Teste: Ram Rampage R/T 2024 repete estratégia e missão do Jeep Renegade
Para popularizar a marca no país, picape aposta em equipamentos, preço e desempenho
Não faz muito tempo em que a Jeep, uma marca de prestígio e desejo, tinha modelos que ou eram inacessíveis para grande parte do público ou não eram práticos no dia a dia, como o Wrangler. Isso acabou com o lançamento do Renegade, que embrulhou todo o conceito da marca em um pacote mais "comprável" e alçou a Jeep para o status que tem hoje, seguido pelo Compass e Commander.
E se a Stellantis resolvesse repetir a fórmula em mais uma de suas marcas? Chegou a vez de a Ram passar por esse processo com a Rampage. Até então, a marca de picapes tinha modelos que partem de quase R$ 360 mil e passam facilmente dos R$ 500 mil. São literalmente caminhões, ou imensas caminhonetes V8 a gasolina pouco práticas para o uso diário. A nova Rampage está aí pra isso: popularizar o conceito da marca sem perder seu prestígio, mas num pacote que apela a um público maior.
Aura do passado na versão mais cara
A versão R/T, esta das fotos, ainda tenta resgatar a aura de desempenho dos antigos modelos esportivos da Dodge e é a mais cara da linha. Ela sai por R$ 269.990, mas tem o Pacote Elite que acrescenta R$ 6 mil ao valor final - dá para ter o desempenho do novo 2.0 turbo a gasolina gastando menos na Rampage Rebel, de R$ 249.990. Popularizar a marca e ainda capitalizar sobre a nostalgia dos antigos Dodge, será que a Ram Rampage R/T dá conta?
Para isso, se tem uma coisa em que a Ram não economizou na Rampage foi em itens de série. Todas as configurações saem de fábrica com ao menos 7 airbags, controles de tração estabilidade, assistente de partida em rampa, controle de descida, painel de instrumentos digital de 10,3" com grafismos exclusivos da Ram, multimídia com tela de 12,3", Android Auto e Apple Car Play sem fios, carregador de celular por indução e chave presencial com partida por botão e remota na chave.
Acharam que acabou? Ainda tem ar-condicionado automático de duas zonas, iluminação completa por lâmpadas de LEDs, freio de estacionamento eletrônico com auto hold, start-stop, controle de cruzeiro adaptativo, monitor de ponto cego, assistente de permanência em faixa, frenagem autônoma de emergência, espelhos com rebatimento elétrico, retrovisor interno fotocrômico, câmera de ré, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, sensor de chuva e acendimento automático dos faróis.
Por conta disso, escolher entre as versões Rebel, Laramie e R/T acaba sendo uma opção pelos diferentes visuais e acabamentos de cada uma delas. No caso da R/T, a versão acrescenta rodas de 19" exclusivas, diversos emblemas alusivos a versão, modo R/T (Sport), suspensão com acerto mais baixo e firme, escapamento esportivo, teto pintado de preto, faixas exclusivas e revestimento interno de couro com suede, uma espécie de veludo.
A Rampage R/T já tem banco do motorista com ajuste elétrico, mas quem quiser estender a cortesia para o passageiro frontal terá que gastar mais R$ 6.000 no Pacote Elite. Ele ainda acrescenta o sistema de som da Harman Kardon e luz ambiente interna e está disponível para todas as versões da Rampage pelo mesmo preço.
No catálogo das versões Rebel e Laramie, há a opção do motor 2.0 turbodiesel de 170 cv e 38,8 kgfm, mas para a versão R/T, a Ram reservou apenas o novo Hurricane-4. É o motor que conhecemos do Jeep Wrangler, mas é a primeira vez que é usado em um carro fabricado no Brasil. Ele conta com injeção direta de combustível e comando variável na admissão e no escape e consegue entregar 272 cv de potência e, o mais impressionante, 40,8 kgfm de torque, mais que o 2.0 turbodiesel.
O conjunto de transmissão é em comum para todas as configurações. É o conhecido câmbio automático de 9 marchas encontrado nos modelos da Jeep e da Fiat há algum tempo com um sistema de tração integral automático. A Ram até diz que a Rampage é 4x4 com reduzida, mas é preciso ter parcimônia com essa afirmação. O que a picape tem mesmo é uma tração integral com modo reduzido, travando igualitariamente a distribuição de força entre os eixos e mantendo a transmissão em marchas mais baixas. É uma receita que a VW Amarok usa, por exemplo.
Derivada de uma plataforma que é pesada por ser reforçada, a Ram Rampage não consegue fugir da física com seus 1.917 kg de peso na versão R/T. Com uma linha de cintura mais alta, a caçamba na Ram é maior que na Fiat Toro, chegando a 980 litros, mas só por isso, já que nas demais dimensões é bem parecida. A capacidade de carga na Rampage com motor a gasolina é sempre de 750 quilos.
Nas demais medidas, a Rampage tem 5.028 mm de comprimento, 1.886 mm de largura e 2.994 mm de entre-eixos. A versão R/T tem uma suspensão com calibragem exclusiva, o que deixar sua carroceria um pouco mais baixa. Ela tem 1.771 mm de altura, contra 1.780 mm das demais configurações. Com o motor a gasolina, o tanque tem 55 litros de capacidade, contra 60 litros das versões a diesel.
A Ram declarara que a Rampage R/T acelera de 0 a 100 km/h 6,9 segundos, enquanto o consumo é de 8 km/l na cidade e 10 km/l na estrada. Em nossos testes, a Ram Rampage não entregou nenhum dos números oficiais. Alguns foram para o bem, como é o caso da aceleração feita em 6,7 segundos, e do consumo rodoviário que chegou a 11,9 km/l. No entanto, o consumo urbano passou longe do prometido: chegando a apenas 6,3 km/l, algo levemente desesperador para quem irá usar a picape no dia a dia.
Anda como R/T e bebe como V8, mas ainda é Ram
Vale lembrar que a Rampage nasce de um grande retrabalho da plataforma Small Wide 4x4, a mesma apresentada em 2016 para o Jeep Renegade e que se estendeu até Compass e Commander, além da própria Fiat Toro. No entanto, a Stellantis diz que a picape da Ram traz 60% de novos componentes para a arquitetura.
Por dentro e por fora, é difícil enxergar a Fiat Toro. São pequenos resquícios, como o interruptor do farol e chaves de seta e do limpador de parabrisa. Olhando a cabine, a Rampage lembra bem mais um Jeep Commander em elementos como o volante e o painel. E isso nos leva para o visual em si.
A Stellantis operou um pequeno milagre ao reduzir as gigantes proporções das picapes da Ram, especialmente a 1500 Limited, num veículo consideravelmente menor sem parece uma adaptação. Os faróis são altos e afilados e a grade quase reta dá altura e imponência para a dianteira da picape, exatamente a fórmula das irmãs maiores. Na traseira, as lanternas são verticais e trazem uma imitação da bandeira dos EUA - afinal, se você vai comprar um clichê do "sonho americano", a bandeira parece uma boa ideia. Lá atrás, a caçamba tem abertura convencional e amortecida, não dividida como na Toro.
Mas a Rampage não consegue escapar de algumas limitações de sua plataforma. Uma delas aparece no banco traseiro. O acabamento de couro das portas dianteira não chega às traseira, sendo substituído por plástico com seções imitando costuras. O banco em si não tem um espaço farto para os joelhos ou ombros, com o espaço para a cabeça sendo um pouco melhor. O ângulo do banco ainda é muito reto, mas é melhor que em picapes médias com chassi por longarinas, onde além de se sentar muito pra frente, o assoalho é alto e deixa os joelhos elevados, sem suporte para as coxas.
Outro exemplo da limitação da Small Wide é o ângulo de esterço. Comprida, com um grande entre-eixos e limitada pelas caixas de roda estreitas, a Rampage sempre vai exigir mais manobras do que você espera para entrar numa vaga. Até mesmo tarefas mais simples, como circular em rampas de prédio, não são feitas de uma vez só.
E ainda existem as limitações inerentes de uma picape, como a baixa visibilidade traseira. O capô elevado também exige costume para julgar onde a frente está. A janela traseira, quase reta, também reflete com detalhes a tela da central multimídias no espelho interno. Mas não é a pior parte. Isso fica para a falta de praticidade da caçamba que, como em outras picapes, é alta e grande, mas não tem cobertura nem divisórias ao menos como itens de série.
Uma viagem em família escancarou a questão, pois a escolha era deixar as malas rolando de um lado para o outro e pegando chuva, ou dar um jeito de levar tudo no banco traseiro. Azar de um primo que veio de carona e teve que se apertar com as malas. Como dizem, a moda cobra seu preço e esse é o custo de ter qualquer picape, ainda que uma intermediária com chassi monobloco como a Rampage.
Dito isso, a Ram Rampage brilha em diversos outros aspectos. Um deles é o desempenho do novo motor 2.0 turbo a gasolina. Com ele, a Rampage acelera como gente grande. Em nossos testes, foi mais rápida até que o Fiat Pulse Abarth, para manter a comparação dentro da Stellantis, mas dando um exemplo de modelo esportivo, ainda que um SUV.
A Rampage pode beirar as duas toneladas de peso, mas os 272 cv e - principalmente - os mais de 40 quilos de torque, empurram a Rampage a ponto de te jogar contra o banco. Aceleração, retomada, ultrapassagem... nada postou um desafio real para a picape da Ram, mesmo quando carregada.
Com 9 marchas, o câmbio está sempre procurando a relação ideal para a situação, mas opera suavemente e sem trancos. O que denúncia a variação constante de relações é o ronco do motor. O escape esportivo tem um som bacana, ao menos nas primeiras horas dentro do carro. Depois, começa a agradar menos.
Ram Rampage R/T 2024 - Detalhe da bandeira dos EUA na lanterna
A 120 km/h, única situação em que a nona marcha é engatada, o motor fica a 1.500 rpm. E aí aparece outra vantagem da construção monobloco. A Rampage se comporta muito bem na estrada. Silenciosa, comportada, parece à vontade andando em altas velocidades. A suspensão com acerto específico na R/T aumenta a sensação de controle.
Até mesmo em estradas de terra - bem cuidadas, vale dizer -, a Rampage passou por costelas de vaca, valetas e elevações sem estressar a suspensão e sem sinal de perder o controle. E isso foi já a cerca de 80 km/h e sem muita dó do carro. Fui procurar seu limite, ainda estou procurando.
Mas, novamente, não há argumentos contra física. Entre em uma estrada de serra abastecido pelos emblemas R/T e pelas elevações de capô dignas de muscle cars, e a Rampage tem uma movimentação de carroceria bastante perceptível nas curvas. Entre mais rápido em uma e os pneus vão cantar com certa facilidade, equilibrando duas toneladas com 272 cv. Ao menos, quando carregada, tem um comportamento muito similar.
Galeria: Teste: Ram Rampage R/T 2024
No final das contas, a Stellantis atinge diversos objetivos com a Ram Rampage, ainda mais na versão R/T. Consegue capitalizar o prestígio da marca em um formato que faz mais sentido para mais compradores, entrega o desempenho digno da versão que ostenta e, com isso vai trazer a Ram para um público muito maior.
Ainda que em volumes menores, a Rampage aumentará a popularidade da marca da mesma forma que o Renegade fez com a Jeep. Só não consegue se desvencilhar de questões inerentes às picapes. Isso não impediu os SUVs de chegarem onde estão hoje e não impedirá as picapes de superá-los na preferência nacional. E a Ram já está um passo à frente da onda.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
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