Não adianta querer remar contra a maré. O VW Golf é um carro muito legal e querido por muitos fãs ao redor do mundo, mas o fato é que, no Brasil, a categoria dos hatches médios acabou. Não vou entrar aqui nos porquês do sucesso dos SUVs, até porque o ideal seria tê-los convivendo com as demais categorias, e não matando-as. Com o tempo, porém, o próprio termo SUV foi perdendo sentido e o que temos hoje são os verdadeiros crossovers, ou seja, carros que misturam características de duas ou mais categorias num modelo só. É o caso do novo VW Nivus.
Se a VW já tem o T-Cross, para que raios precisa do Nivus? Simples: o consumidor do Fox não era o mesmo do Gol, como a própria Volkswagen percebeu no começo dos anos 2000. O mercado dos hatches compactos era tão grande que havia espaço para dois ou até três modelos dentro da mesma marca - além de Gol e Fox, tinha o Polo também, não se esqueça. Agora o mesmo se aplica entre os SUVs, ou melhor, crossovers. Tem mercado para o T-Cross, aquele "jipinho" com design mais quadrado como o Renegade, e também tem mercado para um modelo, digamos, mais "esportivo": o Nivus.
Hatches médios não cativam mais os consumidores brasileiros, mas isso não significa que muitas de suas virtudes não sejam mais queridas pela clientela. Na verdade, os hatches compactos cresceram e se sofisticaram em termos de equipamentos, até o ponto em que hoje eles atendem bem a uma família pequena, como faziam os médios lá atrás. Hoje, um Polo tem quase o porte do Golf dos anos 90. E não custa quase R$ 100 mil na versão de entrada, como era o Golf 2019.
Mas voltamos ao Nivus. Pelo mostrado até agora, seus destaques estarão em muitos pontos que até então eram território dos hatches médios: design esportivo, tecnologia embarcada e porta-malas generoso, de 415 litros - bem maior que o dos hatches compactos e maior inclusive que o do novíssimo Golf 8 europeu, de 380 litros. Some a isso a suspensão elevada do T-Cross e, voi lá, temos a receita perfeita para mexer com a cabeça (e o coração) do público atual.
Prova disso é que, mesmo entre os ferozes comentaristas do nosso fórum, as reações às primeiras imagens oficiais do Nivus foram positivas - alguns inclusive lembrando do antigo VW Pointer, um hatch médio estiloso (mas falho) que a marca desenvolveu por aqui nos anos 90. Na redação, teve inclusive fãs de hatches médios se rendendo à (boa) sacada da VW. Esqueça o termo de marketing "New Urban Coupe" que a marca está utilizando, o Nivus é, na prática, o substituto do Golf em nosso mercado.
Vejamos: ele tem porte superior ao do Polo (mais comprido e mais alto, apesar do mesmo entre-eixos), porta-malas maior (115 litros extras), design mais invocado (não só pelo teto curvado) e vai trazer uma série de novas tecnologias, como a central multimídia VW Play (com internet e capaz de realizar compras online) e um pacote de assistências à condução que inclui piloto automático adaptativo e frenagem automática de emergência, entre outros recursos - pela primeira vez num Volkswagen produzido no Brasil.
A plataforma MQB-A0 é uma variação reduzida da base utilizada no Golf, e inclusive o conjunto mecânico formado pelo motor 1.0 TSI e o câmbio automático de 6 marchas era exatamente o mesmo que equipava o Golf nacional até o ano passado. Nada impede também que, fazendo sucesso, o Nivus receba também o 1.4 TSI que equipa o T-Cross Highline e o Polo GTS.
Então, se você é fã do Golf e dos hatches médios em geral, não se sinta um "traidor do movimento" se você curtiu o Nivus. Ele pode até não entregar a dirigibilidade do Golf e também não terá o mesmo refino no acabamento (o Golf 8 deve vir importado para os fãs mais fervorosos), mas com certeza reúne mais atributos que o T-Cross para ocupar lacuna deixada pelo segmento que está morrendo. Ou melhor, se transformando.
Fotos: divulgação
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