Quando lançado em 2015, o Renegade foi a melhor forma de a Jeep inaugurar a fábrica de Goiana (PE) e fixar raízes em solo brasileiro. Por muito tempo, brigou pela liderança do segmento com o Honda HR-V, virou objeto de desejo dos compradores e movimentou as concessionárias da marca que, até então, só lidavam com modelos importados como Grand Cherokee, Wrangler e Cherokee.
Mas o cenário começou a mudar no segundo semestre de 2016, quando ele ganhou a companhia de um irmão maior, o Compass, que oferece porta-malas mais generoso e desempenho mais convincente com motor flex. Mais que isso, chegaram novos SUVs compactos, como Nissan Kicks e Hyundai Creta. Desde então, o Renegade não conseguiu repetir os bons desempenho de vendas dos dois primeiros anos de vida. No acumulado até julho, está atrás do HR-V e Compass, além da ameaça do Creta, cada vez mais próximo.
E como mudar isso? A Jeep não fez grandes mudanças na linha 2018 do Renegade, apenas investindo em novas versões e cores. A estratégia é atacar uma área em que os concorrentes não conseguem e, até então, o Renegade ficava tímido, sem mostrar suas garras: as versões turbodiesel com tração 4x4 para o público que precisa de autonomia e força do motor diesel e do sistema de tração na 4 rodas para uso mais intenso. Honda HR-V e cia não possuem versões para esse tipo de público.
A primeira ação foi reforçar a linha turbodiesel. Sai de cena a versão Sport 2.0, entra em seu lugar a Custom, mais barata, além da adição da Limited 2.0, com os mesmos itens da versão até então exclusiva com motor 1.8. Outra novidade é a série especial Night Eagle. As versões já existentes, Longitude e Trailhawk, tiveram seus preços reduzidos, apesar dos custos do conjunto de motor, câmbio e tração importados.
Mas antes mesmo da divulgação oficial da linha 2018 com as novas versões, elas apareceram sem querer durante nossa visita à fábrica da Goiana (PE). Escondidas na área externa, serviram de reforço ao que a Jeep estava mostrando naquele dia a um grupo de jornalistas: eles querem que o Renegade volte a crescer por sua qualidade de construção, suficiente para encarar difíceis trajetos fora-de-estrada sem qualquer problema. Lá dentro, uma unidade com 60.000 km, cortada propositalmente em pontos estratégicos, mostrava a estrutura reforçada do SUV.
Há uma dupla função para esta estrutura reforçada. Em primeiro lugar, a segurança dos ocupantes. Na coluna B, no assoalho e em outros pontos, como na traseira, a resistência das soldas e metais é estudada para dobrar (e quebrar) de forma em que absorva a energia do impacto o suficiente para proteger as pessoas. Em uma mesma peça, podem ter dois ou mais tipos de metais, dobras, colas e soldas. Segundo a marca, apenas as concessionárias estão equipadas e capacitadas para fazer o reparo de funilaria sem prejudicar a qualidade, usando peças originais de reposição.
A segunda função é a resistência de torção. Para encarar qualquer obstáculo, o Renegade tem uma estrutura rígida, com pouca torção. Isso colabora com o trabalho da suspensão independente e da tração 4x4 eletrônica, com distribuição automática entre as rodas e blocante. E a mesma estrutura está nas versões 1.8 flex 4x2, o que explica o peso maior que o dos concorrentes, e também a qualidade de rodagem que o Renegade transmite ao motorista.
Dentro da fabrica, conhecemos as etapas de construção do Renegade. Na estamparia, prensas produzem toda a lataria que, em uma área de soldas, se juntam para dar origem ao carro sem nenhuma interferência humana. Com tudo feito por robôs, há níveis de tolerância quase zero para o encaixe das peças. O mesmo vale na hora da montagem do carro e na pintura, feita em uma área isolada, também com pouca interferência humana. Constantemente, unidades são retiradas da linha de montagem para aferição de qualidade e, segundo a Jeep, poucas vezes foram necessários ajustes.
A mecânica é a mesma, sem alterações: motor 2.0 turbodiesel Multijet, 4 cilindros, com 170 cv (3.750 rpm) e 35,7 kgfm de torque já a 1.750 rpm. O câmbio automático de 9 marchas tem a primeira bem curta e trabalha em conjunto com a tração 4x4 automática. Dependendo de um dos modos selecionados (são de 4 a 5, dependendo da versão), ela será usada para, por exemplo, sair de um atoleiro ou subir uma ladeira íngreme. Assistente de subida e descida fazem parte do pacote de itens de série do Renegade 2.0.
A estratégia é boa. Se as versões 1.8 flex sofrem com uma concorrência pesada, o melhor é seguir um caminho que só o Renegade pode com suas versões a diesel. Voltar a ser líder? Difícil por este caminho, mas ao menos poderá frear a queda.
Fotos: Divulgação e autor
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