Raras em nosso mercado, as picapes médias com motorizações flex ainda resistem. A mais vendida é a Chevrolet S10 2.5, com 70% das vendas do segmento em 2020 - lembrando que sua única concorrente direta é a Toyota Hilux 2.7. Dentro do seu catálogo, representa 10% das vendas, ou cerca de 1.300 unidades em 2021 até junho.
Pode parecer pouco, mas é o suficiente para seguir viva e sem uma previsão que isso mude ao menos até uma nova geração da picape de São José dos Campos (SP). Na linha 2022, a Chevrolet S10 perdeu versões com o motor 2.5, ficando apenas a Advantage com câmbio manual e tração 4x2 e a mais procurada, LTZ com câmbio automático de 6 marchas e tração 4x4, que testamos aqui.
Um dos pontos que justifica esta sobrevivência é o preço. Não é barata, mas a Chevrolet S10 2.5 LTZ 4x4 custa R$ 199.070, ou R$ 41.310 de diferença para a sua equivalente com o 2.8 turbodiesel. Se considerar apenas isso, a flex até poderia vender mais, mas há também a questão do público. Segundo a Chevrolet, a S10 LTZ 2.5 acaba ficando com pessoas que a usam no lazer, com a necessidade da caçamba, e acabam usando a picape também na cidade no dia a dia - um cliente que, em boa parte, se converteu para a Fiat Toro.
O que ajuda a S10 flex a não dever muito a turbodiesel é seu motor 2.5. É um aspirado de 4 cilindros com injeção direta e variador de fase nos comandos de admissão e escape, resultando em bons até 206 cv (a 6.000 rpm) e 27,3 kgfm de torque com pico a 4.400 rpm. É mais potente que o 2.8, porém não tem a ajuda do turbo e consideravelmente menos torque - são 200 cv e 51 kgfm de torque no turbodiesel. E dependendo do seu uso, ele já é suficiente.
Na cidade, a S10 2.5 é até mais dócil e suave que a 2.8. Vibra menos e entrega a força de forma mais linear e silenciosamente. Mesmo não tendo muita força, boa parte desses 27,3 kgfm já aparece em rotações mais baixas e a picape se desloca como um carro comum, sem a sensação de estar se arrastando. O motor, que é produzido em São José dos Campos ao lado da picape, até pode ser aproveitado em uma nova geração da S10 se a marca quiser.
A picape no uso urbano é uma mistura de altos e baixos. Suas dimensões não são as melhores para isso e exigem um certo costume do motorista, que precisa redobrar a atenção principalmente em vias mais estreitas. Por outro lado, a altura livre do solo e a suspensão feita para aguentar mais do que isso no uso fora-de-estrada nem sente os buracos urbanos, apesar da traseira ainda pular bastante, uma caraterística dos feixes de mola.
A S10 também tem alguns problemas de ergonomia. A coluna de direção tem regulagem apenas de altura, o que dificulta achar uma boa posição de dirigir e os bancos, com regulagens elétricas, são rasos e cansam em períodos mais longos ao volante. No banco traseiro, o espaço é bom, mas o encosto mais reto, característica das picapes, prejudica o conforto dos ocupantes.
A Chevrolet diz que manteve a S10 2.5 em linha justamente para atender essa demanda que, apesar de pequena, por vários motivos não migou para a Fiat Toro. Na comparação com o cliente da 2.8, é um comprador que roda menos - logo demora mais pra compensar o custo extra na hora da compra com combustível, por exemplo - e que procura justamente o conforto que citamos logo acima. Mesmo assim, manteve a robustez da construção chassi-carroceria e o volume da caçamba que, apesar de levar apenas 816 kg, tem 1.061 litros de volume e conta até mesmo com um amortecedor na tampa.
Sem a força do 2.8, a S10 2.5 sente essa diferença em alguns usos. Na estrada, por exemplo, mantém com facilidade a velocidade de cruzeiro, mas as ultrapassagens precisam ser mais programadas - a retomada de 80 a 120 km/h, em nossos testes, é feita em 9,1 segundos, ante os 8,3 segundos da 2.8. O 0 a 100 km/h é feito em 11,8 segundos, ante os 10,6 segundos da turbodiesel, ambas vazias. A transmissão automática de 6 marchas trabalha suave e sem trancos.
O consumo pode ser uma outra questão de dúvida ao comprador. Mesmo moderno, o 2.5 precisa levar nada menos que 1.934 kg e, com etanol, ele registra 5,3 km/litro na cidade e 6,9 km/l na estrada. Como comparação, o 2.8 faz 8,7 e 11,4 km/l, respectivamente, em nossos testes. E na gasolina, apesar de não serem os números em nossos testes oficiais, tivemos uma média de 7,5 km/l no misto de cidade e estrada, como uma referência.
A S10 2.5 tem uma concorrência tripla. Além de dentro do próprio segmento com a Toyota Hilux 2.7 flex (que na versão SRV 4x4 custa R$ 204.090), ainda há a S10 2.8 turbodiesel nas versões mais básicas, a Ford Ranger Black (4x2, mas com 2.2 turbodiesel por R$ 193.690) e outras turbodiesel de entrada, além da já citada Fiat Toro que, com o novo motor 1.3 turbo, chega aos R$ 147.590 na versão Volcano e, 2.0 turbodiesel, custa até R$ 189.990 na Ranch.
Para quem a Chevrolet S10 2.5 se justifica? Aos que querem economizar estes mais de R$ 40 mil na hora da compra e que usarão a picape quase como um carro de passeio, e que ainda procuram as características que apenas o segmento de médias oferece e até mesmo a tração 4x4 e maior altura do solo. Na versão LTZ, há itens de conforto como sistema multimídia com tela de 8" com Apple CarPlay e Android Auto sem fio, piloto automático, bancos em couro com ajustes elétricos, partida remota e ar-condicionado automático, mas deve coisas pequenas na faixa de preço, como chave presencial e regulagem de profundidade na coluna de direção.
E até onde sobreviverão as picapes flex? Só o mercado dirá. S10 e Hilux seguem como opções únicas e cada vez mais escassas diante do mercado e talvez isso só piore com a chegada de novas concorrentes no segmento da Toro, até mesmo dentro da própria Chevrolet, com a nova Montana em 2022. Em 2023, a S10 terá uma nova geração e lá saberemos como isso tudo ficará.
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Chevrolet S10 2.5 4x4 AT6 (testes com etanol)
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