Quando o Renault Kwid nacional chegou às lojas, causou alvoroço. Afinal, estreava como o segundo carro mais barato do país e ainda com "apelo SUV" no estilo. Logo em seu primeiro mês cheio de loja, setembro, emplacou 10.356 unidades e tornou-se o segundo colocado no ranking mensal. Mas a euforia durou pouco. Caiu para quase 4 mil no mês seguinte e, até o fim do ano, não passava das 3 mil unidades mensais. Teria o subcompacto chegado ao seu número real de vendas ou existiria algo de errado por trás dos panos? Fomos investigar.
Além das vendas em baixa, começaram a aparecer outros indicativos de que havia problemas. Veio o recall de todas as unidades por dois motivos diferentes: o tubo de combustível que podia rachar, causando vazamento; e os freios que poderiam trincar. Isso explicaria a queda nos emplacamentos. A Renault poderia estar segurando as entregas enquanto buscava uma solução e arrumava os carros no estoque. O anúncio do recall foi feito no final de novembro, mas então surgiram outros problemas.
Basta acessar a página da marca no Facebook para encontrar muitas críticas de pessoas que compraram o carro, agendaram o recall e ele não foi feito por falta de peças. Também há gente que comprou o Kwid na pré-venda e, quase cinco meses após o lançamento, ainda não recebeu o carro. As reclamações são ainda maiores em páginas como grupos de donos do Kwid ou no site do Reclame Aqui.
Na época do lançamento, a Renault dizia que entregaria todos os carros da pré-venda até 30 de novembro. Não é o que mostram as reclamações dos clientes. “O prazo dado no momento na compra era novembro. Chegando o mês de novembro, meu pai contactou a fábrica e então eles disseram que seria só para dezembro. Passou o natal, ligamos novamente. Então eles disseram que constava no sistema a entrega para janeiro ou fevereiro”, diz uma das reclamações no Reclame Aqui, feita por uma pessoa que comprou duas unidades em Florianópolis (SC).
Com todos os atrasos para cumprir os prazos da pré-venda, adquirir um Kwid neste momento é um exercício de paciência. Há poucos dias, o site da Renault indicava que a versão topo de linha Intense estava indisponível. Agora, o usuário é direcionado para uma nova página da Loja Renault. Nela, é possível escolher todas as versões, com um porém. O prazo de entrega previsto para as configurações Life e Zen é de 48 dias, enquanto a da Intense é de 28 dias. Ou seja, quem comprar agora só deve receber o carro no início de março, na melhor das hipóteses.
Esse atraso nas entregas também acontece na Argentina, como relata a imprensa local. A Renault mandou suspender as entregas enquanto resolvem o recall de todas as unidades que já foram entregues no país.
Fazer recall é algo comum. Um carro é feito com peças de diversos fornecedores diferentes e podem ocorrer erros na produção ou nas especificações do projeto. É melhor que um veículo passe por uma convocação para arrumar um defeito do que a fabricante esconder a falha. O problema é quando o recall é anunciado e não pode ser feito pela falta de peças.
Quem finalmente recebeu o Kwid após um longo prazo de entrega, em muitos casos, agora está sem o carro porque ele foi retido na oficina. O motivo é sempre o mesmo: faltam peças para realizar o serviço. Dependendo da concessionária, a lista de espera é longa. Um cliente de Salvador (BA) diz no Reclame Aqui que está com o carro parado na mesma concessionária desde 27 de novembro – ou seja, há 50 dias.
Nem mesmo quem mora em Curitiba está a salvo da falta de peças, apesar de São José dos Pinhais (PR), cidade onde está a fábrica da Renault, fazer parte da Grande Curitiba. Clientes também reclamam que tentam agendar o serviço nas concessionárias e elas dizem que não têm previsão de quando terão estoque para fazer a substituição das peças.
Junte o recall com a demora nas entregas e fica claro que tem algo errado acontecendo com o Kwid. Mas seria na produção ou com algum fornecedor? Segundo a Renault, não é o caso: “Não há problemas quanto ao fornecimento de peças para o recall. Eventualmente pode haver maior procura em determinada concessionária, o que pode alongar o agendamento para a realização do recall. Todos os casos de nosso conhecimento estão sendo tratados. Quanto ao prazo de entrega, nosso objetivo é atender no prazo todos os pedidos conforme compromisso assumido no ato da reserva em nosso site. Informamos, ainda, que estivemos em férias coletivas no período de 26/12/2017 a 15/01/2018. A produção foi retomada ontem (16) e está regularizada”.
Considerando que todos os problemas sejam resolvidos após a volta da produção, ainda resta a dúvida: qual é o verdadeiro potencial de vendas do Kwid? Vai vender 10 mil unidades num mês como antes? "O número de emplacamentos em setembro foi consequência de um estoque acumulado de três meses de produção sendo entregue de uma vez só", explicou a assessoria de imprensa da Renault ao Motor1.com. Mas, ao mesmo tempo, gente da Renault diz que a produção pode chegar a 10.000 unidades mensais. Com a paralisação das entregas por causa do recall e depois as férias coletivas, levará mais alguns meses para sabermos do que o Kwid realmente é capaz no mercado.
Fotos: reprodução e divulgação
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