Faltando apenas um mês para o fim de 2018, os últimos dados divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) já nos permitem tirar algumas conclusões sobre o mercado nacional deste ano. O lançamento de alguns modelos foi suficiente para balançar muitos segmentos, enquanto outros carros se estabeleceram em suas categorias. E alguns ainda causaram efeito inesperado dentro da própria fabricante, para o bem ou para o mal.
No geral, 2018 foi um ano bom para as fabricantes e esboça um começo de retomada da indústria, com crescimento de 14,36% no acumulado entre janeiro e outubro na comparação com 2017. Foram emplacados 2.024.388 carros e comerciais leves no período, contra 1.770.129 unidades do ano anterior. Isso sem contar o que foi produzido para exportação, modalidade que ajudou as fabricantes ao longo dos dois últimos anos.
Dito isso, vamos aos principais acontecimentos:
Canibalização é algo comum na indústria, e pode acontecer quando uma mesma fabricante lança um modelo muito próximo de outro. Foi o que aconteceu com o Etios. Em 2017, a versão hatch era o 12º carro mais vendido do Brasil e havia emplacado 34.857 unidades entre janeiro e outubro. Continuava num bom ritmo no primeiro semestre de 2018. Estava em 17º no ranking e, com 19.509 unidades, ficava muito próximo de modelos bem sucedidos, como Hyundai Creta e Jeep Renegade. Agora é o 23º da tabela e vem emplacando cada vez menos, somando 25.157 unidades.
O motivo para essa queda tem nome e sobrenome: Toyota Yaris. O novo hatchback é maior, mais equipado e com design mais agradável que o Etios. Foi lançado em junho e já está com 13.267 registradas desde então, pouco mais da metade do que o Etios fez no ano todo até agora. Está emplacando, em média, 3 mil unidades, exatamente o que o modelo menor fazia antes da chegada do inimigo fraterno.
Alguns falam que é culpa dos SUVs, outros dizem que é dos sedãs, mas a verdade é uma só: os hatches médios caminham rumo à extinção no Brasil. De janeiro até outubro, o segmento caiu para apenas 0,64% de participação, enquanto em 2017 este valor era de 1,14%. Foram emplacadas 11.078 unidades até agora, contra as 17.201 do ano passado. Ou seja, o segmento todo emplaca menos do que alguns líderes de outras divisões fizeram sozinhos ao longo do ano, como Jeep Compass, Honda HR-V ou Toyota Corolla.
Atualmente, apenas três modelos brigam pelo pódio. O Chevrolet Cruze Sport6 lidera com folga, com 4.579 unidades, o que lhe dá 41,3% de participação. O segundo colocado é o Focus, com 2.639 veículos emplacados neste ano, lembrando que ele já está com os dias contados – a fabricante confirma que deixará de produzir o hatch na Argentina em 2019. Em terceiro, o Volkswagen Golf aparece com 2.418 unidades. A tendência é que ele deixe de ser feito em São José dos Pinhais (PR) na próxima geração, que será mostrada no Salão de Genebra (Suíça) em março. Os outros três modelos na tabela da Fenabrave são o Peugeot 308, agonizando com 416 unidades vendidas no ano; o Volvo V40, que espera por uma nova geração há tempos; e o híbrido Lexus CT200h.
A sexta geração do Ford Fiesta foi um sucesso quando chegou ao Brasil. Começou a perder espaço após a chegada do novo Ka, que tem a mesma plataforma e tamanho semelhante. Essa situação foi piorando ao longo do tempo e atingiu um nível alarmante a partir do final de 2017. Ao invés de trazer a nova geração do Fiesta europeu, a divisão brasileira resolveu fazer mais uma reestilização no hatch e ainda manteve o polêmico câmbio Powershift – embora rumores digam que perderá esta transmissão, ficando apenas com os modelos manuais.
Para piorar, pouco tempo depois a Ford lançou o Ka reestilizado. Além de ser mais espaçoso que o Fiesta, o modelo mais barato da empresa no Brasil ainda ganhou o motor 1.5 Dragon de 136 cv, mais potente e econômico do que o 1.6 Sigma de 128 cv do Fiesta. E ainda recebeu o câmbio automático de 6 marchas com conversor de torque em vez do malfadado Powershift. A partir de então, a tendência é que o Fiesta fique cada vez mais de lado até ser completamente esquecido.
O Volkswagen Gol finalmente terá uma nova geração de verdade, já confirmada pela empresa para chegar até 2020. Ou seja, estes são os últimos momentos do atual Gol no mercado. A fabricante deu uma forcinha para fazer com que ele volte a ter destaque nas lojas com o lançamento da versão com motor 1.6 16V e câmbio automático de 6 marchas, o mesmo conjunto utilizado pela dupla Polo e Virtus.
E deu resultado. O VW Gol emplacou 61.575 unidades entre janeiro e setembro de 2017, enquanto neste ano ele contabiliza 61.505 veículos. A diferença é que, em 2018, ele passou a dividir espaço com o Polo, entrando em conflito interno. Nos últimos meses, o Gol não só manteve o ritmo de 2017 como ainda começou a ameaçar rivais como Hyundai HB20 e Ford Ka nas vendas mensais, embora ainda esteja bem longe no acumulado.
Aos poucos, o Fiat Argo está conseguindo se estabelecer. Após começar o ano oscilando entre 3.500 e 5.000 unidades emplacadas por mês, o hatch começa a ganhar ritmo e está vendendo mais de 5 mil unidades desde junho, conseguindo até bater o rival Volkswagen Polo em alguns meses. Está com 52.900 unidades emplacadas até agora, o que faz com que seja o segundo modelo mais vendido da Fiat, perdendo somente para a picape Strada. O reposicionamento da versão de entrada, hoje vendida a cerca de R$ 45 mil, foi fator preponderante na resposta do mercado.
Faz tempo que o segmento dos sedãs médios é dominado pelo Toyota Corolla, e com folga. Ele contabiliza 54.085 unidades emplacadas de janeiro a outubro, o que lhe dá 42,33% de participação no segmento. Para se ter ideia, a soma das vendas dos rivais Honda Civic, Chevrolet Cruze Sedan, VW Jetta e Ford Focus Sedan chega a 49.409 carros - menos do que o Corolla fez no mesmo período.
Além de não ter concorrentes à altura em termos de vendas, o Corolla ainda não tem que disputar espaço com um SUV da Toyota na mesma faixa de preço. A chegada de um crossover como o C-HR (existente na Ásia e Europa) poderia abalar as vendas do sedã médio, causando efeito semelhante ao que acontece com HR-V e Civic na Honda. A Toyota estuda produzir um SUV compacto no Brasil, mas os planos ainda são nebulosos. Em contrapartida, já anunciou que irá investir na nova geração do Corolla para 2020, desta vez com versão híbrida.
Após uma espera interminável, o Mustang finalmente começou a ser vendido de forma oficial pela Ford no Brasil. E agora a fabricante está vendo que valia a pena ter trazido ele antes. O carro, que chegou por R$ 299.900, está vendendo mais do que qualquer outro esportivo, somando 895 unidades de janeiro a outubro, o que corresponde a 46,91% de participação do segmento.
A Ford pode ainda se vangloriar de bater o arquirrival Chevrolet Camaro, que recuou nas vendas de 2018, caindo de 123 unidades para apenas 58 veículos emplacados até agora. A General Motors espera recuperar seu espaço com a versão reestilizada do Camaro, apresentada no Salão do Automóvel de São Paulo. Resta saber se o ritmo do Mustang será mantido no próximo ano ou se é apenas uma consequência da longa espera pelo carro no Brasil.
A marca chinesa é uma prova de como a situação pode mudar com marketing e boa administração. A Chery era apenas a 21ª fabricante mais vendida em 2017, com 3.734 unidades emplacadas ao longo do ano - um resultado tão baixo que fez a matriz vender a operação brasileira. O Grupo Caoa aproveitou a oportunidade e fechou um acordo para assumir a Chery no Brasil e ainda colocou o seu nome na empresa, formando a Caoa Chery.
Com investimento pesado, a Chery passou a ter comerciais na TV, jornais e internet, enquanto a rede de concessionárias mais que dobrou. Daí veio o lançamento do crossover Tiggo 2. Surtiu efeito, pois já emplacou 6.383 unidades desde janeiro e fez a marca quase dobrar o resultado de 2017, pulando para a 18ª posição do ranking. A fabricante deve crescer ainda mais em breve, com o lançamento do sedã Arrizo 5 e do SUV Tiggo 5x, ambos ainda em dezembro, prometendo mais dois SUVs para 2019: o Tiggo 7 e o Tiggo 8. Mesmo as fabricantes tradicionais estão preocupadas...
Desde que foi lançado, o Jeep Compass tem mostrado vendas surpreendentes. Liderou o segmento dos SUVs em 2017, vendendo mais até do que modelos menores e mais baratos. Se havia quem achasse que era algo temporário, 2018 mostrou que não é bem assim. O Compass não só manteve a liderança como ainda o fez quase de ponta a ponta, perdendo o primeiro lugar somente em março, quando o Honda HR-V vendeu mais de 5 mil unidades. Porém, o acumulado ainda é do Compass com folga, somando 50.517 unidades, quase 10 mil veículos a mais do que o HR-V.
E tudo indica que o Jeep médio irá continuar com este desempenho em 2018. Seus rivais diretos vendem muito menos. Os dois mais próximos são o Chevrolet Equinox e o Volkswagen Tiguan, ambos na casa das 4 mil unidades emplacadas desde janeiro - menos do que o Compass vende por mês. Só deve encontrar uma competição mais forte com a chegada do Ford Territory e do Volkswagen Tarek. Ambos serão produzidos na Argentina e estão previstos para 2020.
O crescimento dos SUVs compactos é tão forte que a liderança do segmento ainda não está definida. O Honda HR-V, que foi o campeão em 2017, agora vê sua posição ameaçada pelo Hyundai Creta. O modelo japonês está com 40.936 unidades, enquanto o coreano emplacou 38.886 carros. Poderia ser um respiro, só que o resultado da primeira quinzena de novembro mostra que o Creta emplacou 2.490 unidades, contra as 1.304 do HR-V. Na tabela de atualização diária da Fenabrave, o Creta está com 42.316 unidades emplacadas no acumulado do ano, apenas 583 unidades menos do que o rival. Essa decisão ficará para dezembro e será bem apertada.
E 2019 promete ser ainda mais disputado. O Nissan Kicks se estabeleceu na terceira posição com 38.447 veículos emplacados, superando o Jeep Renegade e suas 37.002 unidades. A Nissan diz que tem um limite de produção na fábrica de Resende (RJ) e que está trabalhando para flexibilizar a linha de produção, permitindo que faça mais unidades do SUV. E ainda veremos como se sairá o Volkswagen T-Cross, o primeiro utilitário compacto da empresa, que será lançado em abril de 2019.
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