Avaliação Yamaha MT-03: esportiva para iniciantes no preço e comportamento
Líder no segmento, tem qualidades para quem busca uma moto mais potente, mas não pode gastar tanto ou não tem experiência
Uma das categorias de emplacamentos pesquisadas pela Fenabrave para motos é o de esportivas sem carenagens, chamada de "Naked/Roadsters". E nesse segmento há uma líder isolada: a Yamaha MT-03, que já acumulou 5.908 unidades vendidas em 2022, mais que o dobro da segunda colocada, a Honda CB 650R.
Claro que seu preço inicial ajuda, pois a Yamaha MT-03 está anunciada por R$ 30.890. Só que não é só este o segredo da moto. Como vocês verão a seguir, a MT-03 consegue entregar uma experiência de esportiva sem cobrar tanto ou te colocar em em perigo facilmente como nas motos maiores.
Galeria: Yamaha MT-03 2022
Entrada para a diversão
Como o nome sugere, a MT-03 é um dos modelos da família MT de esportivas sem carenagens da Yamaha. No Brasil, ainda estão disponíveis as MT-07 e a MT-09. Assim, a "03" é a porta de entrada para linha de performance. Ela compartilha diversos componentes mecânicos com a R3, essa sim esportiva devidamente carenada, mas a ausência das peças dá mais praticidade à MT-03, além claro daquela sensação de vento no rosto a mais.
Sendo assim, a Yamaha MT-03 é equipada com um motor de dois cilindros paralelos com 321 cm3 de capacidade, sendo este um de seus principais diferenciais em relação a modelos como a própria Yamaha Fazer 250 FZ25 e a Honda CB 250F Twister, que possuem propostas similares, mas motores menores e monocilíndricos.
O propulsor da MT-03 começa a mostrar sua sofisticação extra com elementos como o comando de válvulas duplo no cabeçote acionado por corrente, 4 válvulas por cilindro e o arrefecimento a líquido. Já alimentado por injeção eletrônica, mas rodando somente com gasolina, ele entrega 42 cv de potência a 10.750 rpm e exatos 3 kgfm de torque a 9.000 rpm. A força chega à roda traseira por meio de um câmbio de 6 marchas com transmissão final por corrente.
A Yamaha declara um peso em ordem de marcha de 169 kg para a MT-03, peso que é suportado por chassi tipo diamante. Nas principais medidas, a moto tem 2.090 mm de comprimento, 1.380 mm de entre-eixos, 755 mm de largura e o assento fica a 780 mm do solo. O tanque armazena até 14 litros de combustível, sendo 3 litros de reserva.
O conjunto de suspensão também já mostra que a Yamaha MT-03 não tem origem simples: ela é composta por um garfo telescópico invertido na dianteira com 130 mm de curso. A traseira tem amortecedor único com regulagem de pré-carga. As rodas são de liga leve e têm 17 polegadas. Elas são calçadas por um pneus 110/70 na dianteira e 140/70 na traseira. Os freios são ABS, trazendo disco de 298 mm de diâmetro na frente, medida que é de 220 mm atrás.
Por outro lado, o pacote de itens de série não tem muito luxo. A Yamaha MT-03 conta com iluminação completa por lâmpadas de LED, o que inclui faróis, luzes de posição, lanterna, luz de freio e piscas. A moto ainda dispõe de um lampejador de farol alto e um painel de instrumentos digital que traz informações de nível de combustível, conta-giros, consumo médio, consumo instantâneo e temperatura do líquido de arrefecimento.
Postura para iniciantes
O primeiro contato com a MT-03 pode ser confuso para quem não está muito ligado em motos. Com um grande tanque, postura agressiva e a famosa "cara de mau", ela aparenta ser muito maior do que é de fato. Ela inclusive foi uma das primeiras motos da Yamaha a usar o conceito de farol de LED único no Brasil, hoje visto também na Fazer 250, na Crosser 150 e na recém-lançada FZ15.
Montando na moto, a impressão de ser grande passa. A ergonomia permite que a moto "vista" bem o condutor. Com meus 1,72 m de altura, sempre consegui firmar um pé com segurança no chão e mesmo para tirar a moto do descaso lateral ou manobrá-la em baixas velocidades não são tarefas árduas.
Relativamente estreita e leve, a Yamaha MT-03 tira de letra a maior parte dos corredores nos grandes centros, mas o ângulo de esterço do guidão é pequeno, então desvios mais fechados precisam ser planejados com maior cautela. Mesmo com a postura de esportiva, o guidão não é tão baixo quanto aparenta, fazendo com que o peso do condutor não acabe gerando dores nos punhos.
A facilidade de uso na cidade ainda é ajudada por elementos que dificilmente são compreendidos no papel. É o caso da embreagem, que tem um ponto de fricção bem definido, fácil de modular e uma alavanca que não é pesada. Os freios também são afiados: não é preciso fazer muita força para ter uma resposta rápida.
Mas é claro que ainda estamos falando de uma moto que, de esportiva, não tem apenas proposta. A suspensão tem um acerto firme e você vai sentir os buracos mais do que em uma moto urbana ou aventureira com certeza. Mas este é o preço a se pagar por uma moto que se dispõe a correr com segurança.
Enquanto o uso urbano é bom com ressalvas, você precisa mesmo "esticar as penas" do bicilíndrico para entender qual é a real curtição de ter uma MT-03. A ficha técnica já manda uma letra: os picos de potência e torque são elevados e a esportiva de entrada da Yamaha guarda o melhor para aqueles que se dispõem a descobrir até onde o motor vai.
Uma girada no acelerador até o fim de curso e o ronco da MT-03 começa com um tom mais grave e vai ficando mais agudo conforme se chega ao limite. De fato, a hora em que você precisa se segurar de verdade vem só depois dos 9.000 giros. Antes disso, a brincadeira ainda nem começou pra valer.
Para tirar o melhor de um motor que gosta de trabalhar em rotação alta, a Yamaha usou escalonamento de câmbio bem curto, daqueles que você mal percebe o giro caindo nas trocas e bem similar ao que você escuta numa corrida da MotoGP, por exemplo. Só que você precisa saber que vai ficar trocando de marcha o tempo todo. E mesmo "enrolando o cabo", a moto nunca passa insegurança. A suspensão pode ser dura nos buracos, mas o contraponto é que ela mantém a agilidade e a segurança até em velocidades que não estou confortável em admitir publicamente.
Porém, os mais atentos já se ligaram na pegadinha. É uma crítica comum feita tanto à MT-03 quanto à R3. Um motor que te vicia em andar com o giro alto e usa um câmbio de marchas curtas invariavelmente acaba no mesmo resultado: o consumo é alto. Em meu uso basicamente urbano, mas ainda empolgado com o prazer de guiar a MT-03 com o giro lá em cima revelou um consumo de 15,87 km/l. Daria para fazer um consumo melhor? Daria, mas você estaria perdendo o ponto dessa moto usando-a de forma mais comedida.
Para quem quer uma moto para começar a aprender a correr com responsabilidade, ou seja, uma esportiva de fato com preço mais acessível, são poucas as opções. Uma BMW G 310 R (R$ 33.990) é mais cara, menos potente e monocilíndrica. A Kawasaki Z400 por sua vez, tem mais desempenho e itens de série, só que também é mais cara (R$ 33.310).
Se você almeja um dia chegar numa esportiva de alta cilindrada, recomendo começar com os modelos menores para ir se acostumando. E a Yamaha MT-03 entrega tudo o que é legal de uma esportiva grande sem te colocar em perigo imediatamente. E se você espera uma moto que ande bem e não gaste nada de combustível, é melhor esperar as elétricas chegarem.
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