Com cinco anos de mercado, o Fiat Argo vive um novo momento: passou a dividir os holofotes com o Pulse, posicionado acima na gama da marca e que tem o chamariz do estilo mais próximo ao de um SUV. Além disso, com o passar dos anos o Argo perdeu versões, comercializado agora somente em três versões: 1.0, Drive 1.0 e Trekking 1.3. Em seu lançamento em 2017 ele contava com 8 configurações, três motores e três ofertas de câmbio.
Para este novo tempo, a primeira reestilização do Fiat Argo mostra isso. Recebeu um novo parachoque dianteiro e uma nova parte central do volante, só. Ainda não recebeu o câmbio CVT, justamente por causa do Pulse, e seu papel é quase ser o carro de entrada da Fiat no Brasil. Testamos a versão Drive 1.0 para ver se ainda é uma boa opção.
Revelada há quatro meses, a linha 2023 do Fiat Argo trouxe mudanças de estilo bem sutis. O destaque fica para a nova grade dianteira, que adota o novo logotipo por extenso da Fiat e um novo acabamento “entrelaçado” que preenche a peça, com o detalhe que ela se estende agora por uma fina camada de plástico na base dos faróis – que seguem iguais ao modelo anterior. A grade soma também o emblema da Fiat famoso na década de 1990, mas que aqui traz as cores da bandeira da Itália.
Outra parte do hatch que foi alterada foi o para-choque, que foi redesenhado. O mesmo padrão de preenchimento da grade dianteira está na tomada de ar inferior, enquanto em volta dos faróis de neblina sai o desenho redondo para chegar um formato mais retilíneo. Lembra das entradas de ar próximos das rodas, nos cantos dos para-choques? Elas saíram de cena em favor de um estilo mais limpo. No caso desta versão Drive 1.0, o padrão são as rodas de aço de 15 polegadas com calotas de novo desenho e calçadas com pneus 185/60 de baixa resistência a rolagem.
A má notícia é que quem ver de traseira do novo Argo Drive 2023 vai se confundir com qualquer outro ano-modelo do hatch, já que a Fiat foi econômica nesse ponto e nada mudou. Ao menos, poderia ter disposto de um novo arranjo interno das lanternas ou ao menos um redesenho de leve no para-choque. Mas já vimos isso ocorrer no mercado nacional, com outras marcas além da Fiat ignorando a traseira em uma atualização de meia-vida de um veículo.
Por dentro a única novidade é o volante igual ao do Pulse, que traz a parte central em formato mais quadrado e com o logotipo da Fiat por extenso, que substitui o antigo emblema em escudo. O restante é o que já conhecemos: com o Argo trazendo um acabamento bom para a categoria, com várias texturas e detalhes que valorizam o interior. No caso do Argo Drive, todo o interior é preto, mas quem optar pelo pacote S-Design terá a faixa central do painel pintada de bronze. Assim, no aspecto geral, o hatch se mantém atualizado mesmo que se trate de um modelo lançado em 2017.
As características bem conhecidas do Argo se mantêm ainda em outros pontos, como a posição mais alta de dirigir, bem como o amplo espaço interno – principalmente para quem vai sentado no banco traseiro. Este aliás é um ponto de destaque o hatch até hoje, mesmo que o entre-eixos não seja o maior do segmento (são 2.521 mm), nota-se que o aproveitamento de espaço na cabine foi bem planejado desde quando o Argo ainda estava nas pranchetas.
Debaixo do capô, o Argo Drive 2023 segue com o famoso motor três cilindros 1.0 Firefly, que rende seus 71/75 cv de potência a 6.000 rpm e 10/10,7 kgfm de torque a 3.250 rpm. Vale lembrar que este motor em 2017 fez sua estreia no saudoso Fiat Uno e ainda faz bonito em 2022, tanto que a Stellantis está fazendo dele o carro-chefe entre os diversos compactos da empresa, à exemplo do Peugeot 208 e Citroën C3. E sua aplicação no Fiat Argo ainda o faz ter um bom desempenho, mesmo depois da atualização por conta das novas normas de emissões do Proconve L7.
Os números de acelerações melhoraram, sobretudo de 0 a 80 km/h, que caiu de 10,7 segundos para 10,3 s, bem como a aceleração de 0 a 100 km/h, que também foi reduzida de 15,9 s para 15,3 s em nossos testes usando etanol. A maior curiosidade fica para a piora no desempenho no teste de retomada de 80 km/h a 120 km/h, cujo tempo passou de 15,8 s para 18,3 s – uma diferença de 2,5 segundos a mais. Ou seja, vale uma atenção extra perante situações de ultrapassagem, afinal, você ainda estará em um carro “mil”. Vale lembrar que o motor 1.0 Firefly perdeu até 2 cv e 0,2 kgfm de torque em relação ao anterior.
Quando o assunto é consumo, o modelo manteve literalmente o mesmo desempenho ao rodar na cidade, ao cravar 9 km/litro. Já o consumo na estrada piorou um pouco em relação ao nosso último teste, caindo de 13,2 km/litro para 12,1 km/litro. Esse padrão vem se repetindo em boa parte dos testes em carros pós-Proconve L7, que geralmente estão gastando mais combustível no uso rodoviário. No entanto, os números ficaram próximos aos do divulgado pelo Inmetro: são 9,8 km/l no circuito urbano e 11 km/l no rodoviário com etanol.
Ao volante o hatch da Fiat é igual também, contando com uma direção elétrica bem leve e até progressiva (que podia ter melhor retorno, é verdade) e embreagem um tanto macia - e também alta. É algo que se acostuma com o tempo, embora um ajuste de profundidade de volante faça falta na hora de achar a posição ideal de dirigir. Com isso, você vai ter a opção apenas de regular a altura do volante e banco. O típico câmbio manual Fiat com engates distantes entre si também se faz presente, com o engate da 5ª marcha bem distante.
Elogiável mesmo é o isolamento acústico, que mesmo em rotações mais altas do motor 1.0 três cilindros dá conta do recado. O comportamento dinâmico do Argo segue ainda como um dos destaques, trazendo suspensão macia sem exageros e uma boa altura em relação ao solo. É um meio termo perfeito para rodar na baixa qualidade do asfalto das ruas brasileiras, passando por ondulações e valetas com bastante conforto e sem raspar a dianteira. Não à toa também o hatch é um dos preferidos por motoristas de aplicativo.
Dirigindo você não sente falta de vigor do motor 1.0 com bom torque em baixas e médias rotações, que proporciona um desempenho favorável mesmo em 2ª marcha em subidas mais íngremes. Mérito do motor três cilindros com torque máximo de 10,7 kgfm em 3.250 rpm, mas que oferta uma boa força antes mesmo dessa faixa de rotações. Em altas rotações o “milzin” da Fiat perde um pouco de seu desempenho em vias expressas e rodovias, algo normal para um 1.0 três cilindros nessa configuração, além de que, em 5ª marcha a 90 km/h, o motor gira a 3.000 rpm.
Enquanto lá atrás a versão Drive 1.0 era uma das melhores em custo x benefício no mercado, hoje a situação é diferente. Isso porque o Argo Drive 1.0 2023 é vendido a R$ 79.690 e não vai além do básico, trazendo itens como ar-condicionado, volante com assistência elétrica e ajuste de altura, banco do motorista regulável em altura, 2 entradas USB, desembaçador traseiro, vidros elétricos dianteiros com função um toque, computador de bordo com tela de 3,5” (indica portas abertas e mais) e sistema multimídia com tela de 7” com suporte a Android Auto e Apple CarPlay com fio. Soma também monitor de pressão dos pneus e volante multifuncional.
O que o Argo fica devendo mesmo é na parte de segurança, trazendo apenas os obrigatórios airbag duplo frontal e freios ABS, isso em um mercado em que rivais contam com pelo menos 4 ou até 6 bolsas de airbag. Os controles eletrônicos de estabilidade e tração e assistente de partida em rampa que equipam o modelo testado fazem parte do pacote Safety (R$ 1.980), mas bem que poderiam já vir de série. Caso você sinta falta de itens como retrovisores e vidros traseiros elétricos e sensor de estacionamento, vai ter que adicionar o pacote S-Design (R$ 3.969). Já o friso na base das portas com o nome Argo cromado é um acessório por R$ 350,71.
Apesar da falta de alguns equipamentos importantes, o Argo Drive 1.0 2023 segue como opção para quem procura um carro com teto máximo de R$ 80 mil, servindo como um clássico hatch compacto para atender como único da família, trazendo bom espaço interno e desempenho compatível com a categoria. É verdade que justamente por essa proposta a Fiat deveria dar uma atenção para a segurança.
No entanto, o Argo mudou de perfil com a redução de versões, sendo agora uma das portas de entrada para marca, um hatch bem à moda Brasil de uns anos atrás. Com isso fica clara a estratégia de empurrar o cliente para o Pulse 1.3 (já com 4 airbags) ou até mesmo o Cronos Drive 1.0 – com melhor custo benefício. A escolha nesse segmento fica definida pelo seu bolso, mas vale aquela olhada por cima do muro para tirar a dúvida se a concorrência atenderá melhor suas necessidades. A boa notícia? O mercado de hatches nunca esteve tão diverso.
Fotos: Diego Dias (Motor1.com)
Fiat Argo 1.0
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