Quem gosta de desenhos animados ou quadrinhos há de se lembrar do personagem Bizarro, antagonista do Super-Homem. Criado por um raio duplicador, o vilão é um clone defeituoso do Superman. Seu planeta, o Mundo Bizarro, tem forma de cubo e é uma Terra às avessas: tudo o que temos por aqui, também existe por lá, mas de um jeito mal-ajambrado.
Os carros têm rodas quadradas, as cortinas ficam para fora das janelas, os números dos relógios estão fora da ordem e os letreiros são escritos ao contrário. E eis que, "googlando" a esmo, descobrimos que os chineses estão fabricando um Fusca do Mundo Bizarro - e não estamos falando daquele badalado Ora Ballet Cat, besouro elétrico produzido com esmero pelo grupo GWM.
O nosso Fusca do universo paralelo é tosco e mal-acabado. Sequer pode ser considerado um automóvel propriamente dito. Trata-se de um produto da empresa Wecan, sediada em Qingdao, cidade no meio do caminho entre Pequim e Xangai.
A principal especialidade da Wecan é fazer reboques e food trucks inspirados em modelos do passado. Seus motores elétricos servem apenas para facilitar o deslocamento dos veículos por curtas distâncias, já que esses carrinhos não podem ser emplacados.
O carro-chefe da companhia é um trailer com paredes de aço inox que lembra os famosos Airstream fabricados nos Estados Unidos. A linha continua com veículos que podem mover-se por seus próprios meios - mas não muito rápido e nem para muito longe... Sobre um chassi de tubos de seção quadrada, equipado com motor elétrico, a Wecan monta carrocerias de fibra de vidro com ar retrô e um baú que serve como cozinha, sorveteria ou ponto de venda. Tudo é feito sob medida, segundo a encomenda do cliente.
Com essa finalidade, há carrinhos que imitam várias versões do Piaggio Ape (triciclo que foi fabricado no Brasil, nos anos 1960, com o nome Vespacar), além de réplicas do Citroën Type H (1948-1981) e da Kombi Corujinha (1950-1975). Por “réplicas”, entenda-se cópias quase caricaturais dos veículos originais. Algumas sequer são moldadas nos carros de verdade, mas feitas a partir de modelos 3D desenhados pela Wecan. Sabe quando a gente bate o olho e vê que algo está fora do lugar? Pois é…
Modelos de fibra de vidro da Wecan na China
A novidade da vez é o Wecan Beetle, o simulacro do Fusca. A carroceria é uma bolha de fibra de vidro em uma só peça, unindo os para-lamas ao corpo central e incorporando até os frisos. Nota-se que foi baseada no modelo alemão de 1968, já com vidros laterais maiores que os do modelo brasileiro, faróis em pé e para-choques de lâmina única. Suas dimensões são as mesmas do Volkswagen de verdade. Se a silhueta é familiar, todo o resto é puro Mundo Bizarro.
Segundo a planilha da Wecan, o carro já vem com um jogo completo de luzes, mas as setas e lanternas mostradas nas fotos nada têm a ver com as do Fusca original. São adaptações sem pé nem cabeça, como lanternas de Ford 1929 em para-lamas traseiros modelo “Fafá”. Maçanetas e puxadores são desproporcionalmente grandes, certamente adaptadas de algum material que já estava disponível na fábrica.
Modelos de fibra de vidro da Wecan na China
Os para-choques, também de fibra, são pintados de prateado e montados abaixo da posição original, o que dá uma aparência estranha à curvatura dos para-lamas dianteiros. Segundo a ficha, o carro usa vidros temperados de verdade, e não acrilico como se poderia imaginar. Parecem colados diretamente na carroceria, em vez de montados com borrachas.
A grelha original de refrigeração do motor, sob a vigia traseira, foi tapada. Os estribos foram suprimidos e os retrovisores externos são de moto. Já as portas são montadas com dobradiças comuns e ficam desalinhadas da carroceria. O mais estranho de tudo é que a carroceria parece apoiada bem acima do chassi. As bitolas também não casam, e as rodas e pneus sobram pra fora dos para-lamas.
Por dentro, o Wecan tem ainda menos a ver com um Fusca. O assoalho é liso, sem o túnel central. O painel também é alisado e simplificado e há um pequeno mostrador digital. São dois pedais, sendo que o do freio é pivotado no alto. Forrados com courvin e os bancos são fininhos. Tanto os vidros das portas quanto os quebra-ventos aparentam ser fixos e uma camada de poliuretano tenta promover algum isolamento contra o calor.
Modelos de fibra de vidro da Wecan na China
Instalado na traseira, o motor é elétrico e alimentado por um pacote de baterias comuns, de chumbo-ácido. Assim equipado, o carro alcança a máxima de 35 km/h e pode percorrer 80 quilômetros entre as recargas (que demoram de seis a oito horas). É o suficiente para o uso que se espera desse Volkswagen fake chinês: levar noivas, carregar turistas por pequenos circuitos, aparecer em promoções e enfeitar vitrines. Vale dizer que a marca alemã jamais vendeu oficialmente o Fusca original na China… Quem não tem besouro, vai de Wecan.
E engana-se quem pensa que esse besouro do multiverso é baratinho. Na China, seu valor FOB (para exportação) é de US$ 7.513, ou R$ 42.300 pelo câmbio atual. Quem encomendar mais de cinco carros paga US$ 6.990 (R$ 39.300) por cada um. No Brasil, daria para comprar Fuscas de verdade muito bons por esses valores.
E, pelo visto, a Wecan não vai parar por aí. Nas fotos, é possível ver outros modelos no pátio da fábrica, como um calhambeque genérico, um Mini pré-2000, um micro-ônibus Mercedes L319 (1955–1968) e uma Kombi T2. É o raio duplicador do Mundo Bizarro a todo vapor.
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