A notícia de que a Ford irá desistir de sedãs e hatchbacks nos EUA, para focar em picapes, SUVs e crossovers, caiu como uma bomba. Muitos concessionários mostraram preocupação com a nova estratégia da empresa. O jornal The Detroit News, após conversar com alguns lojistas, falou com a fabricante, que explicou que ainda terá um carro barato para servir de entrada, só que ele terá um outro formato.
“Caber no bolso sempre será uma das promessas de nossa marca”, explica Jim Farley, presidente de mercados globais da Ford. “Ter um preço acessível para a maioria dos americanos ainda é importante. Nossa ambição é crescer nossa linha e estar em todas as faixas de preço. O que irá mudar é como será o visual desses carros.”
Para ilustrar sua explicação, Farley citou o EcoSport, recém-lançado nos EUA. Por lá, ele é vendido por US$ 19.995 (R$ 69.684). Está entre os US$ 17.950 (R$ 62.557) cobrados pelo Focus e US$ 22.215 (R$ 77.421) do Fusion mais barato. A marca ainda terá mais dois modelos, com a chegada do Focus Active, versão aventureira do hatch médio, e um pequeno SUV off-road ainda sem nome, ambos sem preço, mas que devem ficar na faixa abaixo dos US$ 25 mil.
Na visão de Farley, os gostos do mercado automotivo mudam a cada 10 a 15 anos. As peruas perderam espaço em muitos países para as minivans, que por sua vez foram superadas pelos sedãs. Agora é a vez dos SUVs e crossovers. “Os clientes querem espaço interno, é isso que puxa as vendas. No passado, eles queriam carros econômicos.” Outros executivos da Ford já comentaram que, com a melhoria na tecnologia, os SUVs estão muito mais eficientes do que há 10 anos.
Esta estratégia faz parte da visão de Jim Hackett, CEO da Ford, que revisou toda a operação da marca e tomou a decisão de investir no que dá dinheiro para a marca e “agir de modo decisivo nas partes que destroem seu valor.” E carros pequenos fariam parte disso. Analistas da UBS estimam que a Ford perde US$ 800 milhões por ano tentando vender compactos nos EUA – o Fusion conta como sedã compacto por lá.
Concessionários discordam. A reação geral tem sido de muita preocupação, como viram os sites The Detroit News e Automotive News. Chris Lemley, dono do Sentry Auto Group na região de Boston,d isse ao Auto News que a decisão é “uma reação exagerada e sem visão da mudança do mercado” e que “irá causar um dano à fabricante ao desperdiçar décadas de trabalho duro.” O concessionário ainda lembra que, há 10 anos, SUVs e picapes não vendiam bem por causa do preço do combustível e, se a Ford tivesse reagido da mesma maneira, hoje não teria modelos neste segmento.
Tim Hovik, dono da SanTan Ford na região de Phoenix, diz que a marca ainda precisa de um carro de entrada e entende que pode ser um outro tipo de veículo, desde que ele esteja lá com um preço convidativo. “Eu acho que veremos clientes que olharam mais para os preços do que se o veículo é um sedã.” Porém, Hovik diz que sua loja vendeu “muitos” Fusion.
Ainda não se sabe quais serão os planos de Hackett para outros mercados. Bob Shanks, diretor financeiro da Ford, disse ao Auto News que carros pequenos, “a maioria dos produtos da Lincoln” e algumas operações da fabricante em outros países estão entre os “destruidores de valores” citados por Hackett. Shanks diz que a Ford está estudando todas as opções possíveis para estes problemas.
Sua operação na América do Sul continua no negativo, embora tenha uma recuperação. O relatório do primeiro trimestre do ano marca um prejuízo de US$ 149 milhões, o sexto trimestre consecutivo de perdas na região. Porém, aponta uma melhora não só na indústria, como no aumento do volume de vendas. Em novembro de 2017, analistas da J.P. Morgan revelaram que, após uma reunião com Farley e Shanks, a Ford estaria considerando a saída seletiva de alguns mercados, incluindo a América do Sul, pelo que considera “perdas inaceitáveis” na região. Na época, a Ford divulgou uma nota afirmando que a “América do Sul continua a ser importante para nossos negócios e continuaremos a trabalhar para equilibrar sua operação”. A fabricante trabalha no lançamento do Ka reestilizado, que receberá o novo motor 1.5 de 137 cv usado no EcoSport, assim como o câmbio automático de 6 marchas. Será apresentado primeiro na versão aventureira Freestyle.
Fotos: Divulgação
Fonte: The Detroit News e Automotive News
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