BMW, Nissan e Volvo discutem o presente e futuro da mobilidade
Executivos falam sobre os desafios envolvendo baterias e carregadores e como isto pode mudar nos próximos anos
A indústria está em um dos momentos dos momentos mais importantes de sua história, realizando a transição para a mobilidade sustentável e sem emissões de carbono. Esta transformação ainda gera muitas dúvidas, principalmente envolvendo o Brasil, que ainda está para trás na infraestrutura, apesar de gerar energia por fontes limpas.
Três fabricantes tiveram papeis diferentes no início da eletrificação da frota no Brasil. A Nissan trouxe o Leaf, na época o carro elétrico mais vendido do mundo, realizando diversos laboratórios no país, como o uso do veículo por taxistas no Rio de Janeiro e São Paulo - o Leaf só iniciou as vendas nacionais em 2019. A BMW foi a primeira a oferecer um carro elétrico para o público geral em 2014, com o pequeno i3. E temos a Volvo, que foi a primeira a ter somente modelos eletrificados em sua linha no Brasil.
Cada uma teve suas experiências ao longo destes anos, encontrando problemas em comum, que aos poucos pavimentaram o caminho para o momento atual da frota elétrica no Brasil, além de apontar para o que esperar para os próximos anos. Este foi o tema do painel "Transição energética: o presente e o futuro da mobilidade" realizado no Electric Days Brasil.
Um problema inicial destacado pelos panelistas foi a falta completa de uma infraestrutura de recarga, o que teve que ser criada aos poucos para atender os primeiros clientes. A BMW encontrou esta dificuldade e investiu no primeiro corredor de carregadores, ligando São Paulo e Rio de Janeiro. A fabricante alemã aprendeu muito a transmitir uma segurança ao cliente, principalmente por ser quem está "desbravando o mercado" ao adotar uma tecnologia que ainda é muito restrita no país.
"Temos que deixar o consumidor seguro, de que o carregador que ele tem vai funcionar no carro, assim como o que ele vai encontrar em um local de recarga. Está mais fácil pois estamos todos usando o Tipo 2 [de carregador]", afirma Emilio Paganoni, gerente sênior de treinamentos da BMW. "Ainda temos alguns problemas, como um cliente encontrar um carregador que foi vandalizado, pois não temos os mesmos cuidados que temos com outros postos, como de combustível", complementa Mauricio Greco, diretor de marketing da Nissan no Brasil.
"Instalamos mais de 100 carregadores lentos pelo Brasil e inauguramos o 10º carregador DC recentemente. O Brasil carece de estrutura em diversos pontos e acreditamos que é obrigação da iniciativa privada fazer este investimento para vender o produto no futuro", explica Marcelo Godoy, Diretor de Finanças Volvo Car América Latina e de Operação de Infraestrutura de Carregamento Brasil. A Volvo fez a transição em sua operação nacional de forma gradual, primeiro passando a oferecer somente veículos híbridos. O XC40 foi o primeiro a ser vendido apenas na variante elétrica, o que foi visto como uma estratégia bem arriscada internamente por ser um produto de alto volume - aposta esta que deu certo.
O que pode ajudar é a evolução da tecnologia. "As baterias estão evoluindo, estamos indo para a sexta geração, deixando de lado as baterias prismáticas para adotar as cilindricas. Hoje já se fala de baterias com autonomia de 1.000 km, o que poderia ser o suficiente para vencer a ansiedade de autonomia" afirma Paganoni. Outra alternativa é a tão esperada bateria de estado sólido, que não tem uma capacidade energética alta, mas que permite o carregamento em velocidades muito maiores.
Por outro lado, tudo o que está sendo discutido pode desaparecer no futuro. "Daqui a alguns anos, pode ser que, ao contar aos nossos netos, 1.000 km sejam considerados muito poucos e inexplicáveis. Ou ter que se preocupar se teremos um carregador no nosso caminho", afirma Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards, que moderou o painel. "Pode ser que se perca na linha do tempo, mas é um assunto a ser discutido agora."
"Se num país como a Alemanha, você fala que tem 25 mil postos de recarga e isto é pouco, eles estão procurando 50 mil, então num país como o Brasil a gente vai imaginando aonde a gente deve ir", complementa Paganoni. "O caminho é você garantir os pontos principais e entender o modo de uso deste carro. E tentar trabalhar neste modo de uso, que vai se expandir com o tempo e virão outras tecnologias que irão permear este processo."
"A América Latina está um pouco atrás de infraestrutura do que a Europa, e o Brasil está bem atrás de América Latina. A gente precisa acelerar isto. Você faz o investimento e olha para a rentabilidade em curto prazo, só que é para médio e longo prazo. Tem que olhar todo o ecossistema e o país carece muito", complementa Godoy, apoiado por Paganoni ao apontar que existem cerca de 10 mil carregadores no Brasil.
"São 12 anos de estudo para todos que viram o ecossistema de eletrificação e que tem um papel de pioneirismo. A experiência principal que tiramos de todos os aprendizados está ligado a que o brasileiro tem muito desejo de ter veículos elétricos", conclui Greco.
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