Estima-se que existam atualmente uns 200 fabricantes de carros elétricos na China. Alguns se destacam, atraem investidores e ganham força para crescer - a maioria das marcas menores, contudo, acabará anexada por rivais mais fortes ou, simplesmente, deixará de existir. É um processo muito semelhante ao que aconteceu na indústria automobilística ocidental entre os anos 1900 e 1930. Nomes como Li Auto, Nio, Xpeng e Zeekr - todos surgidos de dez anos para cá - hoje estão em grande evidência, prometendo grandes avanços tecnológicos e um futuro brilhante. Deciframos aqui os logotipos que formam a identidade dessas marcas.
Por onde se anda em Pequim, há modelos da Li Auto desfilando suas linhas limpas e futuristas. A marca surgiu em 2015, fundada por Li Xiang, criador de websites de vendas de produtos eletrônicos e automóveis. A ideia era produzir carros elétricos de baixa velocidade (low-speed vehicles, ou LSV), que seriam usados em serviços de compartilhamento. O plano não foi adiante, mas o empresário partiu para um voo bem mais alto: fazer carros “de verdade”.
Hoje a Li Auto - ou “Lixiang”, como é chamada pelos chineses - é especializada em SUVs elétricos EREV (ou seja, com um gerador a gasolina para estender a autonomia). Produz também a Li Mega, minivan totalmente elétrica que faz a picape Tesla Cybertruck parecer peça de museu. O logotipo da marca é bem fácil de ser decifrado por ocidentais: simplesmente o nome Li em letras ligeiramente inclinadas. “Lixiang” significa “Ideal” em chinês - e, claro, é o nome do criador e CEO da companhia. Oficialmente, porém, esse Li do logotipo vem de Leading Ideal (algo como “Ideal de Liderança”).
A estatal Changan produziu seu primeiro veículo - um clone do Jeep Willys americano - em 1959. Hoje, a companhia fabrica automóveis usando cinco diferentes marcas. Uma destas é a Nevo, criada no ano passado para vender carros plug-in ou elétricos “de entrada”, mais baratos que os da Avatr (outra divisão da Changan).
Não pense, porém, que os Nevo são simplezinhos como os nossos populares. O sedã Nevo A05, por exemplo, é uma nave com 4,77 m de comprimento e 2,76 m de entre-eixos - maior que o atual Honda Civic híbrido. Na China, a Nevo é chamada de Qiyuan. Seu logotipo mistura o quadrado e o círculo, além de fazer referência ao 1-0-1 do sistema binário usado nos computadores. Nos caracteres chineses da foto se lê “Chang’an Qiyuan”.
Fundada pelo sociólogo “William” Li Bin há apenas dez anos, a Nio (antiga NextEV) é hoje uma das marcas mais badaladas na China, ao lado das também recentes Li Auto e Xpeng. Seu começo foi marcado por dificuldades financeiras: a companhia esteve às portas da falência, mas foi salva por um grande aporte governamental. Pegou carona na ascensão da Tesla e da Wuling nas bolsas de valores e ganhou fama no Ocidente ao manter uma equipe na Fórmula E.
Atualmente com uma grande gama de arrojados sedãs, SUVs, crossovers e station wagons, a Nio já vende seus carros elétricos na Europa. Tem investido no desenvolvimento de sistemas semiautônomos de direção, além de estações onde se pode fazer a troca rápida da bateria do automóvel no meio da estrada. Entre suas muitas atividades, a Nio vende até smartphones com recursos para controlar as funcionalidades dos carros elétricos.
A filosofia orientadora da empresa é “A chegada do céu azul”, pensando em um “futuro mais brilhante e positivo e um amanhã mais sustentável”. Daí que o logotipo é composto por duas formas: o arco em cima representa o céu, enquanto o V de cabeça para baixo é uma estrada em perspectiva até o horizonte, ou a seta que aponta o caminho.
Em 2004, a SAIC Motor, maior fabricante estatal de automóveis da China, adquiriu os direitos de produção dos carros de passeio e motores da britânica Rover, que estava às portas da falência. O nome Rover, contudo, ficara com a BMW. A solução dos asiáticos foi inventar uma nova marca: a Roewe que, desde então, faz muito sucesso entre os chineses. Em 2020, a SAIC decidiu criar uma divisão de carros elétricos da Roewe - era a R Auto, depois Feifan. Mais recentemente, essa submarca foi rebatizada de Rising Auto para os mercados ocidentais. Seu logotipo é um R estilizado (que, à primeira vista, parece um cinco visto no espelho).
Tudo começou na Golden Dragon Skywell, uma grande fábrica de ônibus e vans. Em 2017, a Skywell anunciou que investiria nos chamados veículos de nova energia (NEVs), ou seja: elétricos e híbridos PHEV. Nascia a subsidiária Skyworth Auto. As vendas ainda são modestas (30 mil carros em 2023) se comparadas às de outras fábricas de elétricos na China. O logotipo simboliza um plugue de recarga.
Um dos logotipos automotivos que mais chamam a atenção nas ruas de Pequim traz um enigmático círculo que engloba seis tracinhos - tudo feericamente iluminado com LEDs multicoloridos. Demoramos a descobrir que se tratava de uma marca chinesa com nome bem alemão: Weltmeister, de “campeão mundial”. Criada por um antigo executivo da Geely e da Volvo, a WM Motor produz carros elétricos desde 2018. Em outubro passado, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial e, hoje, está com um programa de reestruturação, tentando negociar com os credores e atrair investidores.
A concorrência no mercado chinês de veículos elétricos é intensa e nem sempre uma startup consegue meios de garantir o seu crescimento. Antes que a fábrica feche as portas, explicaremos o logotipo das seis barrinhas dentro do círculo: disposição dos traços sugere o formato das letras WM (de Welt Meister), ou seis carros andando em pistas lado a lado.
A gigante dos equipamentos eletrônicos causou comoção ao entrar no mercado automotivo com o sedã elétrico Xiaomi SU7. No Salão de Pequim 2024, era preciso esperar mais de uma hora na fila para ver o carro de perto. Produzido sob contrato numa fábrica do grupo estatal Baic (Beijing Automotive Group), na capital chinesa, o modelo mede 5 metros de ponta a ponta. É tão grande quanto um Tesla Model S mas custa o mesmo que o médio Tesla Model 3. Uma de suas versões tem dois motores, tração integral e potência cobinada de 673 cv.
O logotipo da marca de automóveis é o mesmo usado pelas divisões eletrônicas da Xiaomi: a sílaba “Mi” dentro de um “círculo quadrado”. Em tempo: o nome Xiaomi foi escolhido porque soa bem tanto na Ásia quanto em línguas ocidentais. É uma das maneiras de se dizer “arroz” em chinês. Numa tradução literal, Xiaomi significa “pequeno arroz”.
A Guangzhou Xiaopeng Motors Technology Company Ltd., ou simplesmente XPeng Motors, é outra das novatas que vêm fazendo enorme sucesso no mercado de carros elétricos da China. Criada por dois antigos executivos do grupo estatal automotivo GAC, a marca tem He Xiaopeng como um de seus fundadores e atual presidente. No ano passado, a Volkswagen adquiriu 5% da companhia para que seus próximos carros elétricos incorporem tecnologias da XPeng. E está estudando entrar no mercado brasileiro, através de um representante, como revelado em primeira mão por InsideEVs.
A marca chinesa tem avançado nos sistemas de direção autônoma (com dispositivos de lidar, radar e câmeras), bem como no desenvolvimento de baterias (em parceria com a também chinesa CATL). Além disso, a XPeng vem implantando postos de recarga por todo o país asiático. As vendas na Alemanha começaram em março passado. O logotipo é simples e fácil de identificar: dois pares de asas de avião que, frente a frente, formam um grande X.
A expressão chinesa “yang wang” significa “olhar para cima” e é isso que a BYD tem feito nos projetos de sua divisão topo de linha. A Yangwang ficou famosa pelo seu superjipão U8, aquele capaz de girar sobre seu próprio eixo, além de flutuar em um lago (apesar de suas 3,5 toneladas de peso). A marca tem ainda o hiperesportivo elétrico U9, com potência combinada de 1.300 cv e, não satisfeita, mostrou no recente Salão de Pequim o sedã U7, também de 1.300 cv e ultra-aerodinâmico com seus 5,26 m de comprimento.
O estilo de todos é assinado por Wolfgang Egger, antigo chefe de design da Audi, da Lamborghini e da Alfa Romeo. O logotipo da Yangwang é inspirado na “escrita em ossos oraculares”: inscrições que os chineses de 1.400 a.C. a 1.100 a.C. faziam em ossos de animais, para prever o futuro. O ziguezague em forma de raio que se vê no logo era o caractere para “força” ou “energia”. Tudo a ver com eletricidade.
Essa é de meter medo no Super-Homem: o nome Zeekr vem de “Ze” (zero), “e” (elétrico) e “Kr” (símbolo do elemento químico criptônio, um gás nobre que emite luz quando eletrificado). A pronúncia em chinês é algo como “Ji kê”, ou “máximo criptônio”. Em resumo: esses carros são pura Kryptonita e nem Lex Luthor pensaria em algo assim! Fato é que a Zeekr tem se saído muito bem no segmento dos elétricos de luxo - só no ano passado, a marca vendeu 119 mil carros, mesmo tendo a Nio e a XPeng como rivais. É outra que está de olho no Brasil, prometendo começar a vender carros aqui ainda em 2024.
Seu centro de design fica na Suécia, o que explica as formas limpas (mas brutais) de seus modelos. Entre os equipamentos, há até reconhecimento facial para destravar as portas. A Zeekr é uma divisão do grupo Geely, que hoje também controla a Volvo, a Lotus, a Smart, a Polestar e a Link & Co, além de ter participação acionária na Mercedes-Benz e na Aston Martin. O logotipo é um quadrado com duas peças de formato irregular, perfeitamente encaixadas. O fabricante diz que o desenho tem um significado profundo: “cruzar o tempo, conectando realidade e sonhos”.
O escudinho misterioso parece o símbolo de porcentagem (%), mas tem duas barrinhas centrais em vez de uma. É o logotipo da marca Zhiji - “Sabedoria”, em chinês. A empresa, também chamada de IM Motors, é uma joint venture da poderosa estatal SAIC Motor, com a empresa de tecnologia Zhangjiang Hi-Tech e o grupo de comércio eletrônico Alibaba.
A Zhiji já produz dois crossovers e um sedã elétricos. O quarto modelo está para chegar ao mercado com a promessa de uma revolução: será o L6, primeiro carro do mundo a usar bateria em estado sólido. Esse tipo de tecnologia permitirá aumentar a autonomia, além de fazer recargas bem mais rápidas que nas baterias de íon-lítio usadas atualmente.
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