Teste: Toyota Corolla Cross XRX Hybrid ainda vale a pena?
SUV é o mesmo desde 2021 e racional ao extremo, mas já pede mudanças com a chegada de novos concorrentes
Há pouco mais de 2 anos, o Toyota Corolla Cross foi lançado no Brasil como uma das formas mais acessíveis de se colocar um SUV eletrificado na garagem. Para uma boa parte dos clientes das versões Hybrid, foi o primeiro contato com um veículo híbrido, que podem ter evoluído para um plug-in ou algum modelo totalmente elétrico, ou simplesmente se mantém em um híbrido sem a necessidade de uma recarga externa.
E como o Toyota Corolla Cross XRX Hybrid se comporta no mercado depois desses anos e com uma nova concorrência? Principalmente com a chegada dos modelos chineses, como o GWM Haval H6 HEV, o SUV médio ainda é um bom negócio? Quais seus pontos positivos e negativos? O que ele precisa evoluir? Foi isso que busquei entender neste teste com a versão topo de linha de R$ 210.990.
Mudanças? Deixa para depois
A Toyota costuma demorar para aplicar alguma mudança mais profunda em seus modelos. Há quem diga que isso é um dos motivos da confiabilidade que a marca tanto ostenta a fama no mercado, já que não desvaloriza tanto o carro de quem comprou há pouco tempo, por exemplo. Nesses dois anos, a marca mudou alguns equipamentos, mas apenas nas versões com o motor 2.0 aspirado, mas nada nos híbridos, posicionados no topo da gama.
Só para relembrar, o Corolla Cross usa a mesma plataforma do sedã Corolla, a TNGA-C, mas tem uma certa mistura com o Corolla Hatch e com algumas simplificações, principalmente no nosso mercado. Tem 4.460 mm de comprimento, 170 mm a menos que o sedã Corolla, e 2.640 de entre-eixos, a mesma medida do hatch e 60 mm menor que o sedã. No porta-malas, 440 litros de capacidade, enquanto o Haval H6 tem 560 litros e o Jeep Compass, 410 litros.
Quando falamos em simplificações, a comparação pode ser tanto com o nosso sedã Corolla quanto com o Corolla Cross em outros mercados. A suspensão traseira troca o sistema independente multilink pelo eixo de torção, assim como um acabamento mais simples no interior, além do tão falado freio de estacionamento no pé, algo que entrarei em detalhes mais adiante.
O conjunto híbrido também é uma solução local. O 1.8 aspirado, de ciclo Atkinson, foi modificado para rodar tanto com gasolina quanto com etanol, criando o primeiro híbrido-flex do mundo. Com dois motores elétricos, temos um total de 122 cv e até 16,6 kgfm de torque com gasolina ou etanol quando todos estão trabalhando combinados. A bateria é de 1,3 kWh e depende apenas do motor e da recuperação de energia em frenagem e desacelerações para ser recarregada.
Um reencontro sempre interessante, mas...
Meu último contato com o Corolla Cross Hybrid foi em um comparativo com Jeep Compass e VW Taos em 2021. Neste tempo, muita coisa aconteceu, como a chegada do Haval H6 HEV, um SUV que, não nego, usei muito do Corolla Cross para ter referências de como ele pode mexer com o mercado. Por isso, reencontrar o Corolla Cross híbrido foi algo que quis fazer depois de alguns anos e ver se algo tinha mudado. Para o lado bom e o lado ruim, nada mudou. Ou quase.
O bom é que ainda é um SUV que me passa uma sensação de boa construção e durabilidade, como um bom Toyota. Muito me questionam sobre como as chinesas se comportam e, para quem é mais desconfiado, sempre recomendo conhecer os novos de perto e, se não gostar, apostar em um Corolla Cross. Uma estrutura rígida, uma boa construção de carroceria e um carro que passa uma boa sensação de durabilidade são pontos fortes do Corolla Cross, além de como um Toyota se comporta na hora de revender.
Ele não é o carro mais emocional que você pode comprar, muito pelo contrário. O acabamento não irá encher seus olhos com muitos detalhes e linhas, mas encontrará um bom material, como o plástico que não risca facilmente, boa montagem e ergonomia correta dos componentes – ainda defendo que comandos de ar-condicionado analógicos são bem mais intuitivos que telas e mais telas. O que você precisa, está onde se espera que esteja, bem fácil de entender. Nesta versão com o interior claro, é bonito, mas vai exigir um cuidado extra com o couro dos bancos.
A Toyota fez algumas mudanças no Corolla Cross Hybrid, como a troca da central multimídia por uma peça mais genérica, mas com 9", com espelhamento Apple CarPlay e Android Auto. É um pouco lenta, mas não chega a ser um grande problema no uso, que é intuitivo de qualquer forma, além de mostrar um gráfico de como o carro está trabalhando seu sistema híbrido. O painel de instrumentos tem a tela de 7" de boa resolução, a mesma que está no carro desde o seu lançamento.
Melhor na cidade, seu habitat natural
O Corolla Cross não tem uma grande autonomia 100% elétrica, como é comum nestes híbridos sem recarga externa. Por outro lado, não depende justamente de uma tomada para ser relativamente eficiente e, com a ajuda do motor elétrico que manda torque a qualquer toque no acelerador, o que é interessante no uso urbano.
Ele não tem grandes números, mas como já disse, seu torque imediato parece ser suficiente na cidade. Arranca de semáforos e retoma a velocidade em vias expressas sem dificuldades. Com a altura do solo, é um bom carro urbano, ainda com consumo de 12,6 km/litro com etanol - o Haval H6 BEV fez 16,5 km/litro com gasolina no mesmo teste. A suspensão tem um acerto focado em conforto e, no conjunto completo, é um carro que pode ser dirigido por horas e horas sem cansar excessivamente o motorista. Longe da emoção, mas perto da racionalidade.
Mas o Corolla Cross tem um bom espaço interno e porta-malas, que levaria uma família a viajar, correto? Então, vá com calma se seu uso será prioritariamente este. Enquanto na cidade o SUV é bom, na estrada já sentimos a potência mais baixa, principalmente se estiver carregado. A rotação sobe e chega a incomodar em alguns momentos de maior aceleração - vazio, chegou aos 100 km/h em 11,5 segundos e um consumo rodoviário de 12 km/litro com etanol, número que não será tão bom em situações de carro mais carregado.
Ainda vale a pena? Como um carro, o Corolla Cross Hybrid ainda é um bom japonês. Confesso que o freio de estacionamento mais incomoda ao saber que a concorrência tem o sistema mais moderno que no uso em si. E o pacote de equipamentos inclui o piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem automática, alerta de ponto-cego, chave presencial, faróis em LEDs com farol-alto automático e teto-solar.
Pagar os R$ 210.990 é opção ao cliente que procura a confiabilidade de um Toyota e de um carro consolidado no mercado. É racional e não desperta suas maiores emoções, mas é confortável e é o único SUV híbrido que aceita etanol, o que pode fazer a diferença para algumas pessoas. Mas está na hora de se atualizar um pouco, principalmente com a chegada de uma nova concorrência, mais potente e maior, por quase o mesmo preço.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
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