Um ainda tem ar de novidade, o outro caminha para seu último ano de mercado na atual geração. Mas, quando olhamos as vendas de SUVs no ano passado, percebemos que eles travaram um duelo particular na disputa pelos clientes, com apenas 1.615 unidades separando-os no total de emplacamentos de 2020.
Estamos falando do novo Chevrolet Tracker, lançado em março passado, e do Hyundai Creta, que começou a ser vendido por aqui no começo de 2017. Em comum, além dos números de venda semelhantes, eles têm o porte muito parecido - o que pode ajudar a explicar o sucesso de ambos, pois estão entre os mais espaçosos do segmento.
Outra coisa que aproxima essa dupla é o preço. Enquanto o Tracker Premier 1.0 sai por R$ 117.990, o Creta Prestige 2.0 é tabelado a R$ 113.990, com a diferença que o modelo da Chevrolet não é exatamente o topo de linha - ainda existe o Tracker Premier 1.2, que, além do motor mais potente, adiciona também o teto-solar panorâmico, totalizando R$ 126.190. Mas, por conta da nossa carga tributária antiquada, que ainda privilegia os motores até 1 litro (quando na verdade os 1.2 e 1.3 são mais eficientes), a GM se viu obrigada a lançar também uma versão Premier com o motor 1.0 para ter preço (um pouco) mais atraente.
Feitas as apresentações, vamos ao duelo!
Parece uma daquelas coincidências da vida, mas na verdade mostra como os fabricantes se estudam: Tracker e Creta têm exatamente o mesmo comprimento de 4,27 metros, o que os deixa bem posicionados na categoria em termos de espaço interno e porta-malas. O modelo da Hyundai leva pequena vantagem de 2 cm no entre-eixos, mas na prática ambos recebem bem os ocupantes do banco traseiro, com boa acomodação tanto para as pernas quanto para a cabeça. O GM é um pouco mais largo, mas ainda assim nenhum deles é suficiente para 5 adultos - o ideal são 4 adultos e 1 criança.
Na frente, a dupla é confortável e oferece locais adequados para guardar objetos e pertences, até com configuração parecida entre eles: porta-celular à frente do câmbio (ambos com carregador wireless) e 2 porta-copos no console central, além do porta-trecos com tampa entre os bancos. Na parte traseira, o Creta conta com saída de ar-condicionado, enquanto o Tracker tem duas portas USB. Uma praticidade exclusiva do Hyundai é a chave-pulseira emborrachada, ideal para quem pratica esportes e não quer levar a chave no bolso, ou ainda para os dias de praia.
O SUV de origem coreana também se dá melhor no porta-malas, com capacidade para 431 litros, contra 393 litros do modelo produzido em São Caetano do Sul (SP).
Vantagem: Creta
Fruto de um projeto mais novo, o Tracker aposta na conectividade. Além das duas portas USB traseiras, ele tem mais uma na frente e uma multimídia com tela maior (8 contra 7 polegadas) e chip 4G integrado para oferecer internet a bordo, além de poder conectar 2 smartphones ao mesmo tempo. Também possui tela do computador de bordo colorida e com informações extras, como a vida útil do óleo e o monitoramento da pressão dos pneus.
Ambos contam com itens de segurança como 6 airbags e controle de estabilidade, mas, novamente por ser mais moderno, o Tracker já adiciona o alerta de proximidade do carro à frente com frenagem de emergência, alerta de ponto cego e o sistema de monitoramento e concierge OnStar. Também só o GM vem com iluminação full-LED, com faróis de facho mais claro e eficiente, além de lanternas mais chamativas.
Na parte de comodidades, ambos oferecem ar digital automático, chave presencial, botão de partida, sensores de chuva e iluminação e sensores de estacionamento. O Tracker vai mais além e oferece o assistente de estacionamento automático (park assist). O Creta responde com o conforto extra do banco ventilado, sem falar que seu sistema de ar-condicionado se revelou mais eficiente que o do rival em dias de forte calor.
Mais rico em equipamentos, o SUV da GM não acompanha o da Hyundai quando passamos ao acabamento. Ambos usam o plástico rígido como principal matéria prima do interior, mas no Creta a qualidade é nitidamente superior, tanto no aspecto visual quanto no tato, além do revestimento que imita couro dos bancos ser bem mais refinado, não só pela cor (bege e marrom) quanto pelo acabamento microperfurado.
No Tracker, a tentativa de se descolar do Onix veio com um curvim azul de gosto duvidoso, especialmente no tecido com textura xadrez aplicado nas portas, de toque que não condiz com o preço do carro.
Vantagem: empate
Tracker e Creta entregam ao motorista aquilo que o cliente de SUV gosta: posição elevada de dirigir, postura mais ereta, boa visibilidade à frente e para os lados, e o capô bem presente no campo de visão (especialmente no GM, que até parece ser um utilitário de maior porte). Ambos contam com regulagem de altura e distância da direção, além do ajuste de altura do banco, com assentos confortáveis. A notar no Tracker o uso de bancos mais cômodos que os do Onix, boa medida para acompanhar o conforto do Creta.
O volante do Tracker é mais estiloso e melhor de segurar, comandando uma direção mais leve que combina com a suspensão macia. Em relação ao Onix, é nítido como a GM trabalhou para dar mais curso e capacidade de absorção de impactos ao SUV, que acabou melhor que o Hyundai neste aspecto. O Creta, porém, transmite mais solidez nos buracos e, embora sacoleje um pouco mais em pisos ruins, tem um conjunto bem acertado. Em curvas fechadas ou velocidades mais altas na estrada, o coreano é um pouco mais "na mão", ainda que o Chevrolet não deixe de transmitir segurança - é apenas uma questão de opção de acerto dinâmico de cada marca.
Ambos se apoiam em rodas aro 17" com pneus 215, sendo os do Tracker de perfil um pouco mais alto (55 contra 50), o que contribui para o conforto, mas "dobra" um pouco mais nas curvas e desvios rápidos. Oferecem boa aderência para o tipo de uso familiar e mostraram eficiência nas frenagens, a despeito de nenhum dos 2 ter discos nas 4 rodas (somente na dianteira). O GM parou em 38,7 metros quando vindo a 100 km/h, enquanto o Hyundai cravou 39,7 m na mesma prova.
Ao acelerar, eles se comportam de maneira diferente. O Tracker 1.0 sente falta do torque do motor 1.2 nas saídas, com claro "lag" abaixo de 2 mil rpm, mas depois disso até que não faz feio, pois seus 16,8 kgfm já ficam plenos a partir dos 2 mil giros e então as respostas são mais prontas - tanto que ele foi mais rápido na retomada de 40 a 100 km/h. Também difere do rival pelo motor de 3 cilindros, com vibrações e ruídos um pouco mais presentes na cabine.
Já o Hyundai 2.0 arranca com mais vontade e, de pé embaixo, supera os 100 km/h abaixo dos 10 segundos (9,9 s contra 11,6 s do rival). Além de bem mais potente (50 cv extras), o 4-cilindros coreano tem torque máximo superior (20,5 contra 16,8 kgfm), ainda que esta força só apareça em regimes elevados (4.700 rpm). O problema é que a Hyundai adotou uma calibração de câmbio para tentar segurar o consumo e então a transmissão sai jogando marcha para cima em baixas velocidades e, quando você chama no acelerador, a resposta demora até as reduções serem feitas - a caixa da GM é mais esperta neste sentido.
Com motor menor e cerca de 150 kg mais leve, o Tracker levou fácil nas medições de consumo (apesar do câmbio do Hyundai), principalmente no circuito urbano: 8,6 contra 6,3 km/litro (etanol), com ambos se valendo do recurso do start-stop. Na estrada, a diferença foi de apenas 0,4 km/litro em favor do GM. Consumo de combustível, aliás, é o principal motivo que fará a Hyundai colocar o 1.0 turbo de 3 cilindros do HB20 no próximo Creta que chega em breve.
Vantagem: Tracker
O comparativo parelho acaba refletindo bem o que acontece no mercado, com vendas equilibradas entre o modelo da GM e o da Hyundai. Isso mostra o quanto o Creta ainda é competitivo, embora, já com alguns sinais do tempo, a tendência é que ele vá perdendo mercado ao longo de 2021. Por sua vez, o Tracker nacional chegou com bons argumentos e agora tem chances de brigar pela ponta do segmento em seu primeiro ano "cheio" de loja.
Por conta da mudança prevista até o fim do ano, quem optar pelo Creta pode conseguir um bom desconto. E levará um SUV com porta-malas maior, melhor acabamento e que acelera mais rápido, sem falar nos 5 anos de garantia (2 a mais que o Tracker). No geral, porém, o modelo da GM justifica a pequena diferença de preço com um projeto mais moderno, que se reflete desde o menor consumo até os itens exclusivos de conectividade e segurança, além de ter uns bons anos pela frente sem grandes alterações, o que ajuda a manter a desvalorização baixa.
Fotos: autor/Motor1.com
Tracker Premier 1.0T | Creta Prestige 2.0 | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, turbo, comando duplo variável, flex |
dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.999 cm3, comando duplo variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 116 cv a 5.500 rpm / 16,3/16,8 kgfm a 2.000 rpm | 156/166 cv a 6.000 rpm / 20,0/20,5 kgfm a 4.700 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 6 marchas; tração dianteira | câmbio automático de 6 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 17" com pneus 215/55 R17 | liga leve de aro 17" com pneus 215/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.248 kg em ordem de marcha | 1.399 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.270 mm; largura 1.791 mm; altura 1.627 mm; entre-eixos 2.570 mm | comprimento 4.270 mm, largura 1.780 mm, altura 1.635 mm, entre-eixos 2.590 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 393 litros; tanque 44 litros | porta-malas 431 litros; tanque 55 litros |
PREÇO |
R$ 114.590 |
R$ 111.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | |||
---|---|---|---|
Tracker | Creta | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h |
5,0 s |
4,5 s | |
0 a 80 km/h | 8,1 s |
6,8 s |
|
0 a 100 km/h | 11,6 s | 9,9 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 7,7 s | 8,0 s | |
80 a 120 km/h em S | 7,3 s | 7,0 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 38,7 m | 39,7 m | |
80 km/h a 0 | 24,5 m | 25,0 m | |
60 km/h a 0 |
13,8 m |
13,9 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 8,6 km/l | 6,3 km/l | |
Ciclo estrada | 11,2 km/l |
10,8 km/l |
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