s
Retomada 40 a 100 km/h (em S): 7,2 s; 80 a 120 km/h (em S): 7,4 s
Consumo de combustível cidade: 8,8 km/l; estrada: 12,0 km/l (gasolina)
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