A Stellantis lançou ontem, no mercado argentino, o modelo 2025 do Peugeot 208 fabricado em El Palomar, a 25 km do centro de Buenos Aires. Trata-se de uma reestilização do 208 de segunda geração, à venda desde 2020. A grande novidade é uma nova versão topo de linha: a 208 GT Turbo 200. Esta configuração traz o motor Fiat de três cilindros 1.0 turbo, que rende 120 cv de potência e 20,3 kgfm de torque.
No Brasil, esse motor GSE T200 já é oferecido nos Peugeot 208 desde o ano passado, até com mais potência (125/130 cv), nas versões Allure, Style e Griffe. Agora, enfim, chegou a vez de os argentinos terem a novidade na versão GT – uma sigla que remete aos pequenos e espertos 205 GT dos anos 80.
A marca francesa, vale dizer, continua a ser uma das preferidas na Argentina, onde ocupa o 5º no ranking de vendas, e teve 9,9% do mercado em 2023. No Brasil, a Peugeot obteve um modesto 10º lugar no ano passado, com apenas 1,6% de market share.
Em agosto de 2020, quando testei o então novo Peugeot 208 Feline com o motor 1.6 16v de 115 cv e 15,2 kgfm, escrevi na conclusão: “O problema é que, quanto mais quilômetros você rodar com esse 208, mais você notará a presença de um motor ultrapassado, que não está à altura do brilhante acerto do chassi. Portanto, toda vez que você vir essas presas de LEDs brilhantes nas estradas, lembre-se desta mensagem: estamos diante de um Leão argentino pronto para devorar muitos cavalos mais".
Agora a Peugeot adicionou um turbo ao novo 208 vendido na Argentina, o que lhe permitiu ganhar 5 cv e 5 kgfm. Na apresentação dos modelos 2025, não foi possível guiar o carro, mas tive a oportunidade de conversar com Ariel Cucciniello, representante da Engenharia da Stellantis presente ao lançamento.
– Como fizeram para instalar o motor e o câmbio Fiat sob o capô do novo 208?
– Desde o nascimento do Grupo Stellantis, nós da Engenharia e Desenvolvimento encontramos o que sempre sonhamos: uma prateleira enorme, cheia de opções de motores e transmissões, que nos oferece uma grande variedade de possibilidades para criar novos modelos. Era algo que não existia antes com a PSA, onde tivemos que nos limitar a uma gama de mecânicas muito mais restrita.
– E por que escolheram o conjunto T200 CVT da Fiat?
– A gama 208 precisava de incorporar um motor turbo, tecnologia que vários rivais no segmento já ofereciam e que já estava disponível em outras marcas do Grupo Stellantis. Este motor T3, como o chamamos internamente, é um propulsor muito confiável, moderno e provado, que já equipa o Fiat Pulse e também o nosso novo Peugeot 2008. Lembramos que este motor T3 é um projeto completamente desenvolvido pela Stellantis na América Latina. É um conjunto mecânico nascido no Centro de Desenvolvimento de Betim, no Brasil, o que nos permitiu transplantá-lo para o 208.
– Que adaptações foram necessárias para que o 208 recebesse o novo motor?
– Desenvolvemos novos suportes e coxins, projetamos novos dutos de admissão e escape. Adaptamos o que já tínhamos do 208 1.6 16v, criando condições para a instalação do novo conjunto de motor e caixa.
– Com essa reestilização do 208, o motor 1.2 sai de cena na Argentina mas o 1.6 16v é mantido. A que se deve esta decisão?
– Foi uma decisão dos gestores da marca Peugeot, que estabelecem a estratégia do produto e enviam à área de Engenharia os requisitos para o novo modelo. No caso, o motor EC5 1.6 16v está em constante aprimoramento para otimizar seu desempenho e manter-se atual.
– Como é a experiência de dirigir o 208 GT Turbo 200?
– É uma experiência impressionante. Esse carro resume o conceito de “prazer de dirigir”, porque tem bom torque em baixas rotações e é muito agradável de guiar. Acelera de 0 a 100 km/h em 9,4 segundos, atinge máxima de 198 km/h e tem consumo de 11,5 km/l na cidade e 17,8 km/l em estrada. Sua manutenção é simples, com correia dentada convencional.
– O CVT sempre gera desconfiança em relação ao “prazer de dirigir”. Ainda não testamos o 208 com o novo conjunto de motor e câmbio, mas qual a sua opinião?
– Nesse caso, pediram que a progressividade das marchas não fosse tão acentuada e que houvesse uma reação mais esportiva. Convido você a experimentar o carro assim que possível e tirar suas próprias conclusões.
– Esta nova família de motores Fiat é composta pelo T3 (Turbo 200) e pelo T4 (Turbo 270), de 1,3 litros e 175 cv. Fisicamente, o motor maior cabe sob o capô do 208?
– Fisicamente caberia. Por ser um motor um pouco maior, seríamos obrigados a fazer algumas modificações, mas não avaliamos isso porque não houve uma solicitação específica da marca.
– E vocês, sem o pedido específico da marca, não podem analisar a viabilidade?
– Não. Temos um pedido chamado “Demanda de Estudo” que é o que a marca nos repassa sempre que pretende que a Engenharia analise a viabilidade técnica de um novo projeto. Só a partir daí poderemos começar a trabalhar nesse tipo de análise técnica.
Peugeot 208 (2025) - Argentina
Ariel Cucciniello foi claro. Como todo engenheiro apaixonado, ele sabe que – com um pouco de trabalho e adaptações – o motor T270 com 175 cv e 27,5 kgfm caberia sob o capô do novo 208.
A primeira geração do 208 já contava com motores mais potentes, como o GT de 165 cv e o GTi de 200 cv. Poderia haver um novo 208 GTi argentino? Tudo depende dos pedidos que os Brand Managers da Peugeot façam na região.
O T4 T270 já é oferecido no Pulse Abarth. É um motor que serve muito bem ao crossover esportivo. Sua versão a gasolina, oferecida na Argentina, rende 175 cv (no Brasil, com a versão flex, a potência vai a 180/185 cv).
A plataforma CMP do Peugeot 208 é até mais preparada que a MLA do Fiat Pulse para receber uma motorização mais forte: tem centro de gravidade mais baixo, aços de alta resistência e uma arquitetura usada por modelos da Stellantis muito mais potentes, como o novíssimo Alfa Romeo Junior, com até 238 cv.
Claro: os gestores da marca responderão que seria necessário analisar se há demanda no mercado por um 208 GTi argentino... Acrescento minha opinião: gostaria de ser o primeiro na lista de espera. Outros interessados podem se cadastrar na seção de comentários abaixo.
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