Desculpe o clichê: o EQC400 é o Mercedes-Benz dos carros elétricos. Sim, escrevi isso. E, sendo honesto, tenho dúvidas se serei o único a fazê-lo. Em resumo, a marca obteve sucesso ao combinar as melhores qualidades de seus modelos com motores a combustão com um trem de força de emissão zero. Não é uma versão limitada como o Classe B elétrico ou um supercarro de apenas uma unidade. O EQC é o primeiro de uma série de novos veículos da Mercedes, e eles serão bem diferentes do que a empresa tem feito ao longo dos últimos anos.
Vamos primeiro à parte técnica. O EQC tem dois motores elétricos (um em cada eixo) e uma bateria de íon-lítio com capacidade de 80 KWh. A combinação é suficiente para impressionantes 402 cv, 77,6 kgfm de torque e uma autonomia de 444 a 468 km de autonomia por recarga, de acordo com a nova norma europeia. A recarga em 220V leva 10 horas para pular dos 10 para 100% de bateria. Todo EQC virá com um recarregador de 110 KW, permitindo que os usuários recarreguem de 10 para 80% da bateria em apenas 40 minutos.
Embora saibamos que os números de autonomia dos elétricos costumam ser otimistas (esperamos cerca de 340 km no "mundo real"), após nosso primeiro test-drive em Oslo, na Noruega, tivemos razões para pensar positivo.
O EQC400 entrega uma série de ajustes para a experiência ao volante. Em adição aos quatro modos de condução (Sport, Comfort, Eco e Individual), há cinco diferentes modos de regeneração disponíveis - e, diferentemente do Jaguar I-Pace, que foca tudo no display touchcreen, no Mercedes há borboletas no volante para isso, como nos carros a combustão. Não chega a ser uma exclusividade - os elétricos da Hyundai e Kia também possuem o recurso -, mas não deixa de ser legal por aumentar o prazer de dirigir.
Começo o test-drive pelo nível básico de regeneração. Um tapa na borboleta esquerda para D- deixa a regeneração mais agressiva, o que significa condução com apenas um pedal - já que na prática só é preciso do freio em situações mais críticas. A borboleta da direita D+ retira totalmente a regeneração e faz do EQC um crossover elétrico mais convencional. O modo mais intrigante é o D Auto, que entrega a regeneração para o sistema Eco Assist para recaptura de energia automática.
Por si só, o Eco Assist orienta o motorista do EQC a conseguir maior autonomia, juntando informações do sistema de navegação, sinais de trânsito e até dos sistemas de radar e câmera do sistema de segurança. Assim, ele detecta, por exemplo, um carro mais lento à frente e já aumenta a regeneração para manter a distância. Da mesma forma, ele vai aplicar a regeneração em descidas para manter a velocidade do carro constante. Basicamente, o D Auto ajuda a regenerar energia sem fazer o motorista ter de pensar nisso.
Embora não seja um crossover de pretensões esportivas, o EQC acelera de 0 a 100 km/h em apenas 4,8 segundos e tem velocidade de sobra para a maioria dos trajetos cotidianos. Não importa como você dirija, no entanto, o elétrico da Mercedes emite apenas um som (além do aviso aos pedestres obrigatório por lei). A marca alemã optou por fazer uma nota de "escape" artificial, então tudo que você vai ouvir é um som sutil da transmissão de velocidade única e o barulho do rolamento dos pneus. Não importa se você estiver acelerando forte ou dirigindo como uma velhinha indo para a igreja no domingo.
Eu adoraria dizer como o EQC se comporta, mas as curvas suaves, o tráfego pesado e uma chuva constante limitam minhas chances de testar a agilidade do crossover elétrico. Posso dizer, no entanto, que ele roda confortável e é bem postado à estrada. Isola bem os passageiros tanto dos impactos que a suspensão recebe quanto dos ruídos de rodagem. O passeio é impressionantemente quieto até para um carro elétrico, sem nenhuma trilha sonora mecânica.
Boa parte da cabine quieta tem a ver com a aerodinâmica inteligente. Engenheiros e designers esculpiram o SUV de forma com que o ar se mova pelo corpo com a minima interferência possível. Há uma grade, mas por trás dela há cortinas que permanecem fechadas até que o resfriamento seja absolutamente necessário. O desenho tradicional das rodas da Mercedes - incluindo alguns modelos da AMG - ganharam tomadas aerodinâmicas para evitar turbulência. E os retrovisores redirecionam o ar para um trio de spoilers.
Um spoiler montado no teto direciona o ar para a traseira, enquanto um spoiler lateral quase vertical fica nos dois lados da janela traseira, evitando que o ar fique em cascata na traseira do carro. O para-choque de trás também joga o ar para o meio, ajudado pelo assoalho plano garantido pela bateria colocada na parte de baixo do EQC.
Todos esses artifícios ajudam o EQC a ser o mais eficiente possível. Para efeito de comparação, o Mercedes GLC, um SUV a combustão de porte semelhante, tem coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,36, enquanto o EQC alcança 0,27. Não é o melhor da categoria, que tem o Tesla Model X (0,24) e o Audi E-Tron (0,25), mas eu não sei exatamente como fazer isso sem sacrificar o espaço para bagagens.
O desenho do EQC pode ser inteligente, mas não necessariamente atrativo. Particularmente na dianteira, onde a aerodinâmica determinou que o design fosse o mais suave possível, o visual revolucionário dos faróis e grade chega num momento em que o design externo dos Mercedes está se tornando consistentemente atraente após anos de inconsistência. Baseado no que vimos em Oslo, os clientes poderão optar por uma série de desenhos de grade (a inspirada nos AMG foi a minha preferida). A traseira é mais agradável, e o perfil se destaca com uma sutil curva descendente do teto - uma escolha de estilo que também ajuda na eficiência aerodinâmica.
Não há, porém, nada questionável na cabine, onde o EQC faz um melhor trabalho ao seguir a linguagem atual da Mercedes. Há uma placa de vidro e plástico sobre o painel que une dois displays de 10,3 polegadas, um para o cluster à frente do motorista e outro para a central multimídia MBUX. Encontramos também peças em metal real no painel e portas, além de uma iluminação ambiente de 64 cores que é a melhor do mercado. É coisa semelhante ao que vemos no Classe E e no Classe S.
Mas o EQC também tem seus toques de exclusividade. Tiras de luz que se estendem por cima e para trás parecem estelares, enquanto os badges EQC iluminados em eletric-blue brilham nas laterais e portas traseiras. As saídas de ventilação também são diferentes, usando, em vez do formato circular, peças horizontais colocadas abaixo do display central. A construção e os materiais são impressionantes, mas o destaque mesmo fica por conta dos belos respingos de ouro rosa que brilham independentemente das diversas cores disponíveis para a iluminação interna.
A missão elétrica do EQC não sacrifica em quase nada o espaço útil. Colocar as baterias no assoalho significou ter uma ampla área de carga (embora não haja porta-malas na dianteira como em alguns rivais). Sem surpresa, a Mercedes não revelou qual o volume total de bagagem, mas posso dizer que regula com o GLC, o que é suficiente para uma viagem de fim de semana de quatro adultos e suas coisas. Esses quatro humanos também ficarão felizes nos bancos do EQC. Os assentos dianteiros são amplos e oferecem bom suporte, enquanto atrás há espaço mais que suficiente para a cabeça, ombros e pernas.
O EQC não chegará ao Brasil antes de 2020, e a Mercedes ainda faz mistério sobre o preço. Mas não deve fugir muito da faixa dos R$ 450 mil como o Jaguar I-Pace. E a Audi também promete entrar nesta briga com o E-Tron, que inclusive já roda em testes no país. A briga que até então era dos crossovers de luxo a combustão vai acontecer também entre os elétricos a partir do ano que vem.
2020 Mercedes-Benz EQC400 4Matic
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