Se até pouco tempo reclamávamos sobre a idade dos motores dos carros nacionais, não podemos mais fazer isso. Principalmente nos modelo ditos "populares", que receberam sob seus capôs a nova geração de propulsores 3-cilindros, a tendência mundial no quesito eficiência. A Renault entra nesta turma: aposenta o antigo 1.0 16V D4D, lançado no Clio ainda nos anos 2000, e apresenta a nova família SCe, que além do 1.0 12V traz também um novo 1.6 16V de 4-cilindros.
O foco da marca neste primeiro momento foi o 1.0 de 3 cilindros, que equipa Sandero e Logan - em 2017, equipará também o sub-compacto Kwid. Para o roteiro em Curitiba (PR), que privilegiou trechos urbanos, escolhemos o hatch da versão Expression, intermediária, tabelado a R$ 44.950, que nada muda em visual ou pacote de equipamentos. Pois é, não foi agora que alinhamos o estilo com o apresentado durante o Salão de Paris no estande da Dacia. Mas agora é hora de conhecer o novo motor.
Diferente do que foi especulado, o SCe não tem nada do propulsor que hoje roda nos Nissan March e Versa 1.0. Por mais que seja irmã de aliança, a equipe de engenharia deixa claro que ali está um projeto totalmente novo, feito em parceria pelo Brasil, França e Japão. Fabricado em São José dos Pinhais (PR), ele é um produto mundial e que aos poucos chegará para todo o grupo ao redor do mundo.
O motor SCe tem algumas diferenças para outros tricilíndricos aspirados. Ele traz cabeçote com duplo comando de válvulas, ambos variáveis - uma exclusividade do VW up! TSI até então - e com sincronismo por corrente, que dispensa manutenção. Bloco, cabeçote e cárter são feitos em alumínio injetado, o que tira 20 kg em relação ao anterior D4D. Pistões e anéis são envolvidos por material de baixo atrito, enquanto as bielas são fraturadas para menor peso e melhor balanceamento. Já a taxa de compressão elevada (12:1) obrigou o uso de um radiador de óleo para refrigerar o lubrificante (0W30) e não prejudicar a durabilidade mesmo com o grande calor gerado. Para melhor aproveitamento do combustível, os bicos injetores estão instalados no cabeçote, bem na entrada da admissão, e não no coletor. Mas não confunda com injeção direta, onde os injetores de alta pressão ficam na câmara de combustão.
Em números, são 79/82 cavalos de potência (2 cv a mais) e 10,2/10,5 kgfm de torque (mantém o mesmo) a 3.500 rpm (ante 4.250). O grande trunfo está na entrega de força, com a maior parte disponível antes das 2.500 rpm. Para acompanhar, Sandero e Logan ganharam acionamento do câmbio por cabo em substituição aos antigos e barulhentos varões, e direção eletro-hidráulica, que tira o peso da bomba do motor e a coloca sob responsabilidade de um motor elétrico. Além disso, ambos trazem alternador pilotado, que aproveita as desacelerações para carregar a bateria.
Ao volante
Quem já dirigiu o Sandero com o antigo motor "mil" sabe o quanto ele precisa de rotação e pressão no acelerador para sair da imobilidade. Afinal, era um motor com 4 válvulas por cilindro sem variador, que demorava para encher. Com isso na cabeça, seguimos para o novo.
Chega a ser estranho arrancar com o Sandero SCe. Ele responde melhor em baixas e médias rotações. Pisando leve, já tem torque suficiente para a cidade. O indicador de troca de marchas aparece logo após as 2.000 rpm e, mesmo em marchas mais altas, o hatch ganha velocidade quando necessário. Mérito do duplo comando variável e do coletor de admissão longo, que privilegia justamente a entrega do torque em baixas rotações.
O mesmo vale para as retomadas. Não há necessidade de esticar até mais que 4.000 rpm, pois começa a ser um desperdício de combustível e incômodo para motorista e passageiros. É quase o inverso do D4D, com o qual eu convivi por quatro anos num antigo Peugeot 206 da época em que PSA comprava da Renault o 1.0 do Clio para seu hatch.
A troca do acionamento do câmbio colaborou para a melhora do conjunto. Os engates estão mais macios e silenciosos, ainda que continuem um tanto longos. Já a direção eletro-hidráulica continua pesada em baixas velocidades e poderia ter sido substituída de uma vez pela elétrica.
Há uma curiosidade nos números de consumo do Sandero. Segundo o Inmetro, com gasolina ele registra 14,2 km/l na cidade e 14,1 km/l na estrada. Sim, melhor no urbano! No etanol, faz 9,5 km/l e 9,6 km/l, respectivamente. Entendemos isso ao trafegar pelo trecho rodoviário do test-drive.
Começando pelo câmbio, o Sandero marca elevadas 4.100 rpm a 120 km/h, uma penalidade para o consumo. Nesta faixa, o torque já começa a cair, resultando em maior esforço para manter a velocidade, principalmente quando há um leve aclive. É um ponto negativo quando pensamos que boa parte do público comprará o Sandero - ou Logan - como único carro da família e irá viajar carregado. Por mais que exista o 1.6 para isso, o mercado mostra cada vez mais a necessidade de um carro para diversos usos.
A relação do câmbio é a mesma de antes, inclusive diferencial. Mas a alta rotação era justificada pela necessidade do D4D. No SCe, uma sexta marcha poderia resolver esta questão, como fez a Chevrolet no Onix.
No restante, é o mesmo Sandero já conhecido. Acabamento simples, sem luxos e amplo espaço interno para um hatch compacto. A suspensão é calibrada para não sacrificar ocupantes mesmo nos piores pavimentos. Agora resta saber, na próxima avaliação, como será o 1.6 e mais adiante o Kwid.
PRÓS
CONTRAS
Por Leonardo Fortunatti, de Curitiba (PR)
Viagem a convite da Renault
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 999 cm³, duplo comando variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 79/82 cv a 6.300 rpm / 10,2/10,5 kgfm a 3.500 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de cinco marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço aro 15" com pneus 185/65 R15 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.011 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.060 mm, largura 1.733 mm, altura 1.536 mm, entre-eixos 2.590 mm |
PORTA-MALAS | 320 litros |
PREÇO | R$ 44.950 |
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