Estados Unidos também temem o fim dos carros baratos
Previsão para é que aquele mercado fique sem opções realmente acessíveis; por aqui, já não temos nada por menos de R$ 72 mil
Algumas vezes bom ver países grandes patinando com questões pelas quais o Brasil já passou, mas em outras vezes é só triste. Nossos colegas do Motor1.com nos EUA já se puseram a comentar a respeito do melancólico fim dos carros de entrada por lá, que custam cerca de US$ 20 mil (R$ 100 mil).
O texto, feito por Jeff Perez, chega à uma conclusão similar ao fenômeno observado no Brasil: o volume de vendas dos carros de entrada nos EUA caíram, os preços inflacionaram e as montadoras estão parando de investir nessa categoria. Por aqui sobraram apenas Fiat Mobi e Renault Kwid, ambos na faixa dos R$ 72 mil. A lista dos carros mais baratos do Brasil em 2024 já tem modelos passando de R$ 90 mil.
E o que Perez diz é que, até o final do próximo ano, talvez não haja um único carro novo nos Estados Unidos que custe menos de US$ 20.000. Modelos como o Mitsubishi Mirage e o Kia Rio estão prestes a saírem de linha, assim como o Nissan Versa - o sedã feito no México, porém, deve continuar sendo vendido normalmente por aqui. O trio seguirá quase uma dúzia de outros carros na categoria abaixo de US$ 20.000 que morreram desde 2019.
Grande parte disso tem a ver com a pandemia. Antes de 2019, o custo médio de um carro novo nos EUA era de cerca de US$ 38.000 (R$ 189,8 mil) - sustentado, em parte, pelas ofertas mais acessíveis de cada marca. As coisas mudaram; os problemas da cadeia de suprimentos desde 2020 aumentaram os custos de produção. Mas isso também deu às empresas uma desculpa para eliminar discretamente suas ofertas mais acessíveis sem nenhuma substituição à vista.
O Ford Fiesta e o Chevrolet Cruze foram eliminados do mercado estadunidense no final de 2019. A Smart saiu do mercado dos EUA totalmente no mesmo ano. E, entre 2019 e 2023, modelos como o Hyundai Accent, Ford EcoSport, Volkswagen Beetle e Chevrolet Spark - que chegou a ser o carro mais barato dos Estados Unidos - deixaram de ser oferecidos.
Mas esse não é necessariamente um fenômeno novo, observa Tyson Jominy, vice-presidente de dados & Analytics da J.D. Power: "A descontinuação dos carros mais baratos antecede a pandemia", diz ele. "O que vimos desde a Covid e os problemas da cadeia de suprimentos é que as empresas priorizam modelos com preços mais altos em suas linhas e, em cada modelo, priorizam mais conteúdo e recursos para aumentar os preços das vendas. Isso começou quando os microchips eram escassos, então os fabricantes de automóveis tiveram que escolher sabiamente onde colocar seus recursos limitados."
Ele observa que algumas marcas, como a Honda, estão reintroduzindo versões mais em conta à medida que o mercado melhora. Mas mesmo um carro como o Civic - um compacto historicamente acessível nos EUA - ainda custa quase US$ 25.000 em 2024. O Accord custa agora US$ 28.000 - US$ 4.000 a mais do que custava em 2019. E não é possível ter em um novo CR-V por menos de US$ 30.000 (R$ 149,8 mil). Mal sabem os americanos que, no Brasil, o SUV já sai por R$ 352.900.
Isso está no mesmo nível do aumento dos preços médios de transação de veículos, que foram de US$ 46.000 em 2023, um salto de 36% em relação a 2019, quando a média foi de apenas US$ 33.700. Porém, com o salário médio nos EUA em 2023 situando-se em pouco menos de US$ 60.000 por ano, isso significa que a maioria dos americanos está abaixo do limite de poder pagar de forma realista um carro novo de US$ 46.000 sem um financiamento de cinco anos, especialmente quando as taxas de juros e as margens de lucro das concessionárias estão nas alturas. Em 2019, a renda média era superior a US$ 68.000.
Mas há um vislumbre de esperança. Os preços médios das transações diminuíram pela primeira vez desde a pandemia e continuam em queda. "A J.D. Power prevê que os preços médios dos veículos novos cairão US$ 1.100 em média ao longo de 2024, para US$ 44,9 mil", disse Jominy à Motor1. "É segunda vez neste século que os preços cairão ao longo do ano. Em fevereiro, prevemos que os preços de transação de veículos novos cairão mais de US$ 1.900, para US$ 44.045."
Mas o mercado de carros usados ainda está sofrendo com o colapso das vendas que começou em julho de 2021 e persistiu ao longo de 2022 nos EUA. Ainda menos carros usados estarão disponíveis para os consumidores no próximo ano. "A oferta de veículos usados de até cinco anos era de 16,3 milhões antes da Covid", diz Jominy, "mas 2024 será o quarto ano consecutivo de contração para 13,7 milhões. 2025 será o ano mais baixo, quando o fornecimento desses veículos usados cairá para 12,5 milhões."
Mas, à medida que os carros realmente econômicos se tornam mais escassos, isso não quer dizer que não haja espaço no mercado para novas ofertas abaixo de US$ 30.000. "Há um amplo espaço para qualquer montadora conquistar a faixa de preço abaixo de US$ 30.000", diz Jominy, "que foi praticamente abandonada pelo mercado de carros usados. Antes da Covid, 47% das vendas de veículos novos eram inferiores a US$ 30.000, mas, atualmente, apenas 17% dos veículos novos estão abaixo de US$ 30.000. Os veículos usados são agora a principal oferta na faixa abaixo de US$ 30.000".
Embora muitas montadoras estabelecidas estejam se afastando das ofertas abaixo de US$ 30.000 em busca de preços de transação mais altos, há uma fonte improvável pressionando para trazer carros acessíveis para os Estados Unidos: a China. As montadoras chinesas, como BYD, Chery e Hongqi, estão fazendo uma grande diferença no mercado europeu de automóveis, com mais de 400.000 carros entregues a clientes na Europa em 2023. A participação atual de montadoras chinesas na Europa é de cerca de 8%, mas os especialistas esperam que esse número cresça para quase 15% até 2025.
A Chery - uma das maiores montadoras de automóveis de toda a China - quer se estabelecer nos EUA nos próximos anos. A empresa já vende vários carros e utilitários esportivos no México por menos de US$ 30.000 (ajustado para dólares americanos), e o vice-presidente executivo da Chery México, Brian Wu, vê um caminho para os EUA.
"[O mercado dos EUA] é muito importante para nós. Já temos um roteiro de como entrar nos EUA, mas, francamente, não posso dizer muito mais sobre nossa estratégia", disse Wu em uma entrevista à Motor Trend no ano passado.
A Chery tentou vender carros nos EUA inicialmente em 2005 e depois novamente em 2020. Ambas as tentativas fracassaram. Mas a empresa promete que desta vez pode ser diferente. "Não quero repetir a mesma história", disse Wu. "Hoje não é como antes. Não é como era há 20 anos."
Então, o que acontecerá com o segmento de carros novos abaixo de US$ 20.000 nos EUA? Provavelmente está morto. As vendas de carros novos foram de 15,5 milhões de unidades nos EUA no ano passado e não mostram sinais de desaceleração, apesar dos altos preços. Os números de vendas continuam a aumentar, mesmo com os veículos ficando mais caros, o que significa que há pouco incentivo para as montadoras baixarem seus preços agora.
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