Na última quarta-feira (25), a Renault apresentou no Brasil o Niagara Concept, o primeiro protótipo da sua futura picape compacta. Tudo indica que esse modelo será produzido na fábrica de Santa Isabel (Córdoba, Argentina).

Os executivos da Renault foram muito cautelosos na hora de confirmar o projeto, o valor do investimento e a data de lançamento. No entanto, quatro dias depois, o aliado da Renault nesse projeto, a japonesa Nissan, anunciou mais detalhes dessa picape que será vendida sob as duas marcas (como já acontece com a Nissan Frontier e a Renault Alaskan).

Galeria: Ricardo Flammini - Presidente de Nissan Argentina

O novo presidente da Nissan Argentina, Ricardo Flammini, foi o responsável por fazer esses anúncios. Ex-executivo da Ford, que assumiu o comando da subsidiária japonesa em fevereiro passado, falou sobre esse projeto em sua primeira entrevista desde que assumiu o controle local da Nissan. O furo de reportagem foi dado pela jornalista Florencia Lendoiro (El Cronista), que obteve as seguintes declarações de Flammini:

* Picape de meia tonelada: "Globalmente, anunciamos um projeto que é uma picape de meia tonelada (a Frontier tem capacidade de carga de uma tonelada). É uma picape a ser produzida em algum momento em Córdoba, embora eu ainda não possa dar uma data ou quantidade".

* Projeto de exportação: "Já existem concorrentes nesse segmento. Onde eles vendem mais é no Brasil. O mercado de picapes compactas é enorme, maior do que o mercado de picapes médias. Isso nos daria uma enorme fonte de exportação que nos permitiria jogar com o restante da linha. Esse modelo seria exportado muito mais do que o que seria consumido na Argentina. Setenta por cento das exportações desse modelo são do Brasil".

Galeria: Renault Niagara Pick-up Concept

* Nova linha de produção em Santa Isabel: "Ela não seria feita na mesma linha de produção da Frontier. Seria necessária uma linha diferente, por isso empregará ainda mais pessoas.

A Renault já tem uma picape no segmento de "meia tonelada" hoje, que é a atual Oroch fabricada no Brasil. Para a Nissan, por outro lado, será a primeira incursão nesse mercado. Tudo indica que o conceito Renault Niagara antecipa a estrutura monocoque e a plataforma que serão utilizadas por essas duas novas picapes, que serão produzidas na fábrica de Santa Isabel.

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Nota do jornal El Cronista

Nissan: a nova picape que fabricará na Argentina e o boom dos planos de poupança

Por Florencia Lendoiro

Ricardo Flammini é presidente e diretor geral da Nissan Argentina desde fevereiro. Ele navegou o ano entre conversas com fornecedores para importação de insumos, acordos de preços que o levaram até a vender a preço de custo e um final de ano de eleições inéditas que mesmo assim, garante, não impactaram negativamente a produção e as vendas.

A Nissan fechará 2023 com 5,1% de participação de mercado, crescimento em patentes superior a 40% e plano de produção na fábrica da Renault, onde fabrica a picape Frontier, nova picape de médio porte.

Entrevista exclusiva com Ricardo Flammini, presidente da Nissan Argentina

-Como a Nissan fecha o ano na Argentina?

-Estamos muito felizes com o andamento das coisas. Só começamos a produzir em 2018, embora a Nissan tenha nascido no país em 2015, e hoje competimos com outras empresas que estão no país há décadas. Apesar disso, já estamos com uma participação de mercado superior a 5%, o que é muito para uma empresa nova. Terminaremos nosso ano fiscal (a partir de março) produzindo 30 mil unidades, em dois turnos, na fábrica de Córdoba, onde alugamos a linha de produção para a Renault, com quem temos uma aliança global.

-Quanto você exporta?

-Metade do que produzimos. Exportamos para Brasil, Colômbia e Chile e estamos trabalhando para ter mais destinos.

-Qual projeção você tem para depois de 10 de dezembro?

-No curto prazo, acho que não vai mudar muito porque a situação económica e financeira do país, os dólares que faltam, quem ganhar, vai continuar por um tempo. Vemos um período de ajuste após 10 de dezembro, que vai durar até maio do próximo ano e então as coisas vão melhorar. Isto é o que acontece sempre que os governos mudam. Depois, tudo se estabiliza mais rápido do que os de fora acreditam. Os dois candidatos estão interessados ​​no bom desempenho da indústria automóvel porque emprega muita gente, é vital para as exportações e para a obtenção de divisas. Então ficamos tranquilos. Hoje, para além de todas as restrições que existem, temos vindo a gerir-nos bem e isso permite-nos ter um negócio em crescimento.

-A matriz japonesa confia nessa previsão?

-Sim, há confiança no futuro e por isso investimos mais de US$ 700 milhões na Argentina desde 2017. E vamos continuar investindo. Os japoneses estabeleceram o objetivo de longo prazo e nós somos um transatlântico que vai para lá, não importa de onde venha o vento, o navio vai.

-Você esperava fechar este ano nessas condições?

-Sim. As 30.000 unidades que produzimos permitem-nos trabalhar em dois turnos. A composição da venda mudou um pouco. O mercado de exportação caiu, mas não cortamos esse volume, vendemos na Argentina. E deixamos de importar veículos porque também era a nossa forma de colaborar com a situação do país. Passamos dois meses sem obter a aprovação do SIRA em todo o setor, com os carros parados no porto. Decidimos importar um pouco menos, produzir igual mas destinar uma proporção maior ao mercado local.

-Quantos veículos vão patentear este ano?

-Na Argentina, cerca de 22 mil. Tínhamos assumido que 40% seriam captadores, mas não, eram 70%. Isso está acontecendo na indústria em geral. O segmento de picapes em 2013 foi de 12% ou 13% das patentes. Este ano está em 24%. No Brasil é de 6%.

-Há ainda mais demanda?

-A disponibilidade ainda não corresponde à procura e há um cliente que tem recursos e que sente que uma forma de proteger o seu património é comprando um carro. Ele não procura tanto o que quer, mas sim o que escolhe entre o que existe. E o que existem são pickups. Portanto, focamos no mercado interno.

-Como os problemas impactaram a importação?

-Com enorme esforço conseguimos não parar a produção por questões relacionadas a problemas com fornecedores. Enorme esforço, não vou negar. É uma gestão do dia a dia, conversar com fornecedores, ver o que está acontecendo com o SIRA, onde estão as peças, um trabalho todo. As paradas de fábrica que tivemos foram programadas por demanda externa. O Brasil ficou um pouco abaixo do que pensávamos, principalmente nas picapes, o Chile tinha um nível de patente há dois anos de quase 400 mil unidades e está rodando em 260 mil, caiu muito.

-As vendas crescerão no próximo ano?

-Nos nossos planos vemos um nível de patentes 10% superior ao que foi este ano, mas impulsionado principalmente pelo segundo semestre, quem ganha as eleições porque os dois candidatos são pró-mercado e pró-indústria. Na verdade, este ano houve mais patentes do que no ano anterior, cerca de 5%. Em 2022 vendemos 15 mil e neste ano 22 mil veículos, ganhamos participação de mercado. Terminamos 3,8 no ano passado e vamos para 5,1. Isso principalmente com Frontier, Kicks e depois o X-trail que acabamos de finalizar ajuda bastante. Da linha anterior vendíamos 10 por mês e na nova pretendemos vender 100 por mês.

-O que vem em 2024?

-Em breve anunciaremos investimentos para a região, o que demonstra nosso comprometimento. Já falamos que seriam US$ 300 milhões.

-Incluirá a fabricação de outro veículo na Argentina?

-A nível global anunciamos um projeto que é uma picape de meia tonelada (a Frontier tem capacidade de carga de uma tonelada). A nível global, foi anunciado o desenvolvimento de uma picape de meia tonelada em conjunto com a Renault para ser produzida em algum momento em Córdoba, embora ainda não seja possível informar data ou valor.

-Esse tipo de pick-up tem mercado na Argentina?

-Sim. Já existem concorrentes nesse segmento. Onde eles vendem fortemente é no Brasil. O mercado de compactos é enorme, maior que o das picapes médias. Isso nos daria uma enorme fonte de exportação que nos permitiria brincar com o resto da linha. Esse modelo seria exportado muito mais do que seria consumido na Argentina. 70% da exportação desse modelo é do Brasil.

-Seria fabricado na mesma linha de produção do Frontier?

-Não, eu exigiria uma linha diferente para dar trabalho até para mais gente.

-Chegarão novos modelos no curto prazo?

-Queremos vender mais do portfólio que temos em vez de continuar incorporando linhas de produtos. Vendemos 6 modelos: Versa e Sentra que são sedãs, o Kicks e o X-trail que são SUVs, o Frontier que é uma picape e o Leaf que é 100% elétrico. Não vamos cortar nenhum, mas também não vamos incorporar outros. Parece-nos ser a forma mais equilibrada de gerir as peças de reposição, para que os clientes fiquem bem, e por outro lado, parece-nos que não é o momento de complicar a situação. O que mais vendemos é o Frontier, depois o Kicks e depois o X-Trail. Mas eles são limitados, poderíamos vender muito mais.

-Quanto mais eles poderiam vender?

-Este ano vão ser patenteadas 400 mil unidades e acho que há demanda para 550 mil. Poderíamos vender mais de todos os modelos. Há massa crítica, o argentino é comprador de automóveis.

-A Leaf também tem mercado na Argentina?

-Lançamos em 2019 e deu muito certo na região, é o carro elétrico líder em vendas. A dificuldade na Argentina é que faltam carregadores. Aí o cliente que usa como segundo ou terceiro carro compra de nós, porque quer dirigir 100% elétrico. Aqui vendemos cerca de 100 Leaf desde que lançamos e no Chile foram vendidos três vezes mais no mesmo período, porque existe uma política de carregadores. Vamos continuar vendendo e traremos o novo, mas sabemos que na Argentina neste momento um carro 100% elétrico tem suas limitações. Sim, temos o X-trail E Power que lançámos há três meses, que é elétrico mas tem a vantagem de a bateria ser carregada com motor a gasolina.

-E o preço também não é uma limitação para esses carros?

-Sim, mas tem muita gente disposta a comprar carros de última geração.

-Que experiência a entrada no Preço Justo lhe proporcionou?

-Tudo correu bem para nós. Incorporamos ao plano o câmbio manual 4x2 Frontier porque tínhamos boa disponibilidade, perto de 1.000 picapes. Normalmente vendemos 200 ou 250 por mês, e já vendemos quase 700 desde que começamos a Preços Justos. Funcionou muito bem além da margem que perdemos. Você consegue vender pelo preço de custo, mas é bom entrar. Também é útil adicionar novos clientes à Nissan.

-Em relação aos preços, cada vez mais distorções também são observadas entre aqueles que saltam de faixa devido ao imposto interno

-Há um momento em que tudo fica desequilibrado. De repente nós ou um concorrente decidimos pular a barreira de uma das duas bandas que existem, e o modelo está 25% mais caro que o do concorrente. É uma condição de mercado que já explicamos lá fora. Temos todos os modelos com alguma versão acima da primeira ou segunda faixa. Esse imposto acaba distorcendo o mercado e os clientes podem ficar confusos. Queremos sempre apoiar o Governo e o país, mas talvez nos ajudasse outro esquema que permita ao Governo ter os seus rendimentos mas que ajude os clientes a compreender melhor como funcionam os preços.

-Você acha que os carros estão caros hoje?

-Depende. Se houver mais procura do que oferta, significa que, para o número de veículos, ainda poderá haver oportunidade de aumentar o preço. Eu preferiria poder equilibrar com mais volume, mas dada a situação do país os importados estão restritos e para produção tentamos fabricar o máximo que podemos dentro da situação atual.

-É uma boa hora para comprar um carro?

-Sim, é uma oportunidade. É uma forma de proteger o património.

-A abertura para mais importações afetaria a produção local?

-Principalmente serviria para o cliente ter mais opções. A princípio o volume vai aumentar até um determinado teto e se depois quisermos continuar agregando mais volume teremos que baixar os preços. Há uma demanda não atendida que poderia ser atendida com uma oferta maior. Talvez algumas picapes a menos fossem vendidas.

-Com taxas altas e falta de estoque, há opções para financiar a compra de carros?

-Existe financiamento, mas é muito caro. Hoje se vende muito por dinheiro e o plano de poupança explode. Como são poucos 0 km, o plano de poupança garante o veículo, eles são prioritários para entregar. Essa é a oportunidade de segurar o carro e manter a economia. Na Argentina, 35% das patentes estão com planos de poupança. É muito alto. Não existe em outro país.

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