Até que ponto um design controverso pode encobrir as qualidades de um carro? Ainda que analisar estilo seja uma questão muito delicada, por tratar de gosto pessoal, a verdade é que a mudança do Hyundai HB20 no ano passado deu o que falar - e a maioria dos cometários não foi positiva. O que no fundo é uma pena, pois o tema design acaba "cancelando" aquele que, aqui na redação do Motor1.com, é considerado um dos melhores compactos do mercado nacional, em especial na versão 1.0 TGDI.
Mas se na faixa superior de preços o novo HB20 de não teve o sucesso esperado, o mesmo não pode ser dito do modelo de entrada. Pelo contrário, com preço equivalente ao do pequenino Kwid Outsider (R$ 47.690) a versão Sense (R$ 47.990) respondeu por nada menos que 43,6% das vendas do hatch da Hyundai no primeiro semestre de 2020. Tanto é que a marca coerana lançou para a linha 2021 a variante Sense Pack, que adiciona os controles de estabilidade e tração, além dos airbags laterais (totalizando 4 bolsas infláveis), por R$ 48.990 - diferença totalmente válida pelo que se leva em termos de segurança. Para efeito de comparação, o novo Onix 1.0 começa em R$ 56.290.
Embora seja o modelo de entrada da Hyundai, o Sense não abdica da qualidade que diferencia o HB20 de seus pares. A carroceria tem gaps justos e uniformes, as portas fecham sem esforço e o acabamento interno é caprichado, ainda que simples. Claro que o plástico rígido preto ainda é o tema principal da cabine, mas não é aquele material que risca só de olhar, e também não encontramos rebarbas. Conta até com apliques imitando aço escovado no painel e no volante, item que costuma ser cortado de versões de acesso.
Na mesma linha, os bancos trazem tecido de toque agradável (não muito áspero) e as luzes de teto são do mesmo nível de carros mais caros. Poderia haver uma porção de tecido nas portas, mas ao menos os botões do ar-condicionado transmitem solidez, bem como todas os comandos do modelo. Esta versão vem com rádio simples, porém, sem abrir mão dos comandos do som no volante. Temos também bons porta-objetos e tomada USB no console central, pena que agora sem aquela útil tampinha que havia no modelo anterior.
O quadro de instrumentos têm novos grafismos e perdeu os "copinhos" do modelo anterior, mas, curiosamente, a Hyundai optou pelo velocímetro digital somente nas versões mais caras. Já o botão do computador de bordo, que antes ficava no painel, agora foi trocado pelo palito de apertar no próprio cluster, ou seja, em vez de ir para o volante, ficou pior. Mas, no geral, a cabine evoluiu e o banco do motorista enfim ganhou um ajuste de altura mais eficiente, por alavanca. O volante não possui regulagem nesta configuração, mas não demorei para encontrar uma boa posição para dirigir.
Sob o capô, segue o motor 1.0 de 3 cilindros e 12 válvulas. Segundo a Hyundai, nada muda além da substituição do tanquinho de partida a frio pelo sistema de aquecimento do etanol, de modo que a potência (80 cv) e o torque (10,2 kgfm) continuam os mesmos. Também não há novidades no câmbio manual de 5 marchas, que manteve suas relações e os engates precisos e macios. Mas, em nossas provas de desempenho, o HB20 Sense mostrou números melhores que o anterior - a despeito de ter crescido 3 cm no entre-eixos, o hatch manteve o peso (até perdeu 1 kg).
Há pouco tempo elogiei a performance do novo Onix 1.0 com seu motor 1.0 de 3 cilindros (82 cv) ligado ao câmbio manual de 6 marchas. Pois o HB20 Sense surpreendeu e cravou a aceleração de 0 a 100 km/h na frente do Chevrolet, com 14,1 segundos contra 14,3 s do rival, e ainda igualou o tempo de 12,2 s na retomada de 40 a 100 km/h. Fica até difícil acreditar que a Hyundai não mexeu na calibração do motor, dada a (boa) disposição do modelo e o que ele abriu de vantagem sobre a versão antiga, que cumpriu as mesmas provas em 15,3 s e 13,7 s, respectivamente. Até mesmo a frenagem melhorou, passando de longos 44,9 metros para 42,5 metros quando vindo a 100 km/h - diferença que pode ser creditada também aos pneus Pirelli Cinturato P1 que equipavam a unidade testada.
Sem o recurso da sexta marcha, porém, o HB20 não viaja com aquela tranquilidade do Onix, marcando cerca de 4 mil rpm a 120 km/h em 5ª marcha (o GM fica em 3.200 rpm em 6ª na mesma velocidade). Ainda que a Hyundai tenha feito um bom trabalho em termos de isolamento de ruídos e vibrações, é perceptível que o motor está se esforçando lá na frente. E isso se reflete no consumo, que ficou na média de 12,6 km/litro na medição rodoviária e 8,6 km/litro na média urbana, contra 14,2 e 10,0 km/litro do Chevrolet nas mesmas condições (veja tabela comparativa contra Onix e Argo abaixo).
Modelo (testes com etanol) | Onix 1.0 (novo) | Argo 1.0 | HB20 1.0 |
Aceleração 0 a 100 km/h | 14,3 s | 15,9 s | 14,1 s |
Retomada 40 a 100 km/h | 12,2 s | 13,8 s | 12,2 s |
Frenagem 100 km/h a 0 | 41,7 m | 43,9 m | 42,5 m |
Consumo cidade | 10,0 km/litro | 9,0 km/litro | 8,6 km/litro |
Consumo estrada | 14,2 km/litro | 13,2 km/litro | 12,5 km/litro |
Além do bom desempenho para um "mil" aspirado, o HB20 também evoluiu na dirigibilidade. A versão anterior era um tanto molenga de suspensão e direção, de modo que a traseira "arriava" com o carro carregado e o volante ficava muito leve em velocidades de estrada. A Hyundai foi certeira nas alterações e agora a suspensão manteve o conforto de rodagem, porém com um ajuste que garante melhor controle da carroceria nas curvas, e com menos transferência dos impactos do solo para a cabine. Já a direção teve a assistência hidráulica trocada pela elétrica, mantendo a leveza nas manobras e no uso urbano, mas com maior firmeza e comunicação na estrada. Freios e embreagem são fáceis de modular, contribuindo para uma condução agradável.
Claro que para manter o preço do HB20 Sense atraente, a Hyundai fez alguns cortes. E eles aparecem principalmente na lista de equipamentos. Não espere por chave canivete (ele tem aquela velha tira de metal com plástico que precisa ser inserida no miolo da porta), faróis de neblina ou retrovisores e maçanetas pintados na cor da carroceria - não há nem mesmo a faixa adesiva preta na coluna B. Fora isso, as rodas são de aro 14" cobertas por calotas, os retrovisores têm ajuste manual, os vidros elétricos só existem na dianteira (sem comando "um toque") e o rádio é bem simples, apenas com uma telinha LCD e conexão Bluetooth para celular.
Mas, com Onix Joy (o antigo) e o Argo 1.0 (básico) já superando os R$ 50 mil, fica difícil bater o HB20 Sense quando o assunto é custo-benefício. E não tem visual polêmico que tire esse mérito do modelo de entrada da Hyundai.
Fotos: autor/Motor1.com
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 998 cm3, comando duplo variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 75/80 cv a 6.000; 9,4/10,2 kgfm a 4.500 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio manual de 5 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço aro 14" com pneus 175/70 R14 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira, com ABS |
PESO | 989 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.940 mm, largura 1.720 mm, altura 1.470 mm, entre-eixos 2.530 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 300 litros |
PREÇO | R$ 48.990 (R$ 49.940 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | ||
---|---|---|
HB20 Sense | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 5,7 s | |
0 a 80 km/h | 9,6 s | |
0 a 100 km/h | 14,1 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em 3ª | 12,2 s | |
80 a 120 km/h em 4ª | 13,6 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 42,5 m | |
80 km/h a 0 | 26,2 m | |
60 km/h a 0 | 14,5 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 8,6 km/litro | |
Ciclo estrada | 12,6 km/litro |
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