– San Francisco, Califórnia
Eis uma notícia que não espantará ninguém: prefiro os hatchbacks. A décima geração do Honda Civic é um carro muito bom em suas versões sedã e cupê, mas a versão de dois volumes e cinco portas, extrafuncional, certamente leva meu voto como a mais indicada para comprar. Pelo menos onde ela é vendida. É uma pena ela não ser oferecida no Brasil, tanto pela situação econômica do país quanto pela baixa demanda por hatchbacks médios, vencidos pela febre dos crossovers. Essa avaliação mostra bem o que o consumidor brasileiro vai acabar perdendo. E o porta-malas espaçoso e versátil é apenas parte deste prejuízo.
O lançamento do hatchback veio acompanhado da apresentação das versões Sport e Sport Touring nos EUA, sendo que a primeira combina o belo motor de 1.5 litro turbinado ao câmbio manual de seis marchas, tudo embalado pelo pacote mais atraente que o Civic já ofereceu até hoje. É claro que essas versões responderão por apenas 10 por cento de todas as vendas do Civic Hatchback no mercado americano, se tanto, mas a notícia boa é que há muito mais o que gostar nas demais versões do carro.
O Civic Hatchback tem um caráter próprio quando comparado aos modelos de duas e de quatro portas, mas não me refiro apenas à falta do porta-malas saliente. Na dianteira, a parte inferior do para-choque apresenta largas entradas de ar falsas (só a do lado do passageiro permite algum fluxo), com nichos de faróis de neblina mais proeminentes. Isso transforma o nariz já afilado do Civic em algo ainda mais agressivo e combina bem com o desenho do novo para-choque traseiro. Ele também traz dutos falsos de ar (neste caso, as saídas). As versões Sport têm peças escurecidas e rodas de aro 18" com pneus 235/40 R18. Honestamente, se você me apresentasse o Sport e me dissesse que ele é o Si, eu provavelmente acreditaria. Por breves instantes.
O Sport manual de seis marchas que você vê aqui é a versão mais potente do Civic Hatchback, com 183 cv de potência e 24,5 kgfm de torque
Seja com emblema Sport ou não, todas as versões do Civic Hatchback usam o motor 1.5 turbinado de quatro cilindros, mas, acredite se quiser, ele tem quatro diferentes combinações de potência e torque, dependendo da versão. As Sport usam um sistema de escapamento mais livre, com torques diferentes para o câmbio manual e a CVT. O Sport manual de seis marchas que você vê aqui é a versão mais potente do Civic Hatchback, com 183 cv e 24,5 kgfm de torque. A versão topo de linha, a Sport Touring, entrega os mesmos 183 cv, mas como ela só vem com CVT, o torque cai para 22,4 kgfm. As versões LX, EX e EX-L, todas com CVT, têm 176 cv e 22,4 kgfm. Já o raríssimo LX manual também tem 176 cv, mas o torque sobe para 23,1 kgfm. Pegou?
Uma volta rápida em um Civic Hatchback todo equipado mostrou bem o refinamento da transmissão continuamente variável. Pisando fundo para entrar em uma rodovia ou ao subir as serras íngremes do norte da Califórnia, por suas estradinhas sinuosas em meio à floresta, o barulho não é irritante ou áspero e o CVT não chia em rotações mais altas. A ênfase aqui é na parte "variável" da lógica da transmissão: ela usa toda a amplitude de rotações do motor, extraindo o máximo de torque das baixas rotações e da potência com o pé embaixo. No geral, o comportamento do motor parece e soa muito natural, como se o carro realmente tivesse marchas.
A transmissão manual é típica Honda. A embreagem é superleve, o que exige algum tempo de adaptação, mas lidar com câmbio é algo recompensador e preciso, com seus engates curtos e rápidos. É fácil cutucar o acelerador e reduzir rapidamente as marchas antes de uma curva. A embreagem leve e os engates suaves tornam o câmbio de seis marchas agradável de usar mesmo no anda-e-para urbano.
É um carro com excelente estrutura: suave o suficiente para rodar tranquilo na estrada, mas ágil e comunicativo quando dirigido com gosto
Os Civic Hatchback têm ajustes de direção e de suspensão que os diferenciam dos cupês e sedãs. Executivos da Honda dirão que se trata do proverbial "acerto europeu". Faz sentido: o hatch será construído apenas no Reino Unido e será a primeira versão do novo Civic a ser vendida em toda a Europa. Na estrada, o Civic Sport lembra mais um Mazda, outra maravilha inacessível aos brasileiros, do que um Honda. Ele tem uma direção apurada, com o peso certo, e passa uma sensação de leveza. É um carro com excelente estrutura: suave o suficiente para rodar tranquilo na estrada, mas ágil e comunicativo quando dirigido com gosto.
Os mesmos elogios cabem às versões EX e EX-L, apesar de a potência mais alta da versão Sport, assim como suas rodas e pneus maiores ajudarem bastante quando o assunto é dirigibilidade. Seja como for, o Civic Hatchback presenteia o motorista com uma direção justinha, progressividade na rolagem da carroceria em curvas e uma sensação geral de agilidade.
As versões Sport começam com o que a LX oferece e adicionam as melhorias externas que já mencionamos, assim como uma série de detalhes legais no interior, como volante revestido em couro e mostradores em vermelho. Mas, se você fizer questão do câmbio manual, terá de viver com um sistema de som basicão (sem o sistema de infoentreteninmento Display Audio) e bancos de tecido, sem aquecimento. Os modelos EX trazem um sistema com tela sensível ao toque compatível com Android Auto e Apple CarPlay, assim como bancos aquecidos, mas sem o volante revestido em couro. O EX-L Navi coloca couro em tudo e vem com navegador por GPS, além do pacote de segurança Honda Sensing como opcional. O Sport Touring tem tudo isso e mais alguns itens, como os faróis de LED, bancos traseiros aquecidos e o Honda Sensing de série.
É tudo que curto a respeito do Civic com umas cerejas a mais no bolo
O interior do Civic Hatchback é basicamente o mesmo do sedã. O habitáculo parece amplo e luxuoso, com excelente ergonomia. No porta-malas, há espaço para 640 litros de bagagem. Melhor do que muita perua ou SUV por aí. Isso com os bancos na posição normal. Com eles rebatidos, o espaço sobe para 1.308 litros. O acesso ao compartimento é amplo, o que facilita o carregamento, e não há uma tampa traseira inteiriça, mas sim uma cobertura retrátil em tecido. Ela é puxada do lado esquerdo para o direito. Não é preciso remover nada para carregar objetos grandes. Só tirar a cobertura do caminho. Bem engenhoso.
O custo por esse acréscimo de estilo, diversão e funcionalidade? Cerca de US$ 500 a mais do que o sedã equivalente. O Civic Hatchback LX custa US$ 19.700, ou cerca de R$ 68.000. O Sport sai por US$ 21.300, ou pouco mais de R$ 73.000. Se quiser um Sport Touring todo equipado, com couro, navegador e tudo o que tiver direito, a dolorosa será de US$ 29.135, o equivalente a R$ 100 mil e uns quebrados. Lembre-se de que o Civic Touring passa bastante disso.
Para mim, a versão mais interessante é a EX, vendida a US$ 22.800 (mais ou menos R$ 78.500), ou a versao Sport que você vê nestas fotos. Mas pouco importa qual delas os americanos vão preferir. O Civic Hatchback impressiona com boa aparência, cabine refinada, porta-malas funcional e comportamento dinâmico exemplar. É tudo que curto a respeito do Civic com umas cerejas a mais no bolo. Em suma, o melhor Civic disponível atualmente. Aproveite o Salão do Automóvel para pedir que a Honda do Brasil reconsidere a decisão de não vendê-lo no Brasil. Melhor do que simplesmente sentar e chorar de inveja.
Fotos: Steven Ewing / Motor1.com
HONDA CIVIC HATCHBACK SPORT 2017
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