Apesar da era dos motores pequenos ajudados por turbocompressores, o downsizing não pegou totalmente o Hyundai Creta em sua nova geração. Para a versão Ultimate, manteve o 2.0 aspirado acompanhando o pacote mais completo de equipamentos, inclusive alguns assistentes de condução ausentes nas demais.
Junto, é a versão mais cara do SUV compacto, que ganhou um visual polêmico, porém parece que isso não atrapalhou suas vendas. Mas será que vale a pena pagar mais de R$ 160 mil e levar um motor já ultrapassado por alguns equipamentos a mais na comparação com as demais?
Até receber este Creta Ultimate, não tinha visto de perto os detalhes do novo Creta. Confesso que quando vi as primeiras fotos desta nova geração, acabei achando o SUV um pouco exagerado nos vincos e recortes dos faróis, mas depois de um tempo de convívio, acabei acostumando com o modelo, algo que também aconteceu quando testamos a versão Platinum com o 1.0 turbo.
No geral, o desenho do Creta Ultimate 2.0 é igual ao da versão posicionada logo abaixo, a Platinum 1.0 TGDI. As maiores diferenças visuais são as rodas de liga-leve exclusivas de 18" com acabamento diamantado, enquanto o aplique que começa na traseira e vai até o teto é pintado de preto em vez de cinza, assim como o teto também traz pintura preta. Os faróis têm arranjo interno diferente por serem do tipo full-LED (ausência criticada na Platinum), mantendo a assinatura do DRL no formato bumerangue.
O que sabemos é que o visual do Creta é polêmico mesmo, principalmente pelos faróis divididos em duas seções, a grade dianteira hexagonal imensa e as lanternas também divididas com formato pouco convencional e que fica moldada em um vinco na tampa do porta-malas. Durante meus deslocamentos até a redação ao longo da semana, por vários momentos notei que pedestres e outros motoristas (principalmente de SUVs compactos e do Creta antigo) olhavam com atenção. Se era por admiração ou reprovação, eu não sei, mas o que está constatado é que o Creta não é mais um utilitário prata no trânsito quando o assunto é design.
Por dentro, o Creta Ultimate 2.0 faz questão de mostrar a todos que é uma configuração topo de linha, pois é o único a combinar acabamento bege (mais próximo de um tom creme) com marrom. As cores estão espalhadas por todo o interior, com a parte central do painel pintada de bege e o restante em marrom, e isso tudo sendo feito em plástico – de boa montagem, aliás. No painel, o lado direito até traz textura que imita uma costura em couro que, embora seja feita de plástico, é bem acabada.
É verdade que a combinação de bege com marrom pode não agradar a todos (como seu design externo), mas também é uma aposta da Hyundai em fazer o Creta ter destaque em todos quesitos possíveis. Mas por questão de gosto e preço dos carros atuais, bem que um acabamento tradicional moldado no “preto básico” poderia estar disponível. Porém em tempos de escassez de componentes na indústria, a oferta de opções e customização ao gosto do consumidor é cada vez mais reduzida.
O que vale menção mesmo é o banco do motorista, que tem acabamento perfurado (presente em todos os assentos) e ventilação – que usei bastante durante os dias de calor em São Paulo. Os bancos têm bom apoio lombar e bastante conforto para longas viagens, pois são bem difíceis de cansar.
O que não dá para perdoar é a ausência de iluminação para os botões dos vidros (só o do motorista tem) e do travamento das portas em um carro que custa R$ 161.990. Já o multimídia se destaca na cabine com sua bela tela de alta resolução de 10,25”, mas o sistema poderia ter uma operação mais intuitiva com menor quantidade de menus.
O Creta de 2ª geração rompeu completamente com o SUV antigo, exceto por dois pontos: o vidro das portas dianteiras e o motor 2.0 naturalmente aspirado. A Hyundai afirma que atualizou o motor, que agora entrega 167 cv e 20,6 kgfm a 4.700 rpm, ganhando assim 1 cv e 0,1 kgfm. O SUV vem equipado com um câmbio automático de 6 marchas – também o mesmo do antigo, mas com uma calibração totalmente diferente, o que é uma boa notícia, pois o Creta 2.0 anterior segurava demais as marchas e fazia reduções fora de hora. Agora a suavidade é regra, o que acabou refletindo discretamente nos números de consumo.
Em nossos testes com etanol, o Creta até bebeu um pouco mais ao fazer média de 6,0 km/litro na cidade contra 6,3 km/l do antigo. Vale lembrar que o Creta tem seletor de modos de condução Normal, Eco, Sport e Smart (esse último exclusivo do 2.0), que mexe na resposta do acelerador, troca de marchas e resposta da direção.
No modo Eco as trocas são feitas ao melhor esquema “marcha sobre marcha”, enquanto que no Sport o SUV acaba segurando esticando a marcha por mais tempo para ganhar velocidade mais rápido. No modo Smart, exclusivo da Ultimate 2.0, o carro se molda ao estilo de condução do motorista. Ainda falando em consumo, a média no circuito rodoviário melhorou: foi de 10,8 km/litro para 11,2 km/l.
A sensação de força sob o capô do Creta “dois zero” continua como antes, principalmente quando anda carregado. Mas enquanto o modelo antigo era mais áspero em seu comportamento (e até meio afobado nas arrancadas, se assim podemos dizer), a segunda geração traz a progressividade como sua máxima. Tanto que o tempo de aceleração de 0 a 100 km/h subiu um pouco, indo de 9,9 segundos em nosso último teste para 10,4 s (o que no mundo real não é grande coisa). Na retomada de 40 a 100 km/h, o tempo melhorou (foi de 8s para 7,4s), enquanto a retomada de 80 km/h a 120 km/h se manteve igual (7s).
Rodando em estrada, não tive qualquer dificuldade em ultrapassagens, com o Creta embalando bem mesmo quando o modo Eco está ativo para favorecer o consumo. Circulando pela cidade o convívio também é tranquilo e não cansa, conforto que é ampliado por equipamentos exclusivos desta versão como o piloto automático adaptativo com assistência de manutenção e faixa.
Rodando pelas famosas Marginais aqui em SP, chamou a atenção a suavidade e precisão do sistema, que manteve o carro alinhado a faixa e freando tranquilamente no mesmo ritmo do trânsito. Na estrada, o sistema manteve a mesma precisão, sendo possível ajustar a distância em relação ao veículo à frente como é de praxe nesse tipo de recurso.
O Creta Ultimate 2.0 compartilha a suspensão dianteira independente do tipo McPherson e eixo de torção na traseira com toda a gama, o que não é diferente para a calibração que, assim como a Platinum 1.0 TGDI já testada, merece elogios. Mesmo com as rodas maiores de 18 polegadas nesta versão, a calibração é destaque, filtrando com maciez até as valetas e buracos mais inesperados pelo caminho, e isso sem ser “molenga”.
Em curvas, o SUV é bem mais “na mão” que o antigo, isso tanto pela direção direta quanto pela posição mais baixa de dirigir, bastante próxima a de um carro de passeio até, comunicando bastante o motorista o que acontece lá fora. Ponto positivo também para os freios com discos ventilados nas rodas dianteiras e discos sólidos nas traseiras, que evoluíram bastante (o antigo usava tambor na traseira) e transmitem mais segurança nas frenagens.
O conforto vai além da suspensão e chega no amplo espaço interno, bastante elogiado por familiares que pegaram uma carona comigo. O banco traseiro traz espaço generoso para as pernas mesmo com o banco do motorista ajustado para a minha altura de 1,85 metro, fora que atrás o piso é quase plano e ainda tem saída de ar dedicada de ar-condicionado. E aqui vale um destaque: fazia tempo que não andava em um modelo no qual três ocupantes iam bem confortáveis na parte de trás, isso graças a largura do carro, favorecida tanto pelo seu porte quanto pelo seu formato – que acaba aproveitando bem o espaço na cabine. Dessa vez forma e função deram certo.
O Creta Ultimate 2.0 vem bem equipado e traz itens de série exclusivos que deviam estar presentes ao menos na versão abaixo (Platinum 1.0 TGDI) como faróis full-LED, piloto automático adaptativo, sistema de frenagem automática de emergência e assistente de manutenção em faixa. Nesta versão são exclusividades ainda detector de fadiga, farol alto adaptativo, lanternas de LED, rodas de liga-leve aro 18”, acabamento interno em bege e marrom, volante de couro marrom, bancos de couro em marrom e bege e sistema de som com dois tweeters.
Itens como central multimídia de 10,25” com suporte via Android Auto e Apple CarPlay com fio, teto solar panorâmico, painel de instrumentos com tela de 7” colorida, monitor de ponto cego, freio de estacionamento eletrônico com função auto hold, monitor de pressão dos pneus e sistema Bluelink (pode-se usar o smartphone para ligar o motor, abrir as janelas, ajustar o ar-condicionado e mais) também fazem parte do pacote.
Vendido na faixa dos R$ 160 mil, o Creta Ultimate 2.0 começa a invadir o andar de cima. O Compass Sport é mais barato (R$ 158.990), o Corolla Cross XR tem o mesmo preço (R$ 161.990) e o Taos Comfortline sai por R$ 9.080 a mais (R$ 171.070). O Creta fica atrás deles em tamanho, mas contra-ataca com bom pacote de equipamentos. E apesar de ter carroceria um pouco mais compacta, sua boa dinâmica e motor 2.0 nos faz relembrar que sua base é de médio, o Elantra. A escolha sobre o que vale mais a pena fica para o seu bolso e gosto.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Hyundai Creta 2.0
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