As divisões esportivas estão investindo em SUVs. Até mesmo os menores modelos recebem a preparação para receber essa assinatura, como o Mercedes-AMG GLA 35. E pelo fato do GLA se aproximar mais de um hatch alto que de um SUV como um todo, me agradou mais que outros SUVs com a mesma proposta, mesmo com as suas falhas.
Como diz seu nome, o Mercedes-AMG GLA 35 é a versão preparada do Mercedes-Benz GLA pela divisão AMG. A fabricante trabalha com alguns níveis de esportividade, de acordo com a numeração adotada. No caso dos carros da linha de entrada, as opções são o 35 ou 45, sempre com um motor 2.0 turbo de quatro cilindros – modelos mais acima tem número diferentes como 43 ou 53, com propulsores seis-cilindros.
Assim, o GLA 35 é o esportivo mais “acessível” para quem quer o SUV compacto da marca. Não é nada barato, pois custa R$ 512.900, R$ 155 mil a mais do que o GLA 200, a única versão “civil” disponível no Brasil, com motor 1.3 turbo. O custo extra traz modificações suficientes para que realmente seja chamado de esportivo e é bem mais equipado.
Olhando por fora, o GLA 35 traz uma sobriedade interessante ao considerar que é uma versão esportiva. Poucos detalhes denunciam que não é uma configuração normal do SUV. A grade dianteira é diferente, usando aletas verticais e abandonando a barra cromada horizontal que vai até o símbolo da estrela de três pontas. Era o estilo que, até pouco tempo, a Mercedes-Benz chamava de Panamericana, porém agora é conhecida apenas como “grade AMG”. Pessoalmente, eu acho este estilo mais interessante do que o do GLA 200.
A outra mudança está nas rodas, de 21" com um estilo exclusivo, raiado e diamantado. E na traseira, aparecem uma saia nova e um spoiler. As unidades importadas para o Brasil trazem o pacote AMG Night, pintando algumas peças em preto brilhante, como o difusor traseiro, retrovisores, ponteiras de escapamento e grades do para-choque dianteiro.
Do lado de dentro, a Mercedes-AMG colocou um acabamento de fibra de carbono no painel e nas portas e abusou das linhas vermelhas por toda a cabine. Está no painel, nas portas, nas costuras do couro nos bancos e no volante. Até os cintos adotam este tom, sendo totalmente vermelhos, o que é a única coisa que quebra o aspecto sóbrio do SUV.
Por ainda utilizar o MBUX em seu primeiro formato, o GLA 35 acaba parecendo um pouco mais minimalista ao utilizar duas telas de 10,2 polegadas posicionadas lado a lado como se fossem uma peça só. Os comandos pequenos para o ar-condicionado ajudam nesta sensação de ser um interior bem limpo.
Como é a versão mais cara do GLA disponível no Brasil, também é a mais equipada. Traz itens como faróis full-LED, ar-condicionado automático de duas zonas, controle de cruzeiro adaptativo, assistente de estacionamento, teto solar panorâmico, assistente de permanência em faixa, tampa do porta-malas com acionamento elétrico e iluminação ambiente em LEDs entre os principais. Tem quase tudo o que poderíamos querer em um carro de R$ 500 mil, exceto uma coisa: conexão sem fio para Android Auto e Apple CarPlay, ainda exigindo o uso de cabos. É algo inaceitável considerando que temos isto em modelos que custam menos de 1/5 do preço do Mercedes-AMG.
Carros esportivos costumam ser um pouco desconfortáveis nas ruas, uma consequência de uma combinação de fatores, como o ajuste mais rígido de todo o sistema da suspensão ou pelas rodas de perfil baixo. Era assim com o GLA 45 da geração anterior. Mas, para minha surpresa, o GLA 35 é bem mais agradável para o dia-a-dia. Não há o excesso de vibrações transmitidos para dentro da cabine, absorve muito bem os impactos ao passar em uma lombada ou um buraco e não passa a impressão de ser muito duro, mas ainda mais firme que o modelo tradicional.
Isto faz com que até funcione como um carro familiar. Há bastante espaço nos bancos dianteiros e é um pouco mais apertado nos traseiros, dentro do que podemos esperar de um SUV compacto. O assento central é mais desconfortável por culpa do túnel central bem alto, que abriga uma parte do sistema de tração integral. O porta-malas também não foge da média do segmento, com 435 litros de capacidade.
E, ainda assim, tem uma tocada bem interessante para um SUV. Ainda parece muito mais um hatch do que um utilitário e isso ajuda bastante na condução, com uma carroceria bem estável e usando o sistema integral 4MATIC para evitar qualquer problema de tração. A direção afiada responde rapidamente a qualquer comando, mesmo com o modo de condução na opção Comfort, mas é no modo Sport+ que aproveitamos todos os 306 cv e 40,8 kgfm do motor 2.0 turbo, por ter uma resposta mais rápida do acelerador e fazer com que o câmbio automatizado de dupla embreagem e 8 marchas faça trocas bem mais cedo.
A Mercedes-AMG diz que o GLA 35 acelera de 0 a 100 km/h em 5,2 segundos e nosso teste instrumentado mostrou um valor bem próximo, de 5,4 segundos. As retomadas são bem mais impressionantes, precisando de somente 3,9 segundos para ir de 40 a 100 km/h com o câmbio no modo S. E isso acompanhado por um som delicioso nas acelerações, que fica mais claro quando colocamos no modo Sport ou Sport+.
Claro que tem um lado ruim e é o consumo. Ao longo do nosso teste, registramos 8,5 km/litro na cidade e 10,3 km/litro na estrada, números bem próximos dos que constam na etiquetagem veícular do Inmetro, de 8,7 km/litro e 10,4 km/litro, respectivamente. Este resultado faz com que receba nota E em seu segmento e nota C na geral. Obviamente, rendimento energético não é o que ninguém espera ao comprar um esportivo, porém temos que lembrar que não é um carro econômico.
O Mercedes-AMG GLA 35 pode ser a versão esportiva mais básica, mas entrega tudo o que precisamos de um carro voltado para a performance. Valeria pagar mais para ter o GLA 45, quando finalmente chegar ao Brasil? Considerando que o GLA 35 já custa R$ 512.900, o modelo acima pode não fazer sentido pelo custo ao se aproximar de concorrentes maiores. Talvez este aqui já seja o ideal pelo bom equilíbrio entre esportividade e conforto.
Mercedes-AMG GLA 35
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