Já dirigimos Mercedes Classe X - Contradição do bem
A Mercedes entra no segmento de picapes médias com a base da Nissan Frontier, mas vai além em diversos aspectos
A Mercedes não o esconde de ninguém: a picape Classe X é baseada em sua prima técnica, a Nissan Frontier, e compartilha diversos elementos com ela e a Renault Alaskan. Embora a maioria dos fabricantes tenha problemas para admitir que seu produto é o resultado de uma parceria com outros fabricantes, a Mercedes assume essa aliança. No entanto, a empresa estrelada investiu quase 900 milhões de euros para tornar esta Frontier numa Mercedes de verdade, com carroceria específica, cabine completamente refeita e alguns elementos específicos.
O que é?
A Classe X aborda um mercado em expansão, especialmente no setor privado, onde geralmente esses tipos de carros atraem profissionais. Práticas e robustas, as picapes médias de cabine dupla podem ser usadas tanto no trabalho quanto no lazer, no asfalto ou fora dele. E todas as fabricantes, mesmo as premium como a Mercedes, estão em busca de novas fontes de renda.
Se a Frontier e a Alaskan ficaram muito semelhantes no interior, a Mercedes escolheu desenvolver sua própria cabine. O resultado é um conjunto de toque macio e com materiais nobres. Claro, ela não atinge o nível de sofisticação de um sedã Classe S, mas fica claro que estamos a bordo da picape mais bem acabada da categoria, desbancando a Volkswagen Amarok. Encontramos elementos espumados nas partes altas, enquanto as partes baixas são de plásticos rígido, mas de boa qualidade e que certamente se manterão robustas com o tempo.
A Mercedes ainda oferece a opção de selecionar o acabamento do painel, podendo ser um folheado de imitação de madeira (305 euros), alumínio (122 euros) ou preto fosco (sem custo extra). Os acabamentos são corretos e as montagens, de boa qualidade. Infelizmente, a Classe X não conseguiu evitar alguns leves rangidos internos durante uso off-road, mas nada que não possa ser perdoado. Outra exclusividade da picape alemã é a tela da central multimídia destacada do painel, como um tablet, cuja ergonomia é questionável, e o fato de a tela não ser sensível ao toque exige uma espécie de "mouse" atrás da alavanca de câmbio. Nada prático.
Graças às suas medidas ampliadas em relação à Frontier, a Classe X se beneficia de maior espaço na caçamba, sendo a única do segmento capaz de carregar um pallet de formato europeu padronizado: 1,59 m de comprimento, 1,56 m e 1,22 m entre as caixas de roda. A carga útil, por sua vez, é de 1,1 tonelada. A picape alemã também tem excelente capacidade de reboque, com 3,5 toneladas (a mesma da Ford F-150 Raptor, por exemplo). Podemos, por exemplo, levar um trailer para cavalos, típico de quem roda no campo.
Para ter a caçamba longa, a cabine dupla foi um pouco penalizada, especialmente para os passageiros de trás. A Mercedes elevou a altura do assento traseiro, para ser do tipo "arquibancada" e não ter o problema do assoalho elevado. Mas os mais altos terão problema com a cabeça no teto, além de o assento não ser dos mais confortáveis, contrastando com o restante do carro - ele é um pouco reto, cansativo em longas viagens. Ponto positivo, por outro lado, é que você pode levantar o assento traseiro para alojar materiais de forma protegida.
Como anda?
Como dissemos no começo, a Classe X é baseada nos mesmos elementos mecânicos da Frontier, ou seja, compartilha o chassi de longarinas, sistema de tração 4x4, transmissão automática e o motor a diesel de origem Renault. Se as picapes têm a reputação de serem carros desajeitados e não muito confortáveis, a Mercedes tende a quebrar essa tradição já iniciada pela Nissan com a Frontier. Saem as lâminas da suspensão traseira, entra o eixo de ligação múltipla, como na picape japonesa, mas a Mercedes tem como exclusividades a altura do solo reduzida em 2 cm e a dianteira ampliada em 7 cm para acomodar, em 2018, um novo motor V6 a diesel de 258 cv e 56 kgfm de potência - na medida para encarar a Amarok V6 TDI.
Sob o capô desta versão 250d avaliada, encontramos um motor Renault turbodiesel de 2.3 litros e 4 cilindros, que desenvolve 190 cv e 45,8 kgfm de torque. Não é ruim para mover os 2.234 kg da máquina alemã, mas falta um pouco de "empuxo" para esse tipo de carro, especialmente em situações mais exigentes. Ter dois cilindros extras certamente seria melhor, e ainda bem que o V6 já está programado. O 4 cilindros, no entanto, atende perfeitamente à proposta. Seu torque generoso permite que a Classe X saia de muitas situações.
Outro ponto positivo: as suspensões. O eixo traseiro com múltiplas ligações e a dianteira com braços duplos oferecem controle e conforto bem acima dos seus rivais. O Classe X não inclina muito nas curvas e se mantém seguro mesmo quando a tração 4Matic não está acionada. A picape se comporta divinamente bem na estrada, e também impressiona pelo conforto. Isso também é refletido pelo excelente isolamento acústico do modelo. O ruído do motor a diesel mal é ouvido de dentro da cabine.
No entanto, a picape alemã também está pronta para o fora de estrada.Em algumas versões, ela pode ter a altura do solo maior (de 20 para 22 cm) - opcional de 299 euros. Isso influencia diretamente outras medidas off-road, como o ângulo de ataque (28,8 para 30,1 graus), ângulo central (20,4 para 22 graus) e ângulo de saída (17,4 para 19 graus). Segundo a Mercedes, a Classe X pode atravessar alagados com até 600 mm de profundidade. É claro que não conseguimos testar toda a gama técnica oferecida pela picape nessa primeira avaliação, mas nossas incursões em estradinhas de terra, às vezes bem íngremes, nos permitiram perceber que a Classe X não foi destinada apenas para rodar no asfalto.
Como na maioria das picape médias, a Classe X possui um sistema de tração integral part-time com três modos de operação: 2WD (tração traseira), 4H (4x4 alta) e 4L (4x4 com reduzida). De série, a picape alemã vem equipada com o sistema DSR (Downhill Speed Regulation), que limita a velocidade do modelo a 8 km/h (quando em 4L) ou 5 km/l (quando em 4L) em descidas mais íngremes no off-road.
No final, apenas um quesito nos incomodou na Classe X, mas digamos que é comum neste tipo de carro: frenagem. Não que a picape seja ruim de freios, pelo contrário, mas a sensação do pedal é esponjosa e a dosagem fica complicada. É certamente uma questão de hábito, mas a Mercedes poderia trabalhar mais nisso para se diferenciar da concorrência.
Quanto custa?
A parceira entre a Mercedes e a aliança Renault-Nissan permite que a Classe X não tenha preços tão salgados, como mostra a tabela da marca na Europa. Custa a partir de 36.790 euros (cerca de R$ 142 mil) e pode passar dos 50 mil euros (R$ 193.500) quando completamente equipada - lembrando que ainda não há a versão 100% Mercedes com o motor V6. Na comparação com as irmãs de projeto, a picape alemã custa cerca de 7 mil euros acima da Frontier e 4 mil euros a mais que uma Alaskan. Ou seja, no Brasil, podemos esperar algo na faixa dos R$ 200.000. Uma diferença, no entanto, justificada pelo acabamento, dimensões um pouco maiores, freios a disco na traseira, melhor tratamento acústico e, claro, pelo valor de revenda de um Mercedes, que será logicamente superior ao de um Renault ou Nissan.
Galeria: Mercedes-Benz Classe X
Mercedes-Benz Classe X Progressive - 2.3 litres 190 chevaux BVA7
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Teste BYD Shark: mais um delírio da moda ou veio pra ficar?
Motorhome elétrico: já fizeram uma Kombi home a bateria
Avaliação Ford Ranger Black 4x2 2025: você não precisa de 4x4
Reino Unido: Mini Cooper foi o mais vendido em novembro
Teste Chevrolet Trailblazer High Country: uma viagem no tempo com o SUV 2025
Ferrari 250 GTO (1962-1964), a mais perfeita tradução da casa de Maranello
Teste Hyundai Creta Ultimate 1.6T: evolução, polêmicas e liderança