A Fiat tem uma longa história com sedãs no Brasil, alguns fazendo sucesso como Prêmio ou Siena, outros nem tanto, como foi com o Linea. O Fiat Cronos estava no segundo grupo, com vendas bem fracas desde o lançamento em 2018, sempre no fim do pelotão do segmento. Isto mudou durante a pandemia, quando o sedã compacto feito na Argentina ganhou nova vida e chegou até a liderar as vendas da categoria em alguns momentos de 2021.
É a segunda chance que o Cronos precisava e agora tem mais uma força com uma adição importante à linha: o motor 1.0 Firefly de 75 cv. Esta motorização foi adotada para substituir o Grand Siena, que saiu de linha na virada do ano. O objetivo foi bem claro: ser o sedã compacto mais barato do Brasil. De fato, conseguiu, visto que parte de R$ 75.190 na versão Cronos 1.0, e R$ 79.190 na variante Drive 1.0. E, acredite, é uma boa escolha, ainda mais em tempos que os carros andam são caros.
Antes de falar do motor, que é a grande novidade do Fiat Cronos 1.0 2023, vou gastar só algumas linhas com o design do Cronos. Recebeu uma “reestilização”, e chamar assim é bem ser generoso. Enquanto o Argo 2023 ao menos trocou o para-choque, o sedã fez uma única mudança na grade dianteira. Ao invés da barra horizontal única que atravessava a entrada de ar, agora tem duas aletas. Sim, foi só isso, nem ao menos adotou o mesmo para-choque que o hatchback.
Poderia ter mudado um pouco mais? Sim, com certeza. O Cronos tem linhas bem harmoniosas e, na época do lançamento, muitos consideravam mais bem resolvido do que o Argo. Porém, a Fiat poderia ter ousado um pouco e atualizado o sedã, ainda mais com seus rivais mudando recentemente. O Honda City trocou de geração; o Toyota Yaris e o Hyundai HB20S foram renovados; e o Volkswagen Virtus já roda em testes há alguns meses.
Ao menos, seu visual ainda não está tão velho assim, pois é um pouco próximo da identidade visual que a Fiat tem usado nos últimos lançamentos, como o facelift da Toro ou o Pulse. Obviamente, dentro de suas proporções, visto que são modelos de portes diferentes. E, como seu desempenho nas vendas não foi tão forte, não é um carro comum nas ruas, então seu design não cansou tanto.
O mesmo aconteceu no interior, com uma única mudança. Agora conta com o mesmo volante que estreou no Pulse, com centro menor e o logo maior. Tem uma aparência melhor do que anterior, mas não passa disso.
Desde que foi lançado em 2016, primeiro equipando o Uno, o 1.0 Firefly foi muito elogiado pela imprensa por seu torque em baixa rotação. A Fiat mirou neste desempenho desde o início do desenvolvimento, tomando decisões como colocar apenas duas válvulas por cilindro, ao invés de quatro. É normal que rode a 2.000 rpm, pedindo para subir uma marcha quando chega aos 2.500 rpm. O máximo dos 10,7 kgfm de torque aparecem nos 3.250 rpm, então dificilmente você vai ter que fazer o motor girar alto.
Este desempenho o torna bem interessante para dirigir na cidade, por conta da sua agilidade. Não precisa de muito para entrar no embalo, tanto é que nosso teste fez 0 a 60 km/h em 6,3 segundos, o mesmo tempo que o Argo 1.0 no teste feito antes do motor ser recalibrado para o Proconve L7. Dependendo do ângulo de inclinação, dá para subir rampas em segunda marcha, por conseguir manter um bom torque. É um sedã bem esperto e a direção elétrica bem ajustada ajuda muito. Poderia ter um pouco mais de retorno, mas também não chega a ser inexpressiva como a antiga função “City” que a Fiat usou em alguns carros como Mobi e Uno.
Até no consumo impressiona. O rendimento declarado pelo Inmetro é de 9,9 km/litro na cidade e 11,4 km/litro na estrada, com etanol. Na prática, foi bem melhor, marcando 11,2 km/litro no ciclo urbano e 14 km/litro no rodoviário, usando o mesmo combustível. Com gasolina no tanque, o consumo oficial é de 14 km/litro e 16,1 km/litro, respectivamente. É motivo para a Fiat dizer que é o sedã 1.0 mais econômico do mercado, obviamente em comparação aos outros 1.0 aspirados.
Se por um lado é um carro bem esperto na cidade, perde o fôlego rapidamente na estrada. A aceleração de 0 a 100 km/h que registramos foi de 15,5 segundos. Um pouco menos do que o Argo 1.0 pré-Proconve L7. Isto é até bom, mas estava com o carro vazio. Basta colocar mais uma pessoa para sentir a diferença. Com todos os bancos ocupados e o porta-malas cheio, é melhor andar nas faixas do meio ou da direita, pois não vai ultrapassar ninguém na estrada. Se você precisa de mais desempenho, talvez seja melhor olhar para a versão com o motor 1.3 de 107 cv e 13,7 kgfm.
Não dava para esperar muito desempenho de um motor 1.0 aspirado, algo que só devemos ver no dia que a Fiat resolver equipar o Cronos com o 1.0 turbo de 120 cv que está no Pulse (o que vai demorar). Assim, todo o ajuste do carro é feito para entregar o conforto, que ainda é prioridade para a maioria dos clientes do sedã. Tem um rodar macio e sem grandes surpresas, aproveitando o ajuste da suspensão e as rodas de 15” para sumir com aspereza das versões com rodas maiores.
Você vai notar a carroceria inclinar em curvas mais rápidas e até mesmo o peso indo para a dianteira em uma frenagem, porém nunca chega a perder o equilíbrio. Vai absorver melhor o piso ruim, reduzindo até um pouco das vibrações. Tive sorte de poder testar isso em uma avenida perto de casa sendo recapeada e ainda naquele estado de asfalto raspado. Mesmo com nesta situação, não foi tão ruidoso quando deveria.
Seu espaço interno pode levantar algumas polêmicas. Os bancos traseiros tem uma boa área, mas bancos um pouco mais inclinados, o que vai incomodar algumas pessoas. Na frente, os mais altos terão um problema com as pernas batendo no acabamento da porta, por causa do puxador mais baixo. A posição de dirigir é um pouco mais alta do que na concorrência e pode levar um tempo para achar o ajuste ideal para o banco e volante, por conta do ponto mais alto da embreagem.
Falando nela, a embreagem segue bem mole e longa, assim como a alavanca da transmissão, de curso longo. É uma crítica recorrente envolvendo os carros da Fiat, só que não deve ser resolvida. Todas as vezes que falamos com alguém da marca sobre isso, a resposta sempre é de que muitos clientes gostam disso, por achar mais confortável.
Seu porta-malas é um ponto positivo, pois seus 525 litros de capacidade são os maiores do segmento. O ângulo dos bancos traseiros ajuda neste ponto, permitindo carregador um bom número de malas. O que atrapalha é a “boca” de entrada mais apertada, um efeito causado pelo formato da carroceria. Dependendo do tamanho da bagagem, vai ser necessário girar as malas até encontrar a posição correta.
Será difícil para que a concorrência consiga brigar com o pacote oferecido pelo Cronos Drive 1.0. Esqueça a versão de entrada. Custa R$ 3.700 a menos, mas não conta com a central multimídia de 7 polegadas, sensor de estacionamento traseiro, rodas de 15” e vidros traseiros elétricos. É uma economia que não vai valer a pena, ainda mais porque o Cronos 1.0 básico não traz nem um rádio.
Pode parecer um exagero dizer isso, mas é só olhar para os preços. O Cronos Drive 1.0 custa R$ 78.190. Um Chevrolet Onix Plus LT 1.0 sem opcionais sai por R$ 83.480, enquanto o Hyundai HB20S parte de R$ 85.990. O Volkswagen Voyage é comercializado por R$ 87.730 e não tem nem rádio. Com todos os opcionais disponíveis, como o pacote com câmera de ré, retrovisores elétricos, rodas de liga leve de 15”, controle de estabilidade e assistente de partida em rampas, o Cronos chega a R$ 82.820, ainda abaixo do preço dos rivais.
Mesmo sem os opcionais, traz o básico. Tem ar-condicionado, vidros elétricos nas quatro portas, computador de bordo com tela de 3,5”, sensor de estacionamento, multimídia de 7” com Android Auto e Apple CarPlay por fio, monitoramento de pressão dos pneus, direção elétrica, desembaçador e limpador traseiro, volante multifuncional e mais.
Isto não significa que fique devendo alguns itens. Poderia vir com, pelo menos, quatro airbags ao invés de ter somente as duas bolsas infláveis dianteiras obrigatórias – nem a versão topo de linha Precision 1.3 CVT ganha estes equipamentos e não é oferecido como opcional. O controle de estabilidade já poderia vir de série também, antecipando a mudança na legislação.
A Stellantis está apostando bem alto no Fiat Cronos 2023. Com um bom pacote de equipamento e um preço tão competitivo que incomoda até o Argo Drive 1.0, a versão Drive 1.0 tem a faca e o queijo na mão para que suba no ranking de vendas e comece a ser um dos sedãs compactos mais vendidos do país. O motor 1.0 vai atender quem quer um carro econômico e esperto na cidade, sem se preocupar em andar rápido ou não vai pegar estradas. E espere vê-lo pelas ruas substituindo o Siena nas frotas.
Falar em preço pode ser complicado. Mesmo que todos os carros estejam acima de R$ 70 mil, colocando o Cronos em perspectiva, ele está bem barato e mostra o posicionamento da Stellantis de oferecer um sedã ainda acessível em um segmento que passa de R$ 80 mil. Não só é o sedã mais barato do Brasil, está entre os carros mais em conta considerando todas as categorias. É agora ou nunca.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Fiat Cronos Drive 1.0
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