Desde que a Caoa anunciou a compra da operação brasileira da Chery, criou-se muita expectativa sobre como ficaria a marca a partir de então. Agora a empresa apresenta o primeiro modelo desde essa negociação, o hatch aventureiro Tiggo 2. Era um carro que estava praticamente pronto para ser lançado como Chery unicamente, mas que acabou atrasando por problemas com a fábrica em Jacareí (SP), que ficou meses em greve, e depois para ajustar alguns detalhes de acordo com a experiência da Caoa.
O Tiggo 2 será a vitrine popular da Caoa Chery. Entra num segmento efervescente e com preços razoavelmente competitivos, além de ser o melhor produto da empresa no Brasil. Com a nova rede de concessionárias (a marca quer passar de 25 lojas para 55 até dezembro), promessa de baixo custo de manutenção e o pós-vendas da Caoa, querem vender 8 mil unidades até o final do ano. A Caoa Chery diz que ele é um "SUV democrático", para todos os tipos de pessoas, além de caber no bolso. Custa R$ 59.990 na versão Look e R$ 64.490 na topo de linha Act.
Um dos pontos mais fortes do Tiggo 2 é o design, e isso é explicado por duas linhas de raciocínio. A primeira é que suas linhas conseguem ser diferentes dos outros SUVs compactos e hatches aventureiros do mercado, mas sem ser algo bizarro ou comum demais. Olhando de frente ou de perfil, ele é bem resolvido e sem exageros. O mesmo vale para a cabine, descartando aqueles montes de cromados no acabamento que os chineses normalmente adoram.
Pessoalmente, a única parte que não me agradou foi a traseira. O friso cromado não combinou com o carro e as lanternas parecem pequenas, já que a maior parte da peça está na parte lateral do carro. Apesar disso, é puramente uma questão de gosto, pois não ficou feio.
Outro ponto importante a se falar sobre o design é que ele não transmite a sensação de ser cópia de outro modelo. Claro, tem gente que vai olhar e comparar com o crossover de alguma outra fabricante, só que não é nada óbvio. E isso se repete na cabine, ainda mais pela Chery não usar peças iguais às de outras empresas.
Embora estejam melhorando, os carros chineses ainda são vistos como mal construídos por grande parte do mundo. Então, para atrair os clientes, precisam ser agressivos em seu posicionamento. Além do preço mais baixo do que os grandes nomes do segmento, têm que vir com uma lista de equipamentos competitiva.
O Tiggo 2 não é diferente. Vem de série com portas e vidros elétricos, ar-condicionado, computador de bordo, bancos em tecido e couro, luzes diurnas de LED, Isofix, sistema de monitoramento de pressão dos pneus, sensor de estacionamento traseiro, retrovisores com ajuste elétrico, freios a disco nas quatro rodas e rodas de liga leve aro 16”.
A Chery deixou alguns equipamentos mais importantes (ou de maior apelo) para a versão topo de linha Act, como controle de estabilidade e tração, controle de cruzeiro, câmera de ré e a central multimídia com tela de 8 polegadas. Para quem quer entrar na moda dos SUVs com teto em outra cor, o Tiggo 2 pode vir com teto preto como opcional, por R$ 1.500. E, como a fabricante fez questão de destacar (para cutucar a rival JAC), é pintura mesmo, e não um envelopamento.
Alguns equipamentos não são tão bons assim. A central multimídia é um pouco chata de lidar, principalmente na hora de espelhar o smartphone. Como não tem Apple CarPlay ou Android Auto, o motorista precisa plugar o celular no USB e ainda ativar o Bluetooth para enviar a imagem para a tela.
O painel de instrumentos é muito parecido com o do Chevrolet Agile, até mesmo com um “contra-giros”, um conta-giros que funciona no sentido anti-horário. A tela do computador de bordo tem números bem pequenos e faltou adaptar algumas coisas. O consumo, por exemplo, é mostrado em litros por 100 km, enquanto a pressão dos pneus aparece em Bar.
O Tiggo 2 consegue ser uma antítese. Por um lado, é o melhor carro da Chery no Brasil. O acabamento do interior é bem feito, mesmo com o uso intenso de plástico rígido. A construção passa a sensação de ser boa, sem peças mal encaixadas ou parafusos aparecendo. Por outro lado, há alguns defeitos que aparecem na hora de acelerar.
Para começar, o banco é alto. Sim, SUVs e aventureiros apelam para posições de dirigir bem altas para dar mais sensação de robustez. Só que o Tiggo 2 exagera. Mesmo com o banco na posição mais baixa possível, minha cabeça estava muito próxima do teto – e olha que tenho só 1,63 m de altura. Alguns dos jornalistas mais verticalmente favorecidos quase raspavam a cabeça no teto. Tirando o problema da altura, a posição de dirigir é boa. O volante tem boa pegada e os bancos são confortáveis. O porta-malas de 420 litros mostra ter uma capacidade razoável.
Na primeira pisada no acelerador, percebo a melhoria feita no motor. Ao invés de simplesmente pegar o 1.5 do Celer, a Caoa Chery fez alterações. Gera 115 cv, 2 cv a mais, que aparecem com toda sua força a 6.000 rpm. Já o torque caiu para 14,9 kgfm, só que agora vem mais cedo, a 2.700 rpm. O câmbio de 5 marchas também é agradável e preciso, enquanto os freios a disco nas quatro rodas mostraram eficiência durante o curto teste.
Essa diferença de giros entre potência e torque máximos atrapalha a dirigibilidade. Em baixa velocidade, ele é bem esperto e o computador de bordo ainda pede as trocas na faixa dos 1.500 rpm. Na estrada, a história é outra. Passados os 2.700 rpm, o carro praticamente "morre" e o motorista tem que pisar fundo para manter o motor em alta rotação. Qualquer ultrapassagem tem que ser feita acima dos 4.500 giros, ou faltará força.
Ficar com o motor em alta rotação gera outro problema, o elevado ruído, sintoma que aparece acima dos 3.000 rpm. Chegue nos 4.000 giros e parece que o motor está sentado do seu lado. Junte isso com o som do vento nas laterais e verá que o Tiggo 2 é muito barulhento. A direção é hidráulica e tem uma folga grande até que o giro para qualquer um dos lados comece a fazer efeito nas rodas.
Outro problema é sua suspensão. Com ajuste firme, ela transmite tudo o que encontra no asfalto. Passei por um trecho recapeado e parecia que estava sobre um asfalto raspado de tanto que ele tremia. Tem curso longo, mas bate ao passar em algumas lombadas mais altas. E, para fechar, ainda não segura a carroceria no lugar. Basta mexer o Tiggo 2 de um lado para o outro sem deixar a faixa que podemos sentir o rolamento mais acentuado.
O que irá fazer o Tiggo 2 vender é o seu preço, design e sensação de que é bem equipado. Por R$ 59.990, custa menos que seus rivais e o mesmo que o JAC T40, seu principal oponente. Se fosse lançado no ano passado, sua vida teria sido bem difícil, já que a mecânica decepciona. Agora que a Caoa está na jogada, investindo no pós-venda e uma campanha publicitária bem forte, torna-se uma opção mais interessante para quem quer gastar pouco e tem a mente mais aberta sobre os carros chineses.
Fotos: Divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.5, 16V, comando duplo variável, injeção eletrônica, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
115 cv a 6.000; Torque: 14,9 kgfm a 2.700 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de 5 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo rígido na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 16" com pneus 205/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS |
PESO | 1.240 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.200 mm, largura 1.760 mm, altura 1.570 mm, entre-eixos 2.555 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros, porta-malas 420 litros |
PREÇOS | R$ 59.990 a R$ 64.490 |
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