Os últimos anos foram turbulentos, sem dúvida. Olhe para o preço dos automóveis e como muitos subiram consideravelmente e se afastaram ainda mais de seus antigos compradores. Mas outros se seguraram e se tornaram opções interessantes no mercado, como o Ford Bronco Sport, que foi apresentado em maio de 2021 por R$ 256.900 e, hoje, custa "apenas" R$ 267.900.
Apenas? Considerando os aumentos que vimos em diversos SUVs, como o Jeep Compass e a linha de SUVs compactos premium, a Ford segurou um pouco a onda de seu SUV importado do México, além de colocar mais potência no 2.0 turbo: foi de 240 cv para 253 cv na linha 2022, com a calibração aplicada na picape Maverick com o mesmo motor. Ainda não é um SUV barato, mas ficou mais interessante no pacote geral.
Comecei a perceber uma maior presença do Bronco Sport nas ruas e, junto com o aumento de potência, estava na hora de um novo teste. O escolhi como um carro que passaria os 15 dias do período de festas de fim de ano para um contato prolongado e ver como mudou desde nosso primeiro contato em 2021. Pouca coisa realmente mudou, e isso é bom.
Na época do lançamento, o Bronco Sport não era exatamente um carro que custava pouco. Era mais caro que um Jeep Compass diesel completo com quase R$ 20 mil de diferença se o alinhássemos em pacotes de equipamentos - e por isso não fizemos um comparativo, além da gasolina ainda estar mais cara que o diesel em 2021. Mesmo assim, o SUV mexicano era lotado de qualidades e mostrava essa nova fase da Ford como apenas importadora.
Já naquele momento, o Bronco Sport mostrou uma boa construção. Produto global, a plataforma C2 é reconhecida pela rigidez e boa dirigibilidade, com suspensão independente na traseira e pelo uso de materiais de ultra e alta resistência. E isso faz uma boa diferença no Bronco Sport. Mesmo quando mais exigido em pavimentos acidentados, se comporta sem desconforto aos ocupantes e, ao motorista, uma dirigibilidade que permite até mesmo alguns abusos no asfalto, mesmo não sendo sua proposta. A carroceria dobra, mas contida e, com a ajuda da tração integral, segue a trajetória que precisar.
Entre os SUVs médios, é um dos que passa uma melhor sensação ao volante. Isolamento acústico é destaque e, mesmo com os pneus de uso misto, roda sem vibrações e asperezas e seu funcionamento, inclusive do motor 2.0 turbo, é suave, assim como as trocas do câmbio de 8 marchas. Bancos confortáveis, bom acabamento com materiais de qualidade, ergonomia com os comandos fáceis de localizar. Deu para entender um pouco como o Bronco Sport ganhou espaço por aqui, mas precisa ser conhecido de perto para mostrar.
O Bronco Sport chegou ao Brasil com o 2.0 EcoBoost, um motor turbo que está com 253 cv e 38,7 kgfm de torque graças ao aprendizado da engenharia brasileira em calibração com a picape Maverick. Ele tinha 240 cv e 38 kgfm de torque quando fizemos o primeiro teste, já um número interessante para um SUV, mas estava "estranho" ter menos potência que a picape com o mesmo motor.
Existem alguns destaques além do motor. O câmbio automático de 8 marchas trabalha com um sistema de tração integral automática e um seletor de modos de condução que calibra todo o conjunto diante do que foi escolhido pelo motorista: Normal, Eco, Sport, Slippery, Sand, Mud/Ruts e Rock Crawl. Os três primeiros fazem um papel no asfalto, enquanto os demais atendem o uso fora-de-estrada conforme o tipo de solo encontrado na sua "aventura", ajustando respostas de acelerador e do sistema de distribuição de força.
Usei o Bronco Sport na cidade e estrada, que é o que a maioria de seus compradores fará. Apesar de uma proposta fora-de-estrada leve, sabemos que é uma faixa de preço que poucos proprietários fará - no máximo, um acesso em estrada de terra batida, algo que o Bronco Sport faz sem dificuldades. Aliás, a proposta aventureira dele é tão forte que tem até mesa, abridor de garrafas e iluminação no porta-malas para esse momento "natureba", se você quiser, mas será mais útil no seu dia a dia na cidade.
A vantagem do 2.0 turbo no Bronco Sport é sua força. Com variador na admissão e escape, consegue colocar torque já cedo, apesar do pico a 3.000 rpm. No modo ECO, ainda responde rápido e não tem aquela morosidade que esperamos de um carro desse tamanho com motor turbo, com ajuda do câmbio que reduz as marchas em algumas situações onde precisa de maior agilidade. Diferente de alguns outros carros com modo ECO, dá para conviver com ele no Bronco Sport. O modo Normal até já o deixa um pouco mais arisco e responsivo, o que não é necessário no uso urbano e, no rodoviário, só se você quiser uma maior agilidade quando carregado.
E aqui começamos as comparações entre o Bronco Sport de 240 cv e o de 253 cv. Na cidade, o consumo foi de 9,6 km/litro para 8,2 km/litro, com o modo ECO, um número ainda melhor que os 7,2 km/litro da Maverick, que não tem esse modo de condução. É um número até OK considerando o porte do SUV e potência do 2.0 turbo, além de uma carroceria que não é lá muito aerodinâmica.
Na estrada, chega a ser provocante como o Bronco Sport se comporta. Ganha velocidade rápido, mantém ritmo de viagem com tranquilidade e ultrapassa com força. Com 11,7 km/litro, piorou o consumo anterior de 12,7 km/litro, algo que já observamos em diversos modelos pós-Proconve L7, além do próprio aumento de potência. A dinâmica, como já citei, é algo que também chama a atenção, assim como o isolamento acústico.
Na pista de testes, o Bronco Sport foi de 0 a 100 km/h em 7 segundos, com o Sport selecionado. O câmbio faz as trocas bem, mas não é o mais rápido, focado mais em conforto, e a tração integral agarra as 4 rodas no asfalto na arrancada, o que também ajudou bastante em um carro com seus 1.718 kg. Foi uma leve melhora ante os 7,2 segundos do primeiro teste.
Quando chegou, o Bronco Sport estava olhando para os SUVs Premium, como BMW X1, Audi Q3 e Land Rover Discovery Sport. Mas eles já ultrapassam os R$ 300 mil dependendo da versão, enquanto o Ford acabou se aproximando mais do Jeep Compass turbodiesel com essa estratégia de preço.
Ele oferece bastante. Sistema de som assinado pela Bang & Olufsen, piloto automático adaptativo, assistente de faixas, alerta de colisão com frenagem automática, alerta de ponto-cego, câmera frontal com lavador (assim como a traseira), carregador por indução, reconhecimento de placas de trânsito, tomadas 110V e sistema multimídia com tela de 8" com espelhamento - por fios, uma falha, além de dever uma tela com resolução um pouco melhor nessa faixa de preço.
Um bom acabamento, estilo mais fora-de-estrada até por dentro sem abrir mão do conforto, bom espaço interno. Tem bolsas com zíper no encosto dos bancos dianteiros, um baú embaixo do banco traseiro, diversos porta-objetos, sistema modular no porta-malas, vidro traseiro com abertura independente da tampa e outros detalhes se mostram aliados no dia a dia, ainda mais depois de vários dias com o SUV.
Com esse preço, o Bronco Sport vale mais a pena do que quando foi apresentado. Não por ele, mas por sua concorrência. Até mesmo o preço do diesel versus a gasolina equilibrou mais a disputa com o Compass diesel, que não oferece o mesmo refinamento do Ford. Mas importado do México, o Bronco Sport acaba limitado por disponibilidade ao dividir a demanda com os Estados Unidos, seu principal mercado.
O fato da Ford ter segurado os aumentos do Bronco Sport foi um importante movimento para ajudar seu SUV. Ainda não é um carro barato nem de alto volume, mas se tornou uma opção melhor em custo/benefício diante dos SUVs compactos premium e o Compass diesel. Bom desempenho (que acaba por deixar um consumo apenas ok), bom pacote de equipamentos e um estilo legal são seus pontos fortes.
Ford Bronco Sport 2.0T AWD 2022
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