A receita dos subcompactos nunca foi um sucesso no Brasil. Apesar de opções baratas diante do restante do mercado, pouco convenciam pelo menor espaço interno e equipamentos quando comparados, por exemplo, aos hatches compactos, como Chevrolet Onix e Hyundai HB20. Mas um novo cenário do mercado brasileiro parece ter mudado essa percepção.
O Fiat Mobi é um bom exemplo. Se antes ficava escondido nos rankings de vendas, hoje aparece entre os mais vendidos e muita coisa pode explicar essa reviravolta. Entre elas, podemos colocar algumas mudanças que a Fiat fez em seu menor modelo, como a inclusão do sistema multimídia UConnect e a versão Trekking, com estilo aventureiro, além da troca de toda a comunicação da marca pelo carro, como visto no restante da linha, com o novo logo da marca na grade. Mas não foi só isso.
O consumidor está procurando novas formas de se locomover no dia a dia. Evitando transporte público e aplicativos, mas ainda sem muito dinheiro na hora de comprar o carro zero, deixam de olhar para os hatches compactos, que subiram os preços, e consideram os subcompactos principalmente para o uso urbano. Também procuram motores mais econômicos e de fácil manutenção com alguma dose de conforto, como ar-condicionado e direção assistida.
E foi aqui que o Fiat Mobi se deu bem. Já que o Argo aumentou de preço, o subcompacto encontrou o consumidor, pessoa física ou cliente corporativo, carente de opções. Também pegou a onda "dos SUVs", com a suspensão elevada e apliques pela carroceria não só para a versão Trekking, mas também para a Like. O Trekking tem adesivos como no Argo Trekking e o teto em preto e os logos identificadores da Fiat e do modelo escurecidos. Lembra do Mobi Way? É o seu substituto com mais estilo.
O Fiat Mobi Trekking tem um pacote, digamos, curioso de equipamentos. Posicionado como o topo da gama, já vem de série com ar-condicionado, direção hidráulica (uma das falhas que comentaremos mais adiante), banco do motorista com regulagem de altura, vidros dianteiros elétricos, computador de bordo, travas elétricas com chave canivete e o sistema multimídia UConnect, com tela de 7" e espelhamento de smartphones sem fio, algo ausente até em modelos mais caros dentro da própria marca.
Entre os pacotes opcionais, como no carro testado, o Pack One, que adiciona a regulagem de altura do volante, regulagem de altura dos cintos de segurança, comando de abertura interna do tanque de combustível, retrovisores externos elétricos e sensor de estacionamento traseiro. O Pack Style coloca as rodas de liga-leve de 14" (de série, é ferro com calotas) e faróis de neblina. Controles de tração e estabilidade? Esquece...
O Mobi Trekking usa o já conhecido motor 1.0 Fire, ainda na era dos 4-cilindros e 8 válvulas. Marcado pela robustez e confiabilidade do mercado, tem 73/75 cv e 9,5/9,9 kgfm de torque - mais que os 66/70 cv e 9,4/9,8 kgfm o Renault Kwid, seu único concorrente direto. É um motor que não tem muita tecnologia, como variador de fase no comando único, e um "sobrevivente" na era dos tricilíndricos.
É o melhor motor que a Fiat tem em sua prateleira? Não, já que o próprio Mobi já utilizou o Firefly de 3 cilindros na finada (e até mesmo saudosa, dependendo do ponto de vista...) versão Drive. Entendemos a questão dos custos e manutenção, mas ao menos nesta versão topo bem que poderia ser ele. Voltando ao Fire, ele está ligado ao câmbio manual de 5 marchas característico da Fiat.
No fundo, pouco mudou no Mobi desde que foi apresentado em 2016. A não ser a comunicação visual da Fiat e o sistema multimídia UConnect, o Mobi Trekking é a reencarnação do Way, a versão aventureira com motor 1.0 Fire que não durou muito tempo na época. Eu mesmo testei o antigo Way em seu lançamento e temos o mesmo carro, uma receita acertada principalmente para o uso urbano, mas agora no momento certo.
Em ruas cheias de picapes e SUVs, o Mobi é um "anão no parque dos gigantes". Em tempos em que brigo com os novos lançamentos e suas grandes dimensões para os encaixar na minha vaga de garagem - ou no shopping e mercado -, estacionar o pequenino e ver sobrar vaga é algo curioso, por assim dizer. O mesmo se reflete no trânsito urbano, onde o Mobi entra em vãos e espaços onde não entraria com outro carro tão tranquilamente. Sim, isso até me ajudou a chegar 2 ou 3 minutos mais cedo em casa, por incrível que pareça.
O 1.0 Fire é valente. Apesar da sua preferência por rotações mais altas quando comparado aos novos 3-cilindros, os 967 kg do Trekking são levados com desempenho satisfatório na cidade, principalmente saídas de semáforos ajudado pelo câmbio de relações curtas. O consumo de 9,4 km/litro com etanol não é ruim, mas lembrar que o Drive chegava a mais de 10 km/litro e com melhor desempenho nos faz pensar mais uma vez que ele faz falta aqui.
O Mobi Trekking tem uma altura do solo de 190 mm. Não que isso o torne um off-roader, mas ajuda na hora das valetas, ajudado também pelos curtos balanços dianteiro e traseiro, e pelo curso da suspensão na hora de absorver os impactos. Se nos SUVs isso é um ponto que ajuda na venda, a volta do Mobi aventureiro também se encaixa nessa proposta. Dever a direção elétrica torna o uso urbano um pouco mais cansativo, dando mais uma vez saudade do antigo Drive.
Apesar de não ser seu ambiente favorito, o Mobi Trekking até encara uma estrada. Mas as ultrapassagens precisam ser mais planejadas, assim como o câmbio curto deixa a rotação mais alta e incomoda um pouco em ruído, tanto do motor, quanto do vento pela carroceria. A vedação é boa, mas é impossível não ouvir a aerodinâmica agindo (ou não) no subcompacto. Mais alto, balança em velocidades mais altas. E os bancos dianteiros irão te cansar logo.
Entendemos a preferência do mercado pelos hatches maiores quando partimos para o interior. Se no acabamento o Mobi está no mesmo nível dos compactos, o espaço interno condiz com seu tamanho externo. Nos bancos da frente, adultos de acomodam suficientemente bem para o uso urbano, mas o banco traseiro já se torna um desafio dependendo do tamanho do ocupante. Não precisa ser alguém maior para enroscar o joelho no encosto do banco dianteiro, apesar das portas com ampla abertura e que até ajudam o acesso. Apesar da homologação para 5 ocupantes, 4 já é um bom desafio.
No porta-malas, um habitáculo pequeno e profundo com 200 litros de capacidade. Esqueça malas ou mochilas muito grandes não só pelo espaço, mas pela pequena boca de entrada. Com o passar dos anos, ele perdeu uma caixa que ajudava um pouco e que estava no Mobi em seu lançamento, assim como a opção de vidros traseiros elétricos.
No caso do Fiat Mobi Trekking, ele custa iniciais R$ 58.940. Se colocar os pacotes opcionais, chegamos aos R$ 62.740, um valor que já "assusta" pelo seu tamanho. Dentro de casa mesmo, o Fiat Argo 1.0 custa R$ 65.690, mas oferece equipamentos a menos. O Hyundai HB20 Sense, já com os controles de tração e estabilidade e 4 airbags, custa R$ 60.390. É uma questão de decisão do cliente pelo velho dilema: o menor completo ou o maior básico?
Se o Mobi Trekking, como versão topo do subcompacto, oferecesse o motor 1.0 Firefly, direção elétrica, controles de tração e estabilidade e mais alguns itens neste mesmo preço, seria um melhor negócio. Como opção neste mundo novo, entendeu o desejo dos clientes pelo estilo aventureiro e conectividade, mas como no geral do atual mercado automotivo, não cobra pouco por isso.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
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Fiat Mobi Trekking
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