Hoje é fácil comprar uma moto de uso misto. Praticamente todas as marcas possuem uma trail em seu portfólio, sendo encontradas tanto em versões de baixa cilindrada quanto de média e alta, as famosas big trails. Mas nem sempre foi assim. Nos anos 1950, o lance era pegar as motos street e fazer modificações na suspensão, colocar escape elevado, guidão largo e pneus de cravo para ganhar desenvoltura em terrenos mais difíceis, como nas provas de enduro. Nascia daí o estilo scrambler, que vem da expressão “to scramble”, usada para quando se sobe uma colina rapidamente usando os pés e as mãos.
Nos anos 1960, as marcas se apropriaram do estilo e passaram a lançar suas scramblers já prontas de fábrica. A Triumph, por exemplo, entrou no segmento em 1963 com a Bonneville T-120 TT, de 650 cc. Foi para homenageá-la que a Triumph relançou Scrambler em 2006, numa versão que não veio ao Brasil. Pois agora em 2017 a Scrambler ganha uma novíssima geração, desta vez baseada na Street Twin 900 cc, moto de entrada da linha de clássicas da marca britânica.
O visual, claro, é a grande aposta da Scrambler para conquistar tanto os senhores que curtiam as scramblers dos anos 1960 quanto os jovens que se amarram na moda retrô. De fato, a nova Triumph é daquelas motos que dá vontade de estacionar no meio da sala de estar, daquelas que você para para tomar um suco com os amigos e fica admirando na frente do bar. A primeira parte que chama atenção, e até causa estranheza em alguns, é o duplo escape elevado. "Não atrapalha na hora de pilotar? E o calor?", me perguntaram.
Vamos lá: como a moto é baixa e tem as pedaleiras bem posicionadas (nem muito pra frente nem muito pra trás), os tubos do escape praticamente não interferem na posição de pilotagem - a não ser quando você "abraça" o tanque com as pernas. Mas, sim, o calor incomoda em dias quentes, mesmo com a proteção do escape, e pode ficar pior no trânsito fechado.
No entanto, a Scrambler tem uma pilotagem tão amigável que você terá vontade de usá-la todo dia e nem vai ligar muito para isso. Como dissemos no início, ela parte do chassi da Street Twin, que é a moto de 900 cc mais fácil de tocar que já pilotei. Como consequência, a Scrambler não é pesada (206 kg a seco) e parece ainda mais leve em movimento, além da embreagem (assistida) ser macia e o câmbio, uma manteiga. Você percebe que a marcha entrou mais por conta do mostrador no painel do que pelo "clac" do engate, que quase não existe nesta moto. Um espetáculo!
Na cidade, a única coisa que pede certa atenção é o pouco esterço do guidão, que atrapalha em manobras mais apertadas entre os carros. De resto, ela se vira muito bem. O motor bicilíndrico trabalha muito suave, praticamente isento de vibrações, e o torque máximo de 8,16 kgfm entregue a somente 2.850 rpm deixa a Scrambler esperta em todas as situações - sem falar no ronco bem mais encorpado que na Street Twin.
Para enfrentar a buraqueira urbana, as suspensões da Kayaba contam com 120 mm de curso e os pneus de uso misto (aro 19" na frente e 17" atrás) ajudam na absorção de impactos. Ou seja, ela é uma moto firme em condução mais divertida, mas que não dá pancadas no piloto nos buracos. A Scrambler também está muito bem servida em termos de segurança. Os eficientes freios a disco com pinças flutuantes da Nissin trazem ABS de série, e também há controle de tração comutável. Bom porque você pode desativá-lo para brincadeiras na terra.
Para viagens, bem, aí a Scrambler revela algumas limitações. O banco traseiro curto não garante conforto ao garupa e a potência de apenas 55 cv não permite desenvolver grandes velocidades de cruzeiro. Ela chega a 160 km/h no limite, mas fica à vontade mesmo entre 100 km/h e 120 km/h. O câmbio tem somente 5 marchas, mas, ao contrário da Street Twin, a Scrambler não fica gritando na estrada (4 mil rpm em quinta marcha a 120 km/h).
Durante nossa avaliação apuramos média de consumo de 23,5 km/l, em circuito misto cidade/estrada, o que dá uma autonomia aproximada de 280 km com o tanque de 12 litros - outro aspecto que mostra a vocação mais urbana desta Triumph.
Na hora de assinar o cheque, é preciso considerar que estamos diante de um brinquedo muito legal, mas nada barato (R$ 41.990). Comparando com motos de marcas mais generalistas, ou mesmo uma versátil Tiger 800 XR da própria Triumph, a Scrambler parece um tanto salgada. Mas se olharmos a rival Ducati Scrambler vemos que a clássica inglesa custa praticamente a mesma coisa. Ainda que o segmento seja restrito, a Triumph vem apostando forte nas clássicas, que hoje já respondem por cerca de 25% das vendas da marca no Brasil. E ideia é que elas cheguem a 35% em 2020. Estilo e qualidade não faltam.
Fotos: Mario Villaescusa
MOTOR | dois cilindros paralelos, 8 válvulas, 900 cc, comando simples, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE | 55 cv a 6.000 rpm / 8,16 kgfm a 2.850 rpm |
TRANSMISSÃO | 5 marchas; transmissão por corrente |
SUSPENSÃO | Garfos Kayaba de 41 mm na dianteira e amortecedores duplos Kayaba na traseira com pré-carga ajustável, 120 mm de curso nas duas rodas |
RODAS E PNEUS | Aro 19" na dianteira com pneu 100/90 R19 e aro 17" na traseira com pneu 150/70 R17 |
FREIOS | Disco simples de 310 mm na dianteira e 255 mm na traseira, ambos com pinça flutuante de 2 pistões Nissin e ABS |
PESO | 206 kg (seco) |
DIMENSÕES E CAPACIDADES | comprimento 2.178 mm, largura do guidão 831 mm, altura 1.120 mm, altura do assento 792 mm, entre-eixos 1.446 mm; tanque 12 litros |
QUADRO | Berço de aço tubular |
PREÇO | R$ 41.990 |
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