E o Jetta, quem diria, se rendeu aos predicados do Corolla. Isso mesmo, logo ele que já foi vendido como um "esportivo disfarçado de sedã", o Jetta muda de estratégia nesta sétima geração. Agora com a plataforma modular MQB, que estreou no Golf em 2012, o modelo cresceu em comprimento e largura, ficou mais espaçoso e ganhou diversos itens de tecnologia e segurança. Mas perdeu parte da dinâmica que o consagrou entre os fãs de uma condução mais divertida. Aceleramos a versão Comfortline durante o evento de lançamento e contamos agora como ficou.
Logo de cara o Jetta mostra onde mais mudou: no porte. Com 4,70 m de comprimento, 2,68 m de entre-eixos e 1,80 m de largura, o sedã ficou significativamente maior que o anterior - e ao vivo essa impressão é reforçada pelo fato de as rodas aro 17" ainda parecerem "compactas" diante da carroceria. O design segue a linha conservadora e evolutiva da VW, com destaque para a dianteira com a nova linguagem visual da marca, que traz grade mais alta e os faróis de LED integrados ao desenho. Na lateral a maior diferença fica por conta da terceira janela, como no Virtus, e de um vinco pronunciado na altura das maçanetas que se estende até as lanternas traseiras, também em LED. Já a parte de trás lembra muito o Virtus, porém, numa escala maior. Como no Jetta anterior, tende a ser um design duradouro, com discrição e sem ousadias.
As duas versões oferecidas agora no lançamento, Comfortline e R-Line, se diferenciam pouco por fora. As rodas mantém o aro 17", porém, com outro desenho e acabamento escurecido (mesmas do Tiguan R-Line), além da grade e retrovisores pintados de preto brilhante e os logotipos "R-Line" na frente e nas laterais. Por dentro, o acabamento esportivo se destaca pelo cluster digital de 10,2" configurável e pelo volante com o logotipo da versão. Ambas trazem o sistema de modos de condução (Econômico, Normal, Esportivo e Individual) e a iluminação ambiente por LEDs com 10 cores disponíveis - desde roxo até amarelo, acredite. Na Comfortline, o grafismo vermelho do cluster analógico não combina com o carro e nem com as 9 cores restantes; na R-Line o painel muda conforme a cor escolhida, e aí fica legal.
O desenho do painel e laterais de porta lembra o do Virtus, mas no Jetta a parte central é levemente voltada para o motorista, enquanto a parte superior da peça é de espuma injetada, macia ao toque - o que não agrada é a imitação de costura como existe no... Corolla, é claro! O acabamento agrada no geral, mas há vacilos como a falta de forração nas portas traseiras e em parte da tampa do porta-malas. Já o espaço é realmente bom para as pernas, ombros e cabeça no banco traseiro, mas apenas para duas pessoas. No meio existe um volumoso túnel central que parece até de carro com tração integral (cujo eixo cardã passa ali), mesmo sendo um carro de tração dianteira. O porta-malas segue com 510 litros, mas visualmente parece até maior de tão profundo que é o compartimento.
Entre os itens de tecnologia, vale ressaltar o sensor de estacionamento com frenagem automática (que evita os famosos encostões de garagem) e o bloqueio eletrônico de diferencial XDS, além da bem completa multimídia Discover Media com tela de 8" e conexões Apple Car Play e Android Auto. A versão R-Line faz valer sua diferença de preço nos itens de segurança: só ela vem com piloto automático adaptativo, frenagem de emergência em baixa velocidade, frenagem automática pós-colisão (para evitar um segundo acidente) e farol com facho alto automático.
Apesar do incremento de tamanho (e dos 46 kg de peso), o Jetta manteve o motor 1.4 TSI flex de 150 cv e 25,5 kgfm de torque ligado ao câmbio automático de 6 marchas. Nos EUA, o sedã recebeu uma nova transmissão automática de 8 marchas, para efeitos de consumo. Como no Golf, a suspensão traseira multilink deu lugar a um eixo de torção nas versões 1.4. Há expectativa de que o Jetta 2.0 TSI, de 230 cv, chegue em 2019 com o sistema independente atrás, como no Golf GTI.
Assumi o comando do Jetta Comfortline no pesado trânsito paulistano, e a primeira coisa que chamou minha atenção foi o conforto. Você se sente num Virtus maior e mais bem acabado, incluindo uma suspensão mais suave e um isolamento acústico melhor. A largura da carroceria é notável nas faixas estreitas, enquanto os retrovisores (os mesmos do Golf) e a visibilidade geral são boas. A posição de dirigir é excelente e bem centrada, como de costume nos carros da MQB, e os bancos são grandes e confortáveis. O volante é o velho conhecido da VW que está até no Gol, pecando por manter os botões dos itens presentes somente na R-Line, por economia de escala - você os aperta e no painel aparece que a função não está disponível.
Em três pessoas no carro, logo o nosso colega do banco traseiro reclama de calor. É que, ao contrário do Virtus TSI, o Jetta não tem saída de ar para os ocupantes de trás - e isso não está previsto para nenhum Jetta no mundo, diz a Volkswagen. Ao volante, reparo em outra falta: cadê as borboletas no volante para as trocas de marcha? Não tem, e nem na versão R-Line. Isso mesmo, algo que existe até no Gol não está disponível no novo Jetta...
Quando o Jetta antigo ganhou esse motor 1.4 TSI, foi um enorme salto em relação ao arcaico 2.0 aspirado. Mas agora ele não surpreende mais, especialmente num carro maior e mais pesado como é o Jetta de sétima geração. Acabou que o carro perdeu um pouco de sua vivacidade, principalmente em baixas velocidades. Parte dessa culpa também pode ser creditada ao câmbio, que por vezes demora a entender o que o motorista deseja e parece "patinar" antes de responder. O modo econômico de condução "mata" de vez a agilidade, enquanto o esportivo deixa as coisas mais interessantes - mas ainda assim nada que se compare ao DSG de dupla embreagem que vem no Tiguan com esse mesmo motor.
Na estrada as coisas melhoram e não há dificuldade para manter boa velocidade de cruzeiro, graças ao bom torque do 1.4 TSI entregue desde baixas rotações. Ainda assim, algo me diz que este novo Jetta não vai repetir os números de desempenho do anterior, o que comprovaremos em breve num teste completo. Já quanto ao consumo, conferimos uma média de 16 km/l no computador de bordo viajando a cerca de 120 km/h em autopista, com gasolina.
Além do rendimento aparentemente inferior, o Jetta também perdeu na dinâmica. Não foi possível forçá-lo durante o test-drive, mas mesmo nas curvas abertas da autoestrada percebemos a maior movimentação da carroceria sobre os eixos - efeito colateral da suspensão mais macia. Não que tenha ficado instável, ele segue bem postado ao piso, mas seu "tuning" foi claramente pensado no conforto. Da mesma forma, a direção elétrica ficou um tanto leve em velocidade no modo normal de condução, passando a agradar (mais firme) com o uso do modo esportivo. No geral, a verdade é que o Jetta deixou de animar o condutor, tornando-se um sedã médio "comum".
Importado do México, o novo Jetta chega às lojas brasileiras em outubro com os seguintes preços: R$ 109.900 na versão Comfortline e R$ 119.990 na R-Line, sendo o teto-solar panorâmico o único opcional para ambas, ao custo de R$ 4.990. Como no Tiguan, as três primeiras revisões são gratuitas. E a VW ainda diz que o custo de manutenção até 60 mil km é o menor da categoria, de R$ 2.204. No catálogo de cores, duas merecem destaque: vermelha e prata snow (que lembra a pintura do Audi RS6).
Desde o modelo de entrada o Jetta já vem com ar digital de duas zonas, seis airbags, controles de tração e estabilidade, freio de estacionamento elétrico, rodas aro 17", faróis e lanternas Full-LED, bancos de couro e central multimídia de 8", entre os itens mais importantes.
Acontece que, mesmo sendo bem equipado, o Jetta estreia num patamar de valores acima das versões mais vendidas dos rivais Corolla (XEi) e Civic (EXL). Vale lembrar que o modelo anterior custava cerca de R$ 96 mil e ainda era encontrado com desconto. Assim, havia expectativa de que a nova geração começasse por volta de R$ 105 mil. Do jeito que veio, sinceramente, acredito que a VW terá dificuldades para chamar a atenção dos clientes dos japoneses. E para quem não fizer questão de sedã, ainda tem a própria Golf Variant dentro de casa - mais bem acabada e gostosa de dirigir.
Fotos: Motor1.com
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.395 cm3, duplo comando, injeção direta turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
150 cv a 5.500 rpm; 25,5 kgfm de 1.400 a 3.500 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de tração na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 17" com pneus 205/55 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.331 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.702 mm, largura 1.799 mm, altura 1.474 mm, entre-eixos 2.688 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 510 litros, tanque 50 litros |
PREÇO | R$ 109.990 |
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