Teste instrumentado Renault Kwid Zen 1.0 - Receita pop
Primeiro subcompacto com preço acessível mostra porque tem muito mais apelo que os rivais up! e Mobi
A Renault sabe que o Brasil não é a Índia. Então não leve muito em consideração críticas infundadas dizendo que o novo Kwid é simplesmente um projeto indiano de baixo custo "empurrado" para nosso mercado. O carrinho, que virou sinônimo de insegurança ao zerar o teste de impacto do Global NCAP, estreou por aqui amplamente modificado e cercado de expectativa. Da imprensa, dos consumidores e também das marcas rivais. Afinal, o subcompacto fez sucesso logo na pré-venda - ao contrário de seus pares, VW up! e Fiat Mobi.
A proposta da Renault é agressiva. Por preço realmente atrativo, a partir de R$ 29.990, ela entrega um hatch com ares e altura livre do solo de SUV (18 cm), e com desenho robusto e simpático. Em relação ao modelo original indiano, o Kwid nacional trouxe uma série de mudanças estruturais (que lhe renderam cerca de 140 kg extras), além de airbags laterais como item de série, somando 4 bolsas infláveis (incluindo as frontais obrigatórias). Somente o banco do motorista tem 9 kg extras, para se ter ideia da diferença entre os carros.
A receita para custar pouco fica evidente nos detalhes: as rodas aro 14" são presas por apenas três parafusos, o limpador do para-brisa é de peça única, os botões dos vidros elétricos dianteiros ficam no painel e o quadro de instrumentos da versão intermediária Zen, como a testada aqui, não possui nem conta-giros. Economia, sim, mas nada que seja realmente incômodo no dia a dia. Por R$ 34.990, o Kwid Zen já vem de série com ar-condicionado e direção elétrica, além dos vidros elétricos na dianteira e abertura interna do tanque e do porta-malas (com rádio, passa a R$ 35.390). É um valor que, comparado à concorrência, deixa o modelo da Renault em evidência.
Vejamos: o Fiat Mobi Like, ainda com o velho motor 1.0 Fire de 4 cilindros, é tabelado a R$ 39.780. Vem com ar e direção assistida de série, mas tem sistema hidráulico (em oposição ao elétrico do Kwid). Para levar um Mobi mais equivalente ao Renault, é preciso desembolsar R$ 41.260 pela versão Drive, aí sim com motor 1.0 de 3 cilindros e direção elétrica. Passando ao VW up!, o preço inicial de R$ 37.990 é praticamente uma pegadinha, pois para ter ar-condicionado e direção elétrica o modelo já pula para R$ 43.240.
Temos então uma diferença de R$ 4.790 para o Fiat e de R$ 8.250 para o VW. Por isso, a nossa ideia inicial de fazer um comparativo entre os três terminou nesta análise. É muita distância para um carro de entrada, que mira orçamentos apertados. Na prática, o único rival em preço do Kwid Zen seria o Chery QQ, que parte de R$ 25.990 e chega a R$ 31.490. Mas a gente testou o carro chinês faz pouco tempo e podemos dizer: ele ainda está num estágio evolutivo anterior ao do pequeno Renault.
E aí volto à afirmação do começo do texto: o Kwid brasileiro não é o indiano. É um carrinho pequeno e simples, mas que nunca transmite sensação de baixa qualidade ou fragilidade. O acabamento é obviamente todo de plástico rígido cinza, no padrão Sandero, mas com peças bem montadas e sem rebarbas. O banco é fino e tem o encosto integrado ao apoio de cabeça, mas não maltrata o corpo mesmo depois de horas ao volante. E o banco traseiro já vem de série com fixação Isofix para cadeirinhas infantis.
O que pega é o espaço interno, principalmente devido à cabine estreita. Você dirige com o ombro encostando na porta e fica com o passageiro ao lado muito próximo. No banco traseiro é a mesma coisa - nem pense em três adultos ali. Mas o espaço para a cabeça e para as pernas é bom, tanto na frente quanto atrás. Já o porta-malas surpreende positivamente: com 290 litros, é mais comprido que o do up! (285 litros) e bem mais que o do Mobi (215 litros).
A posição de dirigir, ao menos para mim, não foi tão fácil de achar. Isso porque o pequeno volante não ajusta em altura nem profundidade, e falta um local definido para apoiar o pé esquerdo. Em compensação, a direção elétrica e o câmbio (ambos exclusivos do Kwid) são melhores que os do Sandero. A direção é bem leve e não muito direta, para deixar o carro fácil de manobrar e confortável na cidade. Já a transmissão tem engates mais curtos e macios que os do irmão maior - eu diria até que é o melhor engate dos Renault manuais que já testei -, enquanto a embreagem é leve e fácil de modular.
A suspensão robusta e elevada trabalha muito bem nas judiadas ruas brasileiras, passando tranquilo por toda sorte de obstáculos urbanos (lombadas, valetas, quebra-molas e buracos). O Kwid tem bom curso de molas e amortecedores, sem, no entanto, deixar a carroceria muito solta. Não dá sustos nas curvas, inclinando de forma moderada, embora seja preciso levar em conta que os pneus são estreitos (165/70) e não demoram a desgarrar.
Uma das sacadas do carrinho é seu baixo peso, que não exige muito do motor. Assim, a Renault pôde economizar mais um pouco tirando o variador de fase dos comandos do propulsor 1.0 3 cilindros SCe. O Kwid conta com 66/70 cv de potência e 9,4/9,8 kgfm de torque, contra 79/82 cv e 10,2/10,5 kgfm da dupla Sandero/Logan. Os números são modestos se comparados aos da nova safra de tricilíndricos do mercado, mas têm de impulsionar apenas 779 kg - para efeito de comparação, o Sandero 1.0 pesa 1.011 kg.
O resultado é um carrinho de saídas ágeis e boa força para encarar as ladeiras, especialmente na cidade. Prova disso foi que ele cravou 13,9 segundos na aceleração de 0 a 100 km/h em nossas medições, ou 0,6 s a menos que o Sandero. Também foi mais rápido que o Mobi Drive (14,5 s) e o up! (14,8 s). Deslancha sem problemas em vias rápidas e encara pequenas viagens sem sufoco. Mas, na estrada, as limitações do Kwid ficam mais evidentes. Falta potência para desenvolver velocidade, a direção fica "boba" demais e, o pior, o carro treme todo a partir dos 120 km/h. Por fim, o pedal do freio tem tato um tanto borrachudo. Mas as frenagens ocorreram em curtos espaço, novamente beneficiadas pelo peso pluma do hatch.
O que também sai ganhando com o carro leve é a economia de combustível: com médias de 10,2 km/l na cidade e 14,3 km/l na estrada (com etanol), o Kwid teve resultado muito próximo do Mobi 3 cilindros, nosso recordista de consumo. Pena o tanque ter apenas 38 litros, o que proporciona autonomia inferior à dos rivais - o do Mobi tem 47 litros e o up!, 50 litros. E desconfie da precisão do mercador de combustível: abasteci quando ele marcava meio tanque e entraram 25 litros! Mas isso é problema desde os primeiros Sandero.
Após uns dias com o Kwid, vemos que suas economias realmente não incomodam. O limpador único tem boa área de varredura, os comandos dos vidros no painel ficam próximos (na porta ficariam espremidos por conta da cabine estreita) e o conta-giros é de certa forma substituído pelo alerta de troca de marcha, que ajuda a dirigir gastando menos. Além dela, há um visor na parte debaixo do quadro de instrumentos que varia de cor, de verde a vermelho, para indicar condução econômica ou não. Pena que o motor moderno ainda tenha o velho tanquinho de gasolina da partida a frio...
Barato de comprar, barato de rodar e... barato de manter. A Renault prevê gasto de R$ 2.449 de revisões durante 60 mil km. Para cobrir os 3 anos de garantia, são três revisões de R$ 388, uma a cada 10 mil km. E quem optar por financiar o Kwid pelo Banco Renault "ganha" mais dois anos de garantia, chegando a 5 no total. Por fim, o seguro para nosso perfil (homem casado, 35 anos, morador da zona sul de São Paulo) ficou na média de R$ 2.250, sendo a cotação mais baixa por R$ 1.830.
Ao fim do teste, não me restaram dúvidas de que o Kwid chega como a melhor opção de compra na faixa dos R$ 35 mil. Tanto é que esta versão intermediária Zen deverá responder por cerca de 60% das vendas. Já se a conversa for para a seara dos R$ 40 mil, como na versão de topo Intense, aí o próprio Sandero se revela uma opção mais "completa" de compacto, oferecendo maior espaço, potência e aptidão para viagens.
Fotos: Rafael Munhoz
Renault Kwid 1.0 Zen 2018
MOTOR | dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, comando duplo sem variador, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 66/70 cv a 5.500 rpm / 9,4/9,8 kgfm a 4.250 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de cinco marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço com calotas, aro 14", pneus 165/70 R14 |
FREIOS | discos sólidos na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD |
PESO | 779 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.680 mm, largura 1.579 mm, altura 1.474 mm, entre-eixos 2.423 mm |
CAPACIDADES | tanque 38 litros; porta-malas 290 litros |
PREÇO | R$ 34.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 | ||
---|---|---|
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 5,5 s | |
0 a 80 km/h | 9,2 s | |
0 a 100 km/h | 13,9 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em 3a | 12,9 s | |
80 a 120 km/h em 4a | 15,5 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 40,8 m | |
80 km/h a 0 | 25,2 m | |
60 km/h a 0 | 14,1 m | |
Consumo (etanol) | ||
Ciclo cidade | 10,2 km/l | |
Ciclo estrada | 14,3 km/l |
Galeria: Renault Kwid Zen 1.0 2017
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Ausente desde 2021, Renault relança o Kwid na Argentina
Novo Duster vira carro de rali com conceito Dakar
Renault Kwid sobe de preço e Fiat Mobi vira carro mais barato do Brasil
Chevrolet Silverado chega à Argentina em versão que não temos
Em guerra de preços, Mobi e Kwid saem pelos mesmos R$ 63.990
Aguardado no Brasil, Omoda C5 muda visual e vira Chery Tiggo 5x na China
Após "cancelamento", Renault Kwid voltará à Argentina em 2025