Há um tipo de cliente bastante específico no mercado brasileiro. Acredito que você conheça alguém - ou seja um - que só compra carros de origem japonesa. Seja pela fama no pós-vendas, facilidade de revenda ou a robustez a qual eles ficaram famosos, Honda e Toyota tem clientes fiéis, mesmo que eles flutuem sobre as duas marcas entre as trocas de carro.
Recentemente, a Toyota apresentou o Corolla Cross, seu primeiro SUV produzido no Brasil. E basta ver seus números de vendas para perceber que ele tirou poucos clientes do sedã Corolla e, provavelmente, sua maior vítima está em outra loja: o Honda HR-V. Para ver o que cada um oferece, reunimos as versões com preços na faixa dos R$ 160 mil, Toyota Corolla Cross XRE 2.0 e o Honda HR-V Touring, com o motor 1.5 turbo. Não apenas pelo preço, mas ambos tem portes semelhantes, mesmo que o mercado olhe um como médio e o outro, como um compacto. Vamos para esta briga?
Produzido sobre a mesma plataforma do Fit, o HR-V herdou o espaço interno bem aproveitado e sua modularidade com o tão famoso sistema Magic Seat, que podem transformar o interior em algo bem amplo para levar vários tipos de objetos. Lógico que é maior que o Fit e colocando o HR-V entre os maiores do segmento de SUVs compactos, mesmo depois de 6 anos de lançamento.
O que separa o Corolla Cross do HR-V na ficha técnica e na categoria são 14 cm. O Honda tem 4,32 m de comprimento, enquanto o Toyota, 4,46 m. Mas se por fora essa diferença é pouco percebida quando são colocados lado a lado, na prática ela aparece mais, mas com vantagem para o Honda, por incrível que pareça. Na cabine, com o banco do motorista ajustado para uma pessoa de 1,85 m (minha altura), quem vai sentado no banco traseiro do Toyota vai ficar um pouco mais apertado, com os joelhos bem próximos do banco do motorista.
Mais uma vez, a ficha técnica joga contra a prática. A distância entre-eixos fica a favor do Corolla Cross (2.651 mm), mas na prática os 2.610 mm do HR-V são melhor aproveitados. Se o Corolla Cross tivesse os mesmos 2.700 mm de entre-eixos do sedã Corolla, ou 49 mm a mais, isso poderia ser bem diferente. A vantagem do SUV da Toyota é que os ocupantes do banco traseiro podem reclinar o encosto, que é ajustável em duas posições, as saídas de ar na porção central e grandes porta-copos nas portas.
De contrapartida, os bancos do HR-V são mais macios e com boa densidade de espuma, assim não cansam quando se dirige por muitas horas, enquanto o assento do Corolla Cross é um pouco mais firme. É importante pontuar ainda que a sensação de espaço do HR-V é maior devido a maior altura da cabine (1.650 mm) em relação ao SUV da Toyota (1.620 mm) – que traz um perfil mais baixo e até mais próximo de uma perua do que um SUV.
No porta-malas, o HR-V até poderia empatar com o Corolla Cross (440 litros), mas em vez dos 437 litros da maioria das demais configurações, a Touring tem porta-malas menor por conta do assoalho mais elevado pelo sistema de escapamento exclusivo do motor 1.5 turbo, que traz silencioso maior e dupla saída de escape na traseira. Com isso, o espaço para bagagens acabou sendo reduzido para 393 litros, ou 44 litros a menos. Assim, o Corolla Cross acaba levando vantagem e, além de seu porta-malas ter maior capacidade, também é mais fundo.
Vantagem: Empate
Geralmente um modelo de categoria superior tem acabamento melhor, certo? Toda regra acaba tendo sua exceção. O Corolla Cross tem boa qualidade construtiva e traz superfícies suave ao toque na parte central do painel e na parte superior e central das portas (inclusive nas traseiras, local onde geralmente as marcas economizam), mas o HR-V responde com maior capricho, ainda mais especialmente nessa versão Touring, que recebe couro preto e creme nos bancos e no painel e até no console central elevado.
Os painéis das portas do SUV da Honda são inteiramente revestidos de couro até a região dos apoios de braço, enquanto o teto tem forro na cor creme - o que ajuda a garantir um ar mais premium. O Corolla até conta com bancos de couro, mas eles trazem padronagem mais clássica na tonalidade preto que, apesar de mais comuns, dão menos trabalho na hora de limpar. Mas como a sensação percebida de acabamento é o que conta, o HR-V sai na frente nesse quesito.
No pacote de equipamentos, só o HR-V Touring traz teto solar panorâmico elétrico, freio de estacionamento eletrônico, sistema Brake Hold (mantém o carro parado em semáforos sem que o motorista precise ficar pisando no freio), sensor de estacionamento dianteiro e câmera acoplada no retrovisor direito, que mostra o ponto-cego que você não veria pelo espelho retrovisor. Essa câmera adicional é ativada quando a seta é ligada para este lado ou por um botão central na chave de seta.
O SUV soma ainda iluminação interna em LEDs, chave presencial, partida por botão e ar-condicionado automático com comandos sensível ao toque, que não são nada intuitivos de serem operados quando se está ao volante. Soma ainda piloto automático, rebatimento elétrico dos retrovisores externos, retrovisor interno fotocrômico, faróis full-LED, luzes de neblina e lanternas em LEDs, rodas aro 17", acendimento automático dos faróis, aletas atrás do volante para trocas manuais e limpador do para-brisa com acionamento automático.
O maior pênalti do HR-V fica para o painel de instrumentos, que 6 anos depois de seu lançamento continua o mesmo, inclusive com tela monocromática do computador de bordo somente com o básico (consumo, autonomia). Não há sequer um velocímetro com marcador digital. O utilitário da Toyota não traz um painel revolucionário, mas ao menos combina a instrumentação analógica a uma tela de 4,2 polegadas colorida com diversas informações, inclusive o velocímetro digital que o HR-V não tem – algo básico no mercado atual.
Em resumo, o Corolla Cross XRE traz de série retrovisores com setas e rebatimento elétrico, ar-condicionado automático, porta USB traseira, faróis com acendimento automático, luzes diurnas, vidros elétricos com função "um toque", volante multifuncional em couro com ajuste de altura e profundidade, faróis de neblina em LEDs, sensor de estacionamento traseiro e rodas aro 18". Tem ainda bancos de couro, chave presencial, partida por botão, piloto automático, retrovisor interno fotocrômico, faróis e lanternas em LEDs, limpador do para-brisa com acionamento automático e aletas atrás do volante para trocas de marcha.
Você está sentindo falta de algo no Corolla Cross? Sim, assim como todas as configurações, a versão XRE também conta com o freio de estacionamento ativado pelo pé, que fica basicamente no local onde ficaria uma embreagem no SUV se ele tivesse uma versão manual - embora o freio fique bem mais para cima quando não está acionado. E reforçamos aqui: esse é um dos maiores incômodos no Corolla Cross, uma economia de custo que acabou sendo alvo de muitas críticas. Poderia ter um freio de estacionamento de acionamento eletrônico, como a versão norte-americana.
No dia a dia leva tempo para se acostumar e memorizar onde o “freio de pé” fica exatamente, algo incômodo principalmente à noite. Além disso, se você pisar muito forte no pedal, vai ter um pouco de trabalhar para trazê-lo de volta quando tiver que soltá-lo. Situação idêntica ao de quem puxa o freio de mão com muita força, mas com a diferença da ergonomia ser bem pior. Ou seja, praticidade zero.
Vantagem: HR-V
Aqui vai um quesito em que ambos fazem a lição de casa: a segurança. O Corolla Cross tem a seu favor 7 airbags (dois de cortina, um de joelho para motorista, dois frontais e dois laterais para motorista e passageiro), enquanto o HR-V tem 6 bolsas (frontais, laterais e de cortina) – uma a menos que o utilitário da Toyota. Ambos têm os controles eletrônicos de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas e câmera de ré.
No sistema multimídia, ambos não são as grandes referências nesse aspecto, já que seus sistemas ficam aquém até e hatches compactos do mercado brasileiro. Mas o Corolla Cross traz uma central com tela de 8 polegadas destacada no painel, enquanto o HR-V traz uma tela de 7”, considerada pequenas para os padrões atuais e que sofre com o excesso de reflexos, principalmente em dias muito ensolarados.
Ambas têm suporte para espelhamento de Apple CarPlay e Android Auto por meio de cabos, mas o sistema da Toyota é ainda um pouco mais rápido que o da Honda – que implora por atualizações. No mais, o acesso as entradas USB do HR-V não são nada práticas, ficando embaixo do console central, com as do Corolla Cross sendo mais acessíveis ali na parte central do painel.
Vale a observação: ambos ficam devendo itens como piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem automática e assistente de faixa, itens que existem já em modelos mais baratos do mercado brasileiro. Pênalti para os dois!
Vantagem: Corolla Cross
O HR-V Touring tem p motor 1.5 turbo importado do Japão, que só pode ser abastecido a gasolina, algo que talvez possa ser relevado hoje em dia devido ao preço dos combustíveis e a desvantagem do etanol frente a gasolina. O conjunto do HR-V Touring é exclusivo da versão e tem injeção direta, com 173 cv e 22,4 kgfm de torque. Compartilhado com o Civic Touring, este motor na prática transmite a impressão de ser mais forte do que os números da ficha técnica informam.
Por sua vez, o Corolla Cross vem da tradicional escola dos motores naturalmente aspirados, no qual o 2.0 flex rende até 177 cv e 21,4 kgfm de torque, vindo com um sistema de injeção direta e indireta. Em comum, tanto o HR-V Touring quanto o Corolla Cross XRE têm seus propulsores combinados a um câmbio automático tipo CVT, com o SUV da Honda simulando 7 marchas e o da Toyota 10 marchas, sendo a primeira física.
E como aqui estamos falando de escolas diferentes, o HR-V com seu motor 1.5 turbo tem melhores retomadas (6,4 s contra 7,2 s de 40 a 100 km/h), com a maior diferença sendo sentida mesmo na aceleração de 0 a 100 km/h, cumprida em 8,5 segundos pelo HR-V e 10,1 s pelo Corolla Cross. O conjunto do HR-V entrega potência e principalmente o torque de forma mais progressiva, sem dar aquela “patada” imediata em uma arrancada, mas ganhando velocidade rapidamente e sem morrer em média/alta rotação – algo comum em outros modelos concorrentes turbinados.
Já o Corolla Cross XRE tem dinâmica mais pacata e mais voltada ao conforto, embora não deixe a desejar na hora de uma ultrapassagem na estrada, por exemplo. Mérito do câmbio CVT com a primeira marcha física, que reduz muito aquela sensação de delay na aceleração, assim o motor 2.0 responde de imediato e sobe de giro com vontade. Vale destacar aqui o isolamento acústico da cabine, que te isola bastante dos ruídos do trânsito na cidade ou do som da rolagem dos pneus na rodovia, méritos da plataforma TNGA mais moderna e de construção mais sólida.
Mas isso não significa que o HR-V Touring é barulhento, longe disso, mas ele ainda é derivado de um modelo compacto e de construção mais simples. Um ponto que vale mencionar é a questão da dirigibilidade, onde o HR-V traz mais características de SUV do que o Corolla, principalmente por sua posição mais alta de dirigir e suspensão com calibragem pouquíssima mais macia. Algo que deve agradar mais quem procura este tipo de carro.
O HR-V também enfrenta valetas com mais facilidade que o Corolla Cross, que é mais baixo e tem frente mais “bicuda”, ou seja, tem mais chances de raspar a dianteira. Já na estrada os dois têm boa desenvoltura, contornando curvas até que bem apesar da suspensão traseira por eixo de torção. Em ambos a carroceria acaba oscilando um pouco, mas nada que transmita falta de segurança, muito pelo contrário.
Como já dissemos outras vezes aqui no Motor1.com, se fechar os olhos no SUV da Toyota vai se sentir numa Corolla Fielder, tamanha a semelhança com a dirigibilidade de um carro de passeio e a posição mais baixa do banco. A carroceria também é mais próxima ao solo do que o HR-V, o que acaba reforçando essas impressões. Os dois SUVs têm modos sport, cuja rotação do motor aumenta quando ativado – sendo através de botão no Corolla Cross e pela alavanca de câmbio em “S” no HR-V.
Por fim, além da maior agilidade por conta do maior torque que é entregue em uma ampla faixa de giros (de 1.700 a 5.500 rpm), o HR-V 1.5 turbo também se aproveita do downsizing para as melhore médias de consumo na gasolina, fazendo 10,2 km/litro na cidade contra 7,0 km/litro do Corolla Cross abastecido com etanol. No caso do SUV da Toyota, essa média de consumo pode cair razoavelmente se você tiver o pé mais pesado.
Vantagem: HR-V
Em relação a preços, o Honda HR-V Touring não sai por menos que R$ 164.300 e o Toyota Corolla XRE é vendido por R$ 164.190. Quando o assunto são as revisões, o padrão aqui é a cada 10.000 km ou 1 ano para ambos os modelos, com a primeira revisão vindo com mão de obra gratuita para o Corolla Cross. Para o HR-V, a mão de obra é na faixa nas duas primeiras revisões, embora suas revisões até 50.000 km sejam R$ 191,56 mais caras. A garantia é de 5 anos para o Corolla Cross e de 3 anos para o SUV da Honda.
Honda HR-V Touring 1.5T | Toyota Corolla XRE 2.0 | |
1ª revisão | R$ 380,12 | R$ 445,69 |
2ª revisão | R$ 609,41 | R$ 900,00 |
3ª revisão | R$ 624,42 | R$ 621,00 |
4ª revisão | R$ 1.800,88 | R$ 1.260,00 |
5ª revisão | R$ 624,42 | R$ 621,00 |
TOTAL | R$ 4.039,25 | R$ 3.847,69 |
Vantagem: Corolla Cross
Apesar do empate técnico aqui entre o HR-V Touring e Corolla Cross XRE, com cada um deles levando vantagem em dois quesitos cada e empatando em um, o HR-V justifica os R$ 300 a mais (somando a diferença do preço de tabela entre os SUVs + revisões) ao trazer um pacote de equipamentos mais completo e mais condizente com um modelo dessa faixa de preço, à exemplo do teto solar panorâmico, freio eletrônico com Brake Hold e câmera de ponto cego.
A cabine com revestimento em creme e acabamento mais refinado, além do motor 1.5 turbo mais "torcudo" e econômico também jogaram a favor do SUV da Honda, apesar do seu visual de 6 anos já estar "cansado" . O que vale de crítica para ambos é que o preço na casa dos R$ 160 mil poderia ser justificado com mais equipamentos, principalmente piloto automático adaptativo e sistema de frenagem de emergência, itens que já aparecem em carros de segmentos inferiores no mercado nacional.
Por outro lado, o Honda irá mudar em 2022. E sabemos que o cliente que busca um carro japonês se preocupa com isso. Neste caso, o Toyota é uma compra mais segura, apesar de menos equipado, e está em uma categoria superior, mesmo que tenha um espaço interno inferior ao do Honda. Jogadas as cartas orientais na mesa, qual a sua compra, caro cliente tradicional?
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Honda HR-V 1.5T Touring | Toyota Corolla Cross XRE 2.0 | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.498 cm3, turbo, injeção direta, comando duplo variável, gasolina | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.987 cm3, comando duplo com variador na admissão e escape, injeção direta e indireta, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 173 cv a 5.500 rpm; 22,4 kgfm de 1.700 a 5.500 rpm |
169/177 cv a 6.600 rpm; 21,4 kgfm a 4.400 rpm |
TRANSMISSÃO | Automática CVT com simulação de 7 marchas, tração dianteira | automático tipo CVT com simulação de 10 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 17" com pneus 215/55 R17 | liga leve aro 18" com pneus 225/50 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira |
PESO | 1.380 kg em ordem de marcha | 1.420 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.329 mm, largura 1.772 mm, altura 1.650 mm, entre-eixos 2.610 mm | comprimento 4.460 mm, largura 1.825 mm, altura 1.620 mm, entre-eixos 2.640 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 393 litros, tanque 51 litros | tanque 47 litros, porta-malas 440 litros |
PREÇO | R$ 164.300 | R$ 164.190 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Honda HR-V 1.5T (gas.) | Toyota Corolla Cross 2.0 (eta.) | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h |
4,2 s |
4,7 s | |
0 a 80 km/h | 6,0 s |
7,1 s |
|
0 a 100 km/h | 8,5 s | 10,1 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 6,4 s | 7,2 s | |
80 a 120 km/h em S | 6,0 s | 6,7 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 39,6 m | 41,7 m | |
80 km/h a 0 | 25,7 m | 26,8 m | |
60 km/h a 0 |
14,6 m |
15,2 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 10,2 km/l | 7,0 km/l | |
Ciclo estrada | 13,6 km/l |
9,5 km/l |
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Honda HR-V sobe de preço e passa de R$ 200.000; veja tabela
Lista: os carros manuais que restaram em 2024 que não são básicos
Flagra: novo Honda HR-V 2026 já roda em testes no Brasil
Jaguar revela novo logotipo e sinaliza como será 'recomeço elétrico'
Honda HR-V 2025 é lançado com facelift; veja o que muda
Black Friday GM: Onix e Tracker têm R$ 13 mil de desconto e taxa 0%
Avaliação: Honda HR-V Touring 1.5T e o preço do sucesso