Que época para estar vivo! Depois de mais de um século fazendo as estradeiras mais conhecidas do mundo, a Harley-Davidson também se rendeu às tendências do mercado e começa a vender no Brasil a Pan America, a primeira big trail da história da marca. A pré-venda tem início em 2 de maio e as 120 primeiras unidades montadas em Manaus (AM) estão com um preço promocional de R$ 139.995, sempre na versão Special. Depois, salta para R$ 143.800.
A movimentação da Harley-Davidson não é sem motivo. Tanto que a Pan America foi a única moto que sobreviveu às tentativas da marca em atingir novos públicos no passado. Aqui no Brasil, a categoria das grandes aventureiras já é responsável por cerca de 60% das vendas de motos acima de 600 cilindradas. E opções não faltam, com a linha GS da BMW dominando as vendas seguida pelas Triumph Tiger. Até mesmo a Ducati começou a vender a Multistrada V4S por aqui. É um segmento em que os clientes são mais exigentes, querem muito e estão dispostos a pagar a mais por isso.
Trazendo proposta, arquitetura e motorização inéditas à Harley-Davidson Pan America chega ao Brasil com a difícil missão de voltar a atrair os pilotos mais experientes que migraram das grandes estradeiras para as big trails nos últimos anos. Então, o que a nova moto entrega?
Além da proposta da Pan America ser inédita dentro da Harley-Davidson, a moto também é a primeira ser equipada com o novo motor Revolution Max. Olhando, parece mais um característico bicilídrico em V da marca, só que as aparências enganam. Feito com materiais mais leves, é feito para ser componente estrutural da Pan America, permitindo ao chassi ser mais leve.
Além disso, entrando no segmento das big trails, não poderia chegar sem uma tecnologia embarcada maior. O Revolution Max da Pan America tem 1.252 cm³, arrefecimento a líquido, 4 válvulas por cilindro, comando de válvulas variável e duas velas por cilindro. Com isso, ele é capaz de entregar 152 cv de potência a 9.000 rpm e 13 kgfm de torque, sendo que o pico ocorre a 6.750 rpm. Sim, é o V2 da Harley que entrega potência e torque lá em cima na faixa de rotações.
O propulsor conta com dois contra-balanceiros: um em espiral próximo ao virabrequim e mais um no cabeçote do cilindro dianteiro. De acordo com a engenharia da Harley, o motor transmite apenas "vibração o suficiente para que a moto pareça viva, sem incomodar".
Em termos de transmissão, a Pan America utiliza uma caixa de câmbio mecânica conjugada com o bloco do motor com 6 velocidades. A embreagem é assistida e deslizante para evitar travamentos nas reduções. Mas aí vem outra inovação: a Harley é conhecida por usar correia dentada na transmissão final. Mas a própria marca admite que a demanda do segmento de big trails é por corrente, solução que a Pan America emprega.
Outra grande novidade da Pan America está no conjunto de suspensão. São 190 mm de curso na dianteira e na traseira, algo até então impensável para uma moto com emblema da Harley-Davidson. A dianteira tem garfo telescópico invertido, enquanto a traseira é mono amortecida. O conjunto é fornecido pela Showa e é semi-ativo, ou seja, ajusta-se eletronicamente de acordo com a configuração selecionada pelo usuário ou com o modo de condução. São 5 modos de suspensão: Comfort, Balanced, Sport, Off-Road Soft e Off-Road Firm.
Na linha 2022, a Pan America Special será vendida sempre com as rodas de liga leve de 19 polegadas na dianteiras e de 17 polegadas na traseira. A Harley diz que o fornecedor das rodas raiadas - opcionais nos EUA - está passando por uma limitação nas entregas e a opção deve passar a ser oferecida por aqui em 2023. Os pneus têm medidas 120/70 (frente) e 170/60 (atrás). Os freios são Brembo com dois discos de 320 mm na dianteira e um na traseira de 280 mm.
Entre as principais medidas, a Harley declara um peso em ordem de marcha de 258 kg para a Pan America Special. É mais que os 240 kg da Ducati Multistrada, mas menos que os 268 kg da BMW R 1250 GS Adventure, a principal rival. A moto tem 2.270 mm de comprimento e 1.585 mm de entre-eixos. O assento tem ajustes para que sua atura em relação ao solo seja de 850 mm ou 870 mm. Já o vão livre em relação ao solo é de 211 mm
A linha 2022 da Pan America é equipada de fábrica com o Adaptive Ride Height (ARH), sistema que abaixa a suspensão traseira quando a moto para, abaixando o assento para 830 mm. No entanto, o sistema é opcional lá fora e, a partir do ano que vem, a Harley já avisou que também será cobrado a parte no Brasil.
A tecnologia também é algo crucial nas big trails e a Harley-Davidson Pan America já traz itens como freios ABS e controle de tração atuante em curvas, controle de empinada e assistente de partida em rampa. Toda a iluminação é de LED e o farol é adaptativo, respondendo à inclinação da moto em curvas.
Além disso, a moto ainda traz de fábrica painel de instrumentos digital com tela TFT sensível ao toque de 6,8 polegadas customizável, modos de condução selecionáveis (incluindo funções para off-road) e conectividade via Bluetooth (requer fones de ouvido no capacete). Por meio do H-D App conectado ao Bluetooth, é possível ver informações de navegação na tela, por exemplo.
A versão Special também traz de série piloto automático, protetor de cárter, protetores laterais de motor cavalete central, pedal de freio ajustável, porta USB, amortecedor de direção, manoplas aquecidas, protetores de mão e o para-brisa é ajustável em 45 mm.
Ver a Harley-Davidson Pan America Special ao vivo confunde um pouco a cabeça. O conjunto formado por motor, tanque e carenagem frontal é inconfundivelmente da Harley, mas aí você olha a altura da moto e o vão livre e fica confuso. Mas isso é positivo: se a marca queria fazer sua própria big trail sem perder as características clássicas que marcam suas estradeiras, conseguiu.
Com apenas algumas voltas em autódromo e uns 15 minutos em estradas de chão batido, não dá para tirar uma conclusão definitiva da moto, mas a primeira impressão impressionou. Deu para ver que, quando a Harley quer, ela consegue fazer uma moto moderna que não fica devendo para rivais mais estabelecidas, mas já vamos chegar nisso.
Antes é preciso subir na moto. Os 258 kg anunciados podem parecer pouco para uma big trail, mas ainda são 258 kg e é preciso jeito para tirar a Pan America do descanso lateral. Tomei um susto ao ficar na ponta de um pé só, mas, ao ligar o contato, o ARH "sentou" mais a traseira da moto e consegui firmar um pé no chão.
Na partida, nada de ronco embaralhado. O Revolution Max trabalha quieto em lenta quase não vibra. Como qualquer Harley-Davidson que quer merecer o emblema da marca no tanque, a Pan America tem comandos um pouco mais pesados e maiores, adicionado à sensação de solidez associada aos produtos da marca.
Na pista, a maior surpresa veio com o motor mesmo. Foi a primeira Harley que andei e que acelerou forte desde 4.000 rpm a 9.000 rpm. E não é como se ela perdesse fôlego em alta: se você não ficar atento, só vai se tocar quando atingir o corte de giro, como eu fiz algumas vezes. Com o comando variável, você também precisa se preparar e se segurar bem quando exigir aceleração total, se não ela te joga para trás sem nenhum compromisso. O ronco tradicional da Harley faz falta? Um pouco, mas o Revolution Max passa sempre um ronco grave e encorpado, mesmo quase no limite de giro.
Claro que big trail não é sinônimo de pista. Ainda são 258 kg que exigem um pouco de "convencimento" para mudar de direção. Nas frenagens, a sensação de mergulho é perceptível. A parte boa é que os freios seguram bem a moto e não mostraram fadiga nas voltas em pista.
Agora sim, a terra, território quase proibido para motos tradicionais Harley-Davidson. A Pan America consegue prover um bom encaixe para o condutor em pé, enquanto o painel continua visível. Ainda se sente o peso da moto, mas não é aquele desespero de enfiar uma Road Glide na terra (não perguntem como sei disso). Pelo contrário, passa a mesma segurança que você espera de uma big trail.
Outro ponto muito positivo é o assento. Além de regulável, tem espuma bastante macia. A sensação que fica é que, mais do que uma moto pra jogar na terra, a Harley-Davidson Pan America vai ser a moto mais adequada para longas viagens dentro da realidade brasileira. Mas isso vai ter que esperar até uma avaliação mais completa. Por enquanto, BMW, Triumph e Ducati precisam ficar de olho: a Harley chegou com uma presença de peso.
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