Ter uma liderança inquestionável pode ser algo ruim. A concorrência move o mercado e, se não há quem enfrentar, existe o risco de se acomodar e parar no tempo. O caso da Chevrolet Spin é um exemplo bem claro. Não tem rivais no segmento e vende até que bem se considerarmos o cenário em que muitos preferem um SUV como o Tracker. E, nesta situação, a GM deixou a Spin envelhecer demais a ponto de, junto com a S10, ser o modelo mais antigo da linha.
A Chevrolet Spin ainda tem atributos para justificar suas vendas. É o carro mais barato com 7 lugares e quando a terceira fileira não está em uso, ainda tem um bom porta-malas. Se optar pela versão de 5 lugares, há ainda mais espaço para bagagem. Tem porte que lembra um pouco os utilitários urbanos e, como está no mercado desde 2012, já tem uma reputação e oferta de peças de reposição, além de clientes bastante fiéis, principalmente frotistas e taxistas, por exemplo.
Só que fica bem claro que passou da hora de ser atualizada. Sem mudar de geração, a minivan completou 10 anos em 2022 e ainda traz algumas coisas que estão velhas não só em comparação com os SUVs (que mataram as minivans) como até dentro da marca – é o único carro da Chevrolet no Brasil ainda equipado com o motor 1.8 8V, que segue sendo reajustado para atender as normas de emissões e ruídos. A GM sabe que tem que mexer na Spin, tanto que já circula em testes e pode estrear ainda em 2023. Mas isso gera a pergunta: vale investir no veículo agora?
Como tanto tempo de mercado, a Spin é um rosto bem reconhecido nas ruas brasileiras. A reestilização, lançada em 2018, trouxe uma identidade igual ao do falecido Cobalt, deixando a grade e os faróis mais angulares. Por um tempo, até trouxe um recurso para ajudar a reduzir o consumo de combustível, com um sistema de aletas móveis na dianteira, podendo abrir ou fechar, afetando a aerodinâmica, mas por algum motivo pouco tempo depois, a Chevrolet resolveu tirar o item.
Até que não é um estilo tão defasado e que, em 2018, mudou bem a identidade da Spin. Mas a Chevrolet já prepara uma reestilização com sua nova identidade, baseada na picape Montana, que nos deixa a pergunta: vai casar com o restante da carroceria de 2012? Veremos isso ainda este ano, pelo jeito.
Mas a parte que melhor mostra a idade é o interior. O volante é o antigo, o painel de instrumentos é diferente de todo o resto da linha, o desenho do painel está bem desatualizado, além da ergonomia já bastante defasada. Ainda usa bastante plástico duro no acabamento, algo difícil de aceitar quando, pelo mesmo preço, é possível comprar um Onix Plus ou Tracker com materiais bem melhores - mas sem o amplo espaço interno da Spin.
A Spin Premier, topo de linha, fica devendo na parte de equipamentos. A versão mais cara do catálogo, de R$ 130.290, traz itens como sensor crepuscular, sensor de chuva, central multimídia de 7 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay, controles de estabilidade e tração, retrovisores laterais com ajuste elétrico, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré e rodas de 16 polegadas. Mas basta olhar para o Onix, por exemplo, com seis airbags, ar-condicionado automático, carregador sem fio, alerta de ponto cego, sensor de estacionamento dianteiro e tantos outros itens para ver como a Spin está desatualizada.
Chega a ser estranho até dizer isso, mas a Chevrolet Spin hoje tem um dos motores de maior cilindrada na linha nacional, equipada com o 1.8 aspirado de quatro cilindros. Apenas Camaro (um 6.2 V8), S10 e Trailblazer (ambos com o 2.8 turbodiesel) têm propulsores maiores. Até o Equinox, um SUV médio, utiliza um 1.5 turbo. Ele ainda é de uma era sem turbo, com 2 válvulas por cilindro, e comando único no cabeçote.
Este 1.8 da Chevrolet não é um motor ruim. Foi reajustado diversas vezes ao longo de sua linha e teve que passar por modificações para atender o Proconve L7. O gerenciamento de motor e câmbio foi alterado e ganhou novos filtros para evitar a evaporação do combustível. Até perdeu o tanquinho de partida a frio ao adotar bicos injetores aquecidos, além de tudo que já passou anteriormente. A boa notícia é que não perdeu potência ou torque, gerando os mesmos 111 cv e 17,7 kgfm, quando abastecido com etanol.
Com tanto tempo usando este propulsor, a Chevrolet soube adaptar bem a minivan para aproveitá-lo ao máximo. Com o torque máximo disponível a 2.600 rpm, demonstra uma agilidade interessante para um carro deste porte e a transmissão automática de 6 marchas tenta manter as rotações o mais baixo possível para economizar combustível. Apesar da idade, acaba sendo eficiente se considerar o peso da Spin, com médias na faixa dos 7 km/litro na cidade.
O principal argumento de venda (e sobrevivência) da Spin é seu espaço interno. Neste momento, é o único carro com 7 lugares por menos de R$ 200 mil. Depois da Spin, o modelo mais barato é o Caoa Chery Tiggo 8, por R$ 201.070, seguido pelo Jeep Commander, que parte de R$ 236.990. Até teremos o Citroën C3 Aircross este ano, que deve ser mais barato do que o carro da Chevrolet, porém menor.
E a minivan cumpre bem o papel de ser um carro para a família. Leva até sete pessoas, embora possa ter um certo aperto para os mais altos e para quem viajar no assento central da segunda fileira e os bancos da terceira fileira são mais indicados para crianças por conta do assoalho alto. Adultos até podem sentar ali, mas terão que lidar com o desconforto para entrar e ficar com os joelhos altos, então é melhor que seja uma viagem bem curta. Com os bancos posicionados para 7 pessoas, o porta-malas tem uma capacidade para 162 litros, podendo levar algumas malas de pé.
Quando a terceira fileira não é necessária, basta rebater os bancos e prendê-los para que o espaço suba para 533 litros, ficando bem mais atraente. Ainda dá para rebater a segunda fileira, elevando o valor para um total de 952 litros. É útil para momentos específicos, mas se não vai usar a terceira fileira e precisa de espaço, é melhor optar pela Spin de 5 lugares que tem até 1.068 litros de capacidade e é mais barata. A solução da antiga Zafira com os bancos embutidos no assoalho funcionavam melhor...
Como a vocação da minivan é levar pessoas, todo o desenvolvimento foi pensado nisso. Com uma suspensão bem macia, aliada a um curso longo, é bem difícil encontrar uma situação em que ela vá bater, mesmo com carga máxima. Ainda assim, é bem estável e responde bem aos comandos da direção elétrica. O ponto ruim é sua ergonomia, pois coloca uma posição de dirigir alta como padrão e não tem ajuste de profundidade para o volante.
A Chevrolet Spin atende uma demanda bem específica: ter 7 lugares e espaço interno amplo. Por um lado, isto é bom para a minivan por ser a única opção na faixa dos R$ 100 mil e faz um bom trabalho neste aspecto. Porém, é um pouco difícil justificá-la para quem não vai usar a terceira fileira com muita frequência. Se não vai usar o principal ponto desta versão, então economize um pouco e compre a Spin de 5 lugares, ou parta para um modelo mais atual como o Tracker.
Mesmo que você queira exatamente esta minivan, lembre-se que há alguns problemas. A idade é bem aparente e faltam muitos equipamentos até em comparação com carros mais baratos da GM como Onix e Onis Plus. E, neste momento, só é interessante comprar a Chevrolet Spin se estiver com um bom desconto, pois a reestilização vem aí e a fabricante deve fazer mais algumas mudanças.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Chevrolet Spin Premier
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