A Citroën não está muito preocupada com Honda HR-V, Nissan Kicks, Hyundai Creta e Jeep Renegade, uma turma que emplaca entre 4 e 5 mil unidades por mês e disputa a liderança do segmento de SUVs compactos. A marca francesa espera que o novo C4 Cactus emplaque algo em torno de 2 mil unidades mensais, uma meta discreta, porém realista diante do atual momento de sua rede de concessionários e reconstrução de imagem da marca. Isso coloca o crossover francês diante de outro concorrente que corre por fora na briga dos SUVs, o Chevrolet Tracker.
Em comum, ambos também trazem algo que os demais não tem. São os únicos do segmento com motorização turbo flex e câmbio automático - uma deficiência (apenas mercadológica, pois é bem divertido de guiar) do Peugeot 2008 THP, vendido apenas com câmbio manual de seis marchas. Indo mais além, Cactus e Tracker ainda oferecem os pacotes de itens de segurança mais completos do segmento na faixa dos R$ 100 mil, em suas versões Shine Pack e Premier 2.
Aqui vale uma observação: nas fotos, usamos o Tracker Midnight, nova versão posicionada entre a Premier 1 e 2, ainda sem preço divulgado até a data desta publicação (29/10). Para o comparativo, consideramos dados, valores e equipamentos da versão topo de linha Premier.
Ambos nascem da plataforma de modelos compactos. O Tracker utiliza a Gamma II, mesma do Sonic, Onix, Prisma e Spin, enquanto o C4 Cactus vem da PF1, mesma dos Peugeot 208, 2008 e Citroën C3 e Aircross, porém com modificações para abrigar a caixa de câmbio automática com o motor 1.6 THP. Logo, ambos apresentam medidas parecidas, com vantagem para o Tracker em quase tudo - menos no entre-eixos, 45 mm menor.
Mesmo assim, o espaço interno é parecido para os ocupantes. O Tracker tem bancos maiores e usa a segunda fileira elevada para dar maior sensação de espaço para as pernas, mesmo com o entre-eixos menor. Por outro lado, o Cactus agrada a quem prefere uma posição mais baixa e com joelhos mais flexionados, tanto na dianteira quanto traseira, além de ter o porta-malas 14 litros maior. Pena que o acesso a ele seja prejudicado pelo para-choque alto. Ambos têm Isofix em duas posições na traseira e, para os cinco ocupantes, trazem cinto de segurança de três pontos (sem regulagem de altura no Cactus) e encosto de cabeça.
Uma grande diferença aparece no acesso à cabine. Para ter o visual desejado pelos designers, o Cactus tem vidros baixos e portas menores. Na dianteira nem tanto, mas o acesso ao banco traseiro é mais complicado para pessoas mais altas e, uma vez lá dentro, terá problemas com a coluna "C" bem larga e o teto mais baixo. Não chega a ser claustrofóbico, mas o Tracker, com seu formato mais "jipinho", parece ser maior do que realmente é na comparação com o novato.
O C4 Cactus traz um novo padrão de construção para os modelos nacionais da PSA. Além da montagem da carroceria ser mais caprichada do que conhecíamos até então dos produtos de Porto Real (RJ), os materiais de acabamento aparentam ser melhores que os encontrados no, por exemplo, Aircross. Mesmo com visual diferente do europeu, o interior do Cactus é um dos pontos mais surpreendentes. Além do design fora do tradicional, os plásticos são bons em aparência e qualidade e, para a versão Shine, a faixa suave ao toque é acompanhada de um tecido que combina com os bancos.
O mais legal do Cactus é ter uma série de componentes exclusivos. Volante, manopla do câmbio e alavanca do freio de estacionamento, por exemplo, não foram aproveitados de nenhum outro Citroën nacional. O painel de instrumentos já conhecemos do C4 Lounge e, mesmo sendo digital, não pode ser configurado e tem leitura prejudicada pelo reflexo do sol. Os bancos, apesar de terem o mesmo desenho do 208/2008, trazem espumas específicas e mais confortáveis. A central multimídia também veio do Lounge, concentrando as operações do som, ar-condicionado e de funções do carro.
O Tracker é mais tradicional. De cara, vemos volante, comandos do ar e alavanca de câmbio do Onix, embora haja uma faixa de couro no painel, com a costura combinando com os bancos. Os plásticos são de boa qualidade, mas a montagem revela desalinhos em algumas peças, como na ligação entre os painéis das portas e o painel. Em termos de conectividade, a multimídia MyLink é mais fácil de ser operada (apesar de ambos terem tela de 7" e espelhamento de smartphones via Apple CarPlay e Android Auto) e o sistema de monitoramento e concierge OnStar é uma exclusividade.
Tracker Premier e C4 Cactus Shine Pack se destacam pelo pacote de itens de segurança ativa. Ambos trazem seis airbags (frontais, laterais e de cortina) e controles de tração e estabilidade com assistente de partida em rampas. O Citroën adiciona alerta de colisão com frenagem automática, detector de saída de faixa, alerta de descanso para o motorista e detector de fadiga, além do Grip Control (sistema que atua no controle de estabilidade, câmbio e acelerador conforme o modo selecionado entre areia, lama, neve, automático e ESP desligado). No Tracker, há alerta de ponto-cego, alerta de colisão (sem a frenagem automática), alerta de tráfego cruzado na traseira e alerta de saída de faixa.
Em comum, ambos são equipados com abertura de portas e partida com chave presencial, ar-condicionado (automático no C4), direção elétrica com regulagem de altura e profundidade, luzes diurnas e lanternas em LED, piloto automático, sistema multimídia, computador de bordo e câmera de ré. O Tracker traz ainda teto-solar e rodas de 18", enquanto o Cactus oferece o retrovisor interno fotocrômico e as rodas aro 17".
Na Europa, o C4 Cactus é vendido como um hatch aventureiro. Para o Brasil, sua suspensão foi elevada em 60 mm e os amortecedores são tradicionais (por lá, utiliza um amortecedor hidráulico progressivo). Isso já explica a posição de dirigir mais para um hatchback ou sedã que para um SUV. Para a América Latina, a PSA fez um extenso trabalho de desenvolvimento do Cactus, investindo muito tempo e dinheiro na dinâmica veicular. Segundo pessoas ligadas ao projeto, rendeu elogios até da matriz.
O fato de terem motores turbo os aproximam, mas cada SUV tem um comportamento distinto. O Tracker usa o 1.4 turbo de até 153 cv e 24,5 kgfm de torque do Cruze, enquanto o 1.6 THP do Cactus segue com os 173 cv e 24,5 kgfm de torque mostrados no C4 Lounge. Os dois possuem injeção direta de combustível e variadores nos comandos de admissão e escape. São modernos e eficientes, mesmo que não sejam exatamente uma novidade.
O Citroën é mais divertido de acelerar. Mesmo com o mesmo valor de torque, ele aparece numa rotação mais baixa e a faixa de potência é mais extensa. Ou seja, o THP é um motor mais elástico, ajudado por um carro mais leve (1.214 kg contra 1.413 kg) e uma transmissão mais rápida, fornecida pela Aisin. As trocas são mais rápidas e os comandos, seja pelo kick-down ou pelas trocas manuais na alavanca, são entendidas mais rapidamente pela central de controle. Além disso, há mais dois modos de programação (Sport e Eco).
Junte isso a uma suspensão que, mesmo sendo confortável, segura melhor a rolagem da carroceria como se fosse um hatchback. O Citroën deixa você ir além na busca pelo limite do conjunto, com uma direção elétrica de acerto mais amplo (mais leve que a do Chevrolet em manobras e comunicativa em velocidades mais altas) e a posição de dirigir vinda de um...hatch. O Cactus passa a sensação de ser uma forma de agradar quem, por pressão do mercado, adquiriu um SUV mas não queria abrir mão das vantagem dos modelos mais baixos.
O Tracker é mais tradicional. O câmbio, produzido pela própria Chevrolet, foca no conforto e tem trocas mais lentas (e mais suaves), além de não se entender numa condução esportiva. A suspensão é mais firme que a do Cactus, mas a carroceria mas alta e pesada inclina mais nas curvas. Até a direção está mais para conforto, com menor comunicação com o motorista, por exemplo. Por outro lado, o isolamento acústico e a sensação de rigidez da estrutura são superiores no Chevrolet.
Os números de teste deixam as diferenças de projeto bem claras. O Cactus foi melhor em todas as medições, inclusive frenagem (único com freio a disco nas quatro rodas) e consumo rodoviário, ficando em leve desvantagem na medição urbana por não ter o sistema start-stop. Inclusive, o Citroën passa a ser o mais rápido SUV compacto já testado pelo Motor1.com, desbancando o Suzuki Vitara 1.4T.
Na tabela, o Cactus Shine Pack é mais barato. Enquanto ele cobra R$ 98.990, o Chevrolet está tabelado a R$ 104.790 na versão Premier 2. Enquanto o Tracker oferece a pintura metálica como opcional (R$ 1.500, ou R$ 650 pelo branco sólido), o Cactus pode ter uma segunda cor para o teto, capas de retrovisores e moldura dos faróis de neblina. O preço varia de R$ 300 a R$ 2.090, dependendo da combinação escolhida.
O troco do Tracker aparece na hora da manutenção. Além de mais barato nas três primeiras revisões, é mais fácil achar uma concessionária Chevrolet que Citroën, principalmente fora dos grandes centros urbanos.
10.000 km/1 ano | 20.000 km/2 anos | 30.000 km/3 anos | TOTAL | |
Citroën C4 Cactus 1.6 THP | R$ 473 | R$ 785 | R$ 473 | R$ 1.731 |
Chevrolet Tracker 1.4T | R$ 336 | R$ 668 | R$ 480 | R$ 1.484 |
Chevrolet Tracker e Citroën C4 Cactus são bem mais distintos do que parecem à primeira vista. Enquanto um é um SUV mais tradicional e espaçoso, o outro tem pegada mais esportiva e menos familiar, além de andar mais e cobrar menos por um pacote de equipamentos equivalente.
A questão principal sobre o Cactus é a redução do número de concessionárias Citroën e a confiabilidade no pós-vendas. A PSA trabalha arduamente para resolver isso há anos e, segundo relatos de clientes, tem havido alguma melhora. Como produto, o C4 Cactus é vencedor do comparativo e tem qualidades para vender o que a fabricante espera dele.
Fotos: Paulo Henrique
Citroën C4 Cactus Shine Pack | Chevrolet Tracker | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.598 cc, 16 válvulas, duplo comando com variador na admissão e escape, injeção direta, turbo, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.395 cc, duplo comando com variador em admissão e escape, turbo e injeção direta, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 166/173 cv a 6.000 rpm; 24,5 kgfm a 1.400 rpm | 150/153 cv a 5.600 rpm / 24,0/24,5 kgfm a 2.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 6 marchas, tração dianteira | automática de 6 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 17" com pneus 205/55 R17 | liga leve de aro 18" com pneus 215/55 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS |
PESO | 1.214 kg em ordem de marcha | 1.413 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.170 mm, largura 1.714 mm, altura 1.563 mm, entre-eixos 2.600 mm | comprimento 4.258 mm, largura 1.776 mm, altura 1.678 mm, entre-eixos 2.555 mm |
CAPACIDADES | tanque 55 litros, porta-malas 320 litros | porta-malas 306 litros; tanque 53 litros |
PREÇO |
R$ 98.990 |
R$ 104.790 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Citroën C4 Cactus 1.6T | Chevrolet Tracker 1.4T | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 3,6 s | 4,1 s | |
0 a 80 km/h | 5,4 s | 6,5 s | |
0 a 100 km/h | 7,7 s | 9,3 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 5,5 s | 6,7 s | |
80 a 120 km/h em S | 4,9 s | 6,5 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 39,7 m | 42,4 m | |
80 km/h a 0 | 24,8 m | 26,8 m | |
60 km/h a 0 |
13,6 m |
15,2 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 8,1 km/l | 8,3 km/l | |
Ciclo estrada | 12,0 km/l | 11,0 km/l |
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