Parece injusto, mas somos mais exigentes quando uma nova marca chega ao mercado brasileiro. Se ela for chinesa então, a atenção aos detalhes em busca de algum tropeço é muito maior. Conviver com o GWM Haval H6 é justamente isso, principalmente por se propor a brigar com nomes fortes como o Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, queridinhos entre os SUVs médios.
Seja nós da imprensa ou os consumidores desta faixa de preço, existe uma grande curiosidade por este SUV. Com o Haval H6 HEV, a GWM abriu uma briga diante dos SUVs médios de cerca de R$ 200 mil com maior porte, híbrido e cheio de tecnologias. E ainda há a vantagem de uma grande participação da engenharia brasileira em todo o processo de homologação e acerto do carro para nosso mercado.
Esta nova fase dos chineses no Brasil é bem diferente da primeira. De carros feitos para serem baratos e simples (até demais) para atacar modelos populares das marcas tradicionais, dessa vez a jogada é oferecer modelos mais refinados, eletrificados e cheios de tecnologias, como a Caoa Chery e BYD fazem, por exemplo. Mas foi a primeira fase que traumatizou o consumidor brasileiro.
A GMW sabe disso. Além da operação oficial no Brasil, se dedicou a ter profissionais que já conhecem o mercado local para organizar a casa e, com a carta branca da China, modificou os modelos o suficiente para você não se sentir em...um carro chinês. Afinal, peitar Jeep, Toyota e Volkswagen não é uma tarefa simples, ainda mais quando se trata de um comprador com um nível de exigência alto.
O Haval H6 é o primeiro modelo da GWM no Brasil e não poderia vacilar, ou todo esse esforço (e dinheiro) seria jogado no lixo. Para começar, a versão brasileira abre mão dos cromados na carroceria que o público chinês adora, além dos próprios escritos e logos que identificam a marca e o modelo são mais discretos e feitos para nosso público. Outros detalhes também foram escolhidos para o mercado local, como as rodas de 19" e o escrito GWM na tampa. O interior também tem cores mais sóbrias, como couro preto e iluminação em azul.
O que mais deu trabalho para a engenharia brasileira e chinesa foi acertar a suspensão. Diversas configurações foram testadas até chegar ao melhor conjunto de conforto, dirigibilidade, ruídos e resistência. Pelo o que ouvimos de pessoas ligadas ao projeto, o acerto final aconteceu pouco antes do lançamento do H6 de forma oficial e exigiu muita dedicação (e conversas) das equipes dos dois países.
Uma grande aposta da GWM é com a eletrificação. Neste caso, o Haval H6 HEV é um híbrido comum, que não precisa de fonte externa de recarga, aliando uma boa eficiência energética sem a necessidade de se preocupar com plugar carro na tomada e afins. Une o motor 1.5 turbo, com injeção direta de gasolina, a um motor elétrico. Juntos, produzem 243 cv e 54 kgfm de torque, apenas no eixo dianteiro, com uma transmissão automatizada (embreagem simples) de 2 marchas, que parece complexa de explicar, mas não é.
Não é a toa que a GWM está tão preocupada em dar ao comprador a oportunidade de dirigir o carro por até alguns dias. O Haval H6 HEV não fica em dívida com modelos mais tradicionais do mercado. Lembra que falei da transmissão? Então, como ela conversa com o conjunto de motor a combustão e elétrico foi um grande desafio de acerto da engenharia, mas que compensa pelo quão boa ficou.
O câmbio tem duas marchas com embreagem simples. Apesar de não divulgar os números de potência em separado de cada motor, o elétrico tem uma boa força e tira o Haval H6 e seus 1.699 kg da inércia sem dificuldade. Por isso, não precisa de um câmbio com as marchas iniciais curtas para isso - o motor a combustão entra caso a bateria de 1,6 kWh esteja com pouca carga, mas só para gerar essa energia para o elétrico.
Ou seja, no uso urbano, principalmente em trânsito pesado, o H6 é quase um veículo elétrico com um gerador a gasolina. Em velocidade médias, em uma faixa acima dos 60 km/h, por exemplo, entra a primeira marcha do câmbio automatizado em ação. Para não forçar o motor elétrico sozinho (e gastar mais energia que precisará ser reposta), o 1.5 turbo começa a ser um propulsor. Mesmo assim, mantém rotação baixa com o auxilio do elétrico. É mais eficiente neste ponto que o Corolla Cross, por exemplo.
Em velocidades mais altas, como em vias expressas ou rodovias, a segunda marcha é engatada. Ela reduz a rotação para cerca de 2.500 rpm a 120 km/h, rodando como um carro comum e até preservando a bateria, que aproveita para ser recarregada. Por isso mesmo que o Haval H6 HEV teve um consumo melhor na cidade que na estrada: 16,5 km/litro versus 12,3 km/litro, sempre com gasolina.
Na verdade, pouco dessa transição de motores e marchas é sentida pelo motorista ou ocupantes. Mesmo quando o 1.5 turbo é ligado, pouca vibração é passada para a carroceria e pouco ruído chega aos ocupantes. Dá para perceber melhor pelo monitor de fluxo de energia ou pelo conta-giros no painel. Nesse ponto, é até mais suave que muitos modelos híbridos mais tradicionais.
Na hora de acelerar, o conjunto não faz feito. Chegou aos 100 km/h em 8,2 segundos, enquanto um Jeep Compass 1.3 turbo faz o mesmo em 9,1 segundos. As retomadas em 6,4 segundos (40 a 100 km/h) e 5,2 segundos (80 a 120 km/h) são reflexo dessa resposta da conversa entre motores e câmbio, dando boas respostas para momentos de viagens, por exemplo.
Outro ponto pelo qual a experiência é tão valorizada pela GWM na hora de vender o Haval H6 é o conforto. Lembra do árduo trabalho da engenharia? Foi para garantir que a suspensão tivesse um acerto confortável, mas sem os exageros dos chineses, e nem aquele monte de barulho do conjunto quando passa por um buraco.
O H6 está bem longe de ser um SUV dinâmico. Tem até opções de peso de direção elétrica (Conforto, Normal e Esporte), mas nenhuma delas dá peso o suficiente para falar que realmente muda o comportamento dinâmico. Você pode até atacar uma curva, mas a carroceria vai rolar e apoiar, dando a segurança para uma viagem comum, por exemplo, mas longe de abusos. O volante grande também está mais de olho em te dar conforto que te encorajar a algo diferente disso.
No dia a dia, a suspensão faz seu papel de não passar as imperfeições do asfalto para os ocupantes, mas reclama quando o buraco é mais fundo com uma batida seca. As rodas de 19" tem pneus 225/55, um bom tamanho. Agora junte esse conforto ao silêncio do sistema híbrido e aqui está algo que pode convencer muitos compradores.
Você pagou R$ 209 mil pelo seu carro. Obviamente que vai exigir que ele seja equivalente ou superior aos seus concorrentes diretos. A GWM tinha esse outro desafio pela frente. Em construção e montagem, o Haval H6 tem peças alinhadas, com gaps equilibrados pela carroceria e boa pintura, por exemplo. Por dentro, os materiais são bons e, diferente dos carros da China, tem cores e texturas de bom gosto.
O painel tem material suave ao toque e leva isso para as portas - só as dianteiras - para fazer bonito para quem irá pagar pelo carro. Botões, comandos e outros detalhes não foram esquecidos e não aparentam fragilidade. As duas telas, de 10" para o painel e 12,3" no sistema multimídia, foram intensamente traduzidas e ajustadas para o Brasil. São de boa resolução e leitura, sendo a multimídia com uma interface rápida, inclusive para os comandos por voz. Poderia manter uma faixa na tela para controle do ar-condicionado e som quando o espelhamento estiver aberto, facilitando o uso.
Até mesmo os assistentes de condução foram bem calibrados. Há piloto automático adaptativo, alerta de ponto-cego (um pouco desesperado as vezes), assistente de faixa (bastante sensível, mas que funciona bem) e sistema de câmeras 360 com projeção 3D e assistente de estacionamento automático. É um dos pacotes mais completos do segmento, que ainda recebe abertura elétrica do porta-malas, ar-condicionado de duas zonas, faróis e lanternas em LEDs, carregador por indução, autohold, teto-solar panorâmico e outros itens. A lista é bem grande.
Com seus 4.683 mm, o Haval H6 tem a vantagem do porte diante dos concorrentes diretos. Com entre-eixos de 2.738 mm, há bom espaço interno principalmente no banco traseiro, com um piso quase plano e duas saídas de ar-condicionado e portas USB (que poderiam ser USB-C...). Cabem dois adultos com muito conforto e um terceiro em um nível OK. Nenhum dos médios tradicionais conseguem isso com essa facilidade. No porta-malas, 560 litros, um ponto a se destacar dentro do conjunto de espaço interno do SUV médio.
Lógico que a GWM iria apostar em custo/benefício para fazer seu nome no mercado brasileiro. Mas não fica devendo em qualidade de construção, equipamentos, acabamento e espaço interno diante dos concorrentes da Toyota, Jeep e VW. Com o tempo veremos a questão de vendas e pós-vendas, mas há boas promessas nesse ponto. Ao mesmo tempo, vale ser exigente com novas marcas entender como os chineses, em pareceria com brasileiros, agora trabalham.
O Haval H6 HEV entrega o que prometeu. Colocará uma dúvida na cabeça dos compradores dos SUVs médios desta faixa de preço e tem armas fortes para isso, principalmente com a tecnologia, porte e eletrificação. Tem tudo para dar certo, basta a GWM seguir trabalhando como está e como prometeu.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
GWM Haval H6 HEV
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