Teste: Citroën C4 Cactus THP Shine Pack 2024 é mais hatchback do que SUV
Apesar da idade, ainda agrada bastante por conta do 1.6 turbo de 173 cv
Apesar de, comercialmente, tudo ser SUV, alguns são, na verdade, uma mistura de estilos. São chamados de crossovers e um caso marcante disso é o Citroën C4 Cactus, que nos apresenta muito bem essa combinação, bem mais próximo de um hatch com suspensão elevada que um SUV de fato. Isso funcionava bem quando foi apresentado, justamente por ser diferente de outros modelos do segmento em conjunto com um design incomum.
Só que foi lançado em 2018, completando seu quinto ano no mercado brasileiro e que inclusive já saiu de linha na Europa. Por aqui, o Citroën C4 Cactus ainda tem um papel a representar por ser o topo da linha da marca francesa e, mesmo que venda pouco, cumpre o papel que a empresa espera dele. Agora na linha 2024, vale apostar no francês com o motor 1.6 turbo?
Poucas e efetivas novidades
Sejamos sinceros, a linha 2024 do C4 Cactus trouxe poucas novidades. As rodas com novos designs, a carroceria ganhou cor laranja na moldura dos faróis de neblina e nos airbumps laterais (herdados da versão X-Series de 2021), a coluna C agora tem um adesivo com o nome do carro e a traseira tem uma linha laranja abaixo do nome do veículo, além da volta do emblema THP. Por dentro, os bancos tem um novo padrão, usando costuras laranjas no mesmo tom que no exterior.
São mudanças bem pequenas, pois a Citroën acredita que o crossover ainda tem um visual bem diferente, sem ter envelhecido muito - lembrando que o design já era o mesmo da reestilização lançada na Europa, também em 2018. Ainda está alinhado com a identidade visual da marca, então é possível mantê-lo como está por mais alguns anos.
Até mesmo os equipamentos foram praticamente mantidos. A principal novidade está na adição de uma central multimídia de 10", compatível com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, a mesma que equipa o Citroën C3 e o Peugeot 208. Foram adicionadas uma porta USB abaixo da multimídia, outra no encosto de braço central e mais uma para os bancos traseiros. Por fim, agora conta com um carregador sem fio para smartphones, com refrigeração via ar-condicionado.
São boas adições, considerando que a versão Shine Pack ainda traz seis airbags, faróis automáticos, sensor de chuva, frenagem automática de emergência, iluminação diurna em LED, controles de estabilidade e tração, ar-condicionado automático digital, controle de cruzeiro, câmera de ré, faróis de neblina, rack de teto, bancos e volante em couro, sensor de pressão dos pneus, alerta de saída de faixa, rodas de liga leve de 17 polegadas diamantadas e sistema Grip Control com diferentes modos de tração.
Ficou devendo alguns itens, que seus concorrentes já oferecem e que a Citroën só disponibiliza como acessório, como o sensor de estacionamento traseiro e o sistema tilt-down para os retrovisores. Estamos falando de um carro de R$ 130 mil, então é difícil justificar a ausência, ainda mais lembrando que existem até modelos com controle de cruzeiro adaptativo nesta mesma faixa de preço.
A origem vindo de um hatch é bem clara antes mesmo de entrar no C4 Cactus. Não é um carro grande, medindo 4,17 metros de comprimento - para ter uma ideia, o Chevrolet Onix tem 4,16 m. A impressão de ser mais alto está na altura em relação ao solo de 22,5 centímetros, que ainda é 60 mm mais do que a antiga versão europeia, ajudando a dar a impressão de ser mais robusto, além de obviamente ajudar a evitar raspar em valetas e lombadas e tentar justificar ser chamado de SUV.
Por isso, não é dos mais espaçosos. O porta-malas tem capacidade para 320 litros, um dos menores do segmento, ganhando somente do Jeep Renegade e seus 314 litros, então não espere levar muitas malas em uma viagem. O espaço do banco traseiro também é um bocado apertado, por conta do caimento do teto, então as pessoas mais altas vão ficar bem incomodadas. Não ajuda o fato de ter uma porta menor do que o normal, atrapalhando um pouco o acesso.
Quem vai na frente tem mais conforto. A posição de dirigir é um pouco diferente dos outros SUVs, por ser mais baixa e deixando os joelhos mais dobrados, o que causa uma certa estranheza no começo, porém sem ser desagradável. A adição do carregador wireless resolveu um dos problemas de espaço na cabine, tendo onde deixar o smartphone ao invés de apelar para um dos porta-copos, mehorando um pouco a ergonomia.
Falando em ergonomia, não sei se a adição da tela de 10 polegadas foi uma boa escolha, pois parte dela acaba escondida atrás do volante, justamente onde fica a barra do volume, o que vira um desperdício. Isso atrapalha também a visualização, fazendo com que o motorista tenha que se remexer um pouco para conseguir ver a informação. Outro problema que já veio desde o lançamento é o ar-condicionado integrado à central multimídia. Ter botões de atalho para voltar para a tela que quer ajuda, mas sempre é ruim ter que mudar para o modo do ar só para mexer em uma coisa, perdendo a visão do GPS.
O que ainda agrada, e muito, no C4 Cactus é a sua dinâmica. O motor 1.6 THP, desenvolvido em parceria com a BMW, ainda é bem esperto, mesmo com quase 20 anos desde o lançamento. São 173 cv a 6.000 rpm e 24,5 kgfm de torque a 1.400 rpm, o que faz com que seja um dos mais potentes entre os SUVs compactos – perde somente para o Jeep Renegade, com o 1.3 turbo de 185 cv.
Como o torque já aparece a 1.400 rpm, é um carro que tem muito fôlego logo cedo e o motor parece mais elástico. Ajuda também que o C4 Cactus é bem leve, pesando somente 1.214 kg. A transmissão automática de 6 marchas trabalha bem no modo normal ou no Sport, com trocas bem rápidas. Se confunde um pouco ao ativar o modo Eco, sem saber se é melhor subir uma marcha ou manter a atual em uma subida.
Embora não seja mais o SUV compacto mais rápido do mercado, não fica devendo nada em desempenho. São 8,2 segundos para chegar a 100 km/h, somente 0,7 s mais do que o Fiat Pulse Abarth, desenvolvido pela Stellantis para ser um esportivo, além de ter sido testado por nós com etanol - o C4 estava com gasolina.
Não dá para negar que a idade está pensando um pouco e já não é um dos mais eficientes da categoria, ao menos em termos de economia de combustível. Nos nossos testes, com gasolina, registrou 10,4 km/litro na cidade e 12,9 km/litro na estrada, um pouco menos que os 11,7 km/litro e 13,4 km/litro declarados pelo Inmetro. A etiquetagem veicular oficial diz que o rendimento energético é de 1,84 MJ/km, melhor do que o Tracker 1.2 turbo (1,89 MJ/km) e Tiggo 5X Pro (20,6 MJ/km), empatando com o Renegade.
O comportamento dinâmico é bem parecido com o de um hatch. A carroceria inclina um pouco mais nas curvas, um efeito causado pela suspensão mais alta e um pouco mais mole. Por outro lado, enfrenta qualquer imperfeição no asfalto com muita tranquilidade e conforto do que em um hatchback de tamanho semelhante.
Não nego que, mesmo com seis anos de mercado com poucas mudanças, o Citroën C4 Cactus ainda é um dos “SUVs” mais divertidos entre os compactos, justamente por não parecer um. O problema é que a idade está cada vez mais aparente, mostrando que precisa de uma nova geração ou um substituto, dependendo do que a Stellantis planeja para o modelo. Deveria ser um pouco mais equipado para atrair os clientes que estão indo para os concorrentes mais novos, ainda mais porque custa R$ 129.990 e um motor 1.6 turbo pode não justificar isso tudo.
Citroën C4 Cactus THP
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