Nas últimas semanas, você provavelmente viu muito breaking dance, marcha atlética e trampolim acrobático em suas redes sociais. Mas, apesar de todos os eventos exóticos e malucos nos Jogos Olímpicos deste ano, não se viu automobilismo em Paris.

O automobilismo nunca pegou nas Olimpíadas - e não foi por falta de tentativas. Nos Jogos Olímpicos de 1900, Louis Renault, fundador da empresa que leva seu sobrenome, e mais uma dúzia de pilotos competiram pelas estradas da França com suas voiturettes (carros com menos de 400 kg) na prova Paris-Toulouse-Paris. Renault levou a medalha de ouro e um prêmio de 4 mil francos nessa categoria, enquanto Alfred Levegh foi o campeão geral, recebendo ouro na categoria para automóveis, com seu Mors.  Um segundo "rali olímpico" foi realizado nos Jogos de 1936, em Berlim, com a pilota britânica Betty Haig em um Singer Le Mans conquistando o ouro.

Lewis Hamilton no Campeonato Aberto de Kart da Itália de 1998
Chris Dixon / LAT Photographic

O Comitê Olímpico Internacional (COI) reconhece que essas corridas fizeram parte da programação dos jogos mas, infelizmente, não as certifica como provas olímpicas oficiais. E desde então, nos últimos 88 anos, não houve outras tentativas de se trazer o automobilismo para as Olimpíadas.

Em 2001, parecia que todas as esperanças haviam se perdido. Em uma atualização de seu regulamento, o COI praticamente baniu as corridas de automóveis. No capítulo 5 da Carta Olímpica, uma única linha dizia: “Não são aceitáveis ​​desportos ou eventos em que o desempenho dependa essencialmente de propulsão mecânica”. Felizmente, o COI removeu essa regra em 2016 e não a mencionou nas emendas de 2023.

Inicialmente, eu queria analisar porque as corridas ao estilo da Fórmula 1 não estão nas Olimpíadas. Ponha os melhores pilotos do mundo em monopostos e deixe-os correr em uma pista. Mas esportes a motor de uma categoria assim seriam incrivelmente caros para os padrões olímpicos, difíceis de regulamentar e nem todos os países conseguiriam fornecer um veículo no padrão esperado (mesmo que alguns tenham os melhores pilotos do mundo).

Então, qual seria a melhor solução? Kart.

Dezenas de pilotos profissionais da atualidade começaram no kart. Antes de ter três campeonatos de F1, Max Verstappen venceu várias competições de kart. Charles Leclerc, Fernando Alonso, Lando Norris, Lewis Hamilton e Logan Sargeant — todos campeões de kart.

Fernando Alonso no Campeonato Mundial de Kart de 1997
Chris Walker

Fernando Alonso no Campeonato Mundial de Kart de 1997

Essa não é uma ideia nova. As corridas de kart — ou, como são chamadas, “esporte a motor olímpico” — foram introduzidas nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018, em Buenos Aires. Seis equipes de dois pilotos competiram em karts elétricos. Embora não tenham sido entregues medalhas, o atual piloto da Fórmula 2, Franco Colapinto, e sua colega de equipe, Brisa Puig, levaram o (teórico) ouro.

Desde então, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), órgão que comanda a F1, tem tentado trazer as corridas de kart para as Olimpíadas. A FIA sugeriu incluir o kartismo já nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028, mas a proposta foi protelada, assim como ocorreu com o kickboxing e o caratê.

Mas ainda há esperança.

A FIA fará outra tentativa para o kartismo nos Jogos Olímpicos de 2032 em Brisbane, Austrália. Isso representa mais oito anos de espera, mas também significa que esta poderá ser a primeira chance real de vermos karts no nível olímpico.

"A possibilidade de o kartismo ser incluído no programa oficial dos Jogos Olímpicos ter sido considerada, por si só, já foi um primeiro passo satisfatório. Isso nos encoraja a continuar nossos esforços e aprimorar uma proposta adaptada ao formato dessa competição única, a fim de apresentar uma nova candidatura no futuro."
Porta-voz da FIA via InsideTheGames. 

Dedos cruzados.

Os karts seriam uma solução ideal para corridas olímpicas. O conceito básico é bem simples (na teoria). Cada kart teria que atender a um determinado padrão olímpico, e cada país forneceria uma equipe de mecânicos, engenheiros etc para supervisionar os veículos de suas respectivas equipes. Ao contrário dos carros de Fórmula 1, os karts são muito mais baratos e fáceis de serem padronizados.

Em seguida, seria necessário garantir os locais para as corridas. Os Jogos Olímpicos da Juventude usaram a pista de kart do Autódromo Oscar y Juan Gálvez, em Buenos Aires, para seu evento em 2018. Com as Olimpíadas de Paris 2024 como modelo, a pista de kart do Circuito Paul Ricard poderia sediar todas as corridas, o que facilitaria a logística.

Circuito de Kart Paul Ricard
Morgan Mathurin / Karting Circuit Paul Ricard

Circuito de Kart Paul Ricard

Mas há uma segunda opção, mais divertida: um circuito de rua pela cidade anfitriã. Embora seja mais complicado logisticamente, coisas mais loucas já foram feitas em nome da competição olímpica. Imagine se este ano os melhores pilotos do mundo tivessem corrido pela Rue de Rivoli em Paris, ou ao redor da icônica Place de l'Étoile.

Cada país escolheria seus pilotos. Como na maioria dos eventos olímpicos, os competidores provavelmente seriam jovens e talentosos (mas relativamente desconhecidos) pilotos de kart de todo o mundo. Isso, claro, traria grande reconhecimento para que esses pilotos tentassem ter sua chance em um palco maior, o que seria ótimo.

Mas novamente, há uma segunda opção, mais divertida.

Vamos apenas pegar os melhores pilotos profissionais do mundo e colocá-los em uma competição olímpica de kart. Supondo que todos os pilotos sejam elegíveis, poderíamos reunir nomes das principais categorias, como F1, Fórmula E, IndyCar, Nascar e o Campeonato Mundial de Endurance. Os 10 principais países (com base em alguma qualificação teórica) seriam elegíveis para o evento, e, de forma semelhante à Corrida dos Campeões (Race of Champions) ou aos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018, um total de 20 pilotos competiriam numa série de corridas eliminatórias para determinar os medalhistas.

Olympic Virtual Series
FIA

Olympic Virtual Series

Então, vamos nos divertir com isso. Aqui estão minhas equipes dos sonhos para cada país (desculpe-me se o seu piloto ou país não está representado nas minhas Olimpíadas fictícias de kart):

Austrália: Daniel Ricciardo e Oscar Piastri
Brasil: Pietro Fittipaldi e Sérgio Sette Câmara
França: Esteban Ocon e Pierre Gasly
Grã-Bretanha: Lando Norris e Lewis Hamilton
Alemanha: Nico Hülkenberg e Pascal Wehrlein
Japão: Takuma Sato e Yuki Tsunoda
México: Pato O'Ward e Sergio Pérez
Holanda: Max Verstappen e Nyck de Vries
Espanha: Carlos Sainz Jr. e Fernando Alonso
Estados Unidos: Kyle Larson e Logan Sargeant

Imagine Kyle Larson e Lewis Hamilton disputando roda a roda na última volta ao redor do Arco do Triunfo, ou Verstappen e De Vries trocando tinta sob a Torre Eiffel, enquanto hordas de espectadores franceses agitam suas baguetes com entusiasmo. Um delírio!

As corridas de carros, definitivamente, estão ganhando impulso no COI, o que é uma ótima notícia — e não apenas no cenário das Olimpíadas da Juventude. Em 2021, o COI e a FIA se uniram para a realizar o evento Olympic Virtual Series, que reuniu gamers profissionais do mundo todo para competir em um torneio de Gran Turismo. Valerio Gallo, da Itália, levou o (virtual) ouro. E podemos ver mais eventos olímpicos virtuais no futuro.

Mas para pôr pilotos reais em uma pista real, com uma chance real de ganhar ouro olímpico, o kart faz mais sentido — e parece que seria incrivelmente divertido. Vamos torcer para que o COI e a FIA concordem em levar isso para Brisbane em 2032 e que atraiam os maiores nomes do automobilismo, ansiosos por orgulhar seus países.

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