No mundo automotivo, a máxima "o ótimo é inimigo do bom" se aplica com frequência. Novos modelos surgem constantemente, prometendo novidades e tecnologias de ponta, mas nem sempre conseguem superar seus antecessores. No entanto, o Honda CR-V Advanced Hybrid desafia essa lógica, posicionando-se como um SUV híbrido que traz inovações ao mesmo tempo em que se apoia em elementos que fizeram sua trajetória.
Ao longo dos últimos quatro anos no Motor1.com/InsideEVs Brasil, dirigi quase todos os carros elétricos disponíveis no mercado, mas ainda não um SUV híbrido, oportunidade que surgiu com o CR-V Hybrid, o maior e mais equipado modelo da linha de veículos híbridos da marca japonesa à venda no Brasil.
E antes de começar, não custa mencionar que atualmente há diversos tipos de sistemas híbridos. Mas, simplificando, eles são veículos combinam um motor a combustão interna com um ou mais motores elétricos. O motor elétrico utiliza energia armazenada em baterias, que podem ser recarregadas pelo próprio funcionamento do carro (híbrido comum) ou por meio de uma tomada (híbrido plug-in).
Se comparados com os modelos exclusivamente a combustão, a grande vantagem dos híbridos está na eficiência energética. Ao alternar entre o motor elétrico e o a combustão, dependendo da demanda, eles reduzem o consumo de combustível e as emissões de poluentes.
Cada vez mais comuns nas ruas, os híbridos mostram a rápida expansão dos eletrificados no Brasil. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), as vendas desses carros cresceram 220% em 2023. Essa tendência deve se manter nos próximos anos, impulsionada pela maior oferta desses modelos e aprimoramento da tecnologia híbrida.
Aqui, vale destacar que o trem de força híbrido da Honda é uma das melhores opções HEV disponíveis no mercado. Explora de forma eficiente os dois mundos (combustão e eletrificação), entregando um consumo decente para sua proposta. O novo CR-V Hybrid está equipado com o já conhecido sistema, mas com pequenas mudanças em relação ao utilizado nos Civic e Accord. O SUV conta com um motor 2.0 aspirado a gasolina de 147 cv e 19,4 kgfm, que atua como gerador de energia e, em alguns momentos, como propulsor. Já o conjunto elétrico possui dois motores elétricos, com potência combinada de 184 cv e 34,2 kgfm, sendo um motor propulsor e outro gerador.
A principal diferença para os sedãs é a tração integral, que distribui a força entre os eixos dianteiro e traseiro de forma inteligente, para maior estabilidade e eficiência. O câmbio e-CVT, por sua vez, possui duas marchas, enquanto os sedãs possuem apenas uma, justamente pelo menor peso e tração apenas dianteira.
Ao entrar no CR-V Hybrid, o ambiente é familiar para quem já está acostumado aos sedãs da Honda. Linhas horizontais predominam, criando uma sensação de amplitude e modernidade, mas sem exageros. Tudo é simples, funcional e com excelente qualidade de montagem. Destaque, as saídas de ar são estreitas e integradas discretamente à grade em colmeia, enquanto detalhes em preto brilhante e alumínio conferem um toque de sofisticação, mas sem exagero ou ostentação.
No entanto, na porta traseira encontramos um acabamento mais simples em plástico rígido, que destoa um pouco da elegância presente na dianteira, onde a mistura de madeira e LEDs cria uma atmosfera mais premium. Apesar disso, os demais elementos do interior, como o volante, os comandos e as telas do painel (10,2") e do sistema multimídia (9"), são elementos já conhecidos para quem está acostumado à Honda. Destaque ainda para a presença do Head-Up Display.
Outro ponto positivo é o espaço interno. A Honda dedicou atenção especial a essa geração, aprimorando a posição dos ocupantes e diminuindo a altura da carroceria para facilitar o acesso. O banco traseiro pode até mesmo levar três passageiros com conforto bastante aceitável, também graças ao túnel central quase plano, algo incomum em modelos com tração integral. Ali, também estão disponíveis saída de ar-condicionado e duas portas USB-C.
O porta-malas, com seus 581 litros de capacidade e boa acessibilidade, garante espaço suficiente para bagagens de toda a família. A abertura automática da tampa e o fechamento com chave presencial facilitam o dia a dia, sendo itens bem-vindos considerando o segmento.
A pacote de equipamentos é bom e traz itens como dez airbags, sistema de som premium Bose, ar-condicionado automático dual zone, central multimídia com tela de 9" e conexão de Android Auto e Apple CarPlay, câmera auxiliar traseira, quadro de instrumentos digital de 10,2", carregador de celular por indução, porta-malas com abertura elétrica e sensor nos pés, e teto solar panorâmico.
Ao volante do CR-V Hybrid nas ruas movimentadas da cidade, a serenidade toma conta. O SUV tem rodagem suave e quieta, ao ponto de rivalizar com um SUV elétrico nesse aspecto. No modo elétrico, o silêncio reina, com a ausência de ruídos e vibrações. Tranquilidade que se mantém mesmo quando o motor a combustão entra em ação. A Honda equipou o SUV com vidros duplos nas portas dianteiras, uma medida incomum no segmento, mas que contribui significativamente para o conforto acústico. Além disso, a carroceria e as caixas de rodas receberam tratamento especial para minimizar a entrada de ruídos externos.
Com três modos de condução (Normal, Sport e Eco), o SUV médio tem desempenho bem interessante no dia e dia. É uma performance que não chega a ser penalizada em função do alto peso de 1.819 kg, também mérito da boa potência combinada do sistema híbrido (a Honda não divulga o número total).
Na prática, o CR-V híbrido acelera bem e tem retomadas adequadas para sua proposta, condizentes com os números do nosso teste. Para acelerar de 0 a 100 km/h foram honestos 8,2 segundos e a retomada de 80 a 120 km/h leva 6,9 segundos. Não são números de carros esportivos, mas estão bem situados para um SUV médio com proposta familiar.
Calçado em pneus 235/55 R19, o Honda CR-V híbrido deu conta das imperfeições das vias, sendo um destaque também nesse aspecto. E o que é melhor: sem abusar da maciez, o conjunto com suspensão traseira independente tem boa firmeza na pista, segura bem nas curvas e consegue superar os buracos sem castigar os ocupantes. É tranquilo dizer que o SUV tem dinâmica de condução muito boa considerando sua proposta.
E ainda falando da experiência ao dirigir, destaque para os assistentes do pacote Honda Sensing, que inclui controle de cruzeiro adaptativo (sem Stop&Go), frenagem automática de emergência, assistente de ponto cego, assistente de saída de faixa com centralização no volante, de fadiga e farol alto com facho automático. Destaque também para as borboletas atrás do volante que servem para regular o nível de regeneração da bateria, a exemplo de muitos carros elétricos.
Como já disse, o CR-V Hybrid se destaca pela suavidade e conforto ao volante, sem abrir mão do desempenho. Mas como fica o consumo de combustível? De acordo com os dados oficiais de homologação, o CR-V Hybrid entrega um consumo médio de 14,6 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada, números que por si só são bastante satisfatórios para um SUV de porte médio, especialmente considerando a potência e o desempenho.
No entanto, fazendo um bom uso dos modos de condução conseguimos ir além: na cidade, o CR-V Hybrid encerrou o teste com média de 16,8 km/l, consumo melhor que de muito carro compacto ou outros híbridos. Na rodovia, a média ficou um pouco abaixo, com 13,3 km/l. Ainda assim um excelente número e bem melhor que a média declarada.
Diferente dos carros exclusivamente a combustão, aqui o melhor consumo em uso urbano se deve à maior atuação dos motores elétricos, condição em que eles são mais utilizados, favorecendo a eficiência. Na estrada, o motor 2.0 a combustão acaba sendo mais exigido, o que eleva um pouco o gasto.
Logo ao retirar o CR-V Hybrid para começar a avaliação, com tanque cheio e a pequena bateria de 1,06 kWh carregada, a autonomia indicada superava os 700 km, número que se refletiu no uso real.
Com uma trajetória de mais de 20 anos no Brasil, o Honda CR-V teve altos e baixos até sair de linha no começo de 2022, com vendas bem modestas. Agora, ele retorna ao nosso mercado importado da Tailândia e trazendo na bagagem um projeto bem resolvido, visual mais imponente e um eficiente trem de força híbrido, além de uma boa lista de equipamentos.
Mas, por R$ 352.900 o CR-V Hybrid 2024 não é um SUV barato. Seu concorrente próximo, o também japonês Toyota RAV4 Hybrid (R$ 349.290) fica na mesma faixa. Mas do outro lado, o segmento ficou mais competitivo com a chegada dos modelos chineses bem equipados, a exemplo da dupla GWM Haval H6 PHEV (R$ 269.990) e BYD Song Plus (R$ 229.800), que custam bem menos, ainda que percam pontos em alguns quesitos onde os japoneses são impecáveis. Se olhar um pouco para cima, temos BMW X3 (a partir de R$ 434 mil) e Audi Q5 (R$ 399 mil), apenas para situar melhor o SUV médio da Honda.
No fim, o CR-V híbrido não grita que é a última palavra em tecnologia ou inovações, mas se sobressai pela eficiência, espaço, acabamento, maturidade do projeto e ótima dirigibilidade. Talvez não tenha todo aquele apelo ao ponto de conquistar ao primeiro olhar, mas pelo conjunto de atributos pode ser o que você precisa. A Honda ainda tem um ótimo produto nas mãos, mas cobra seu preço, e isso tem um peso maior hoje em dia.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com Brasil) e divulgação
Honda CR-V Advanced Hybrid
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